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Freixo anuncia saída do PSOL e atribui mudança às eleições de 2022

Decisão de deixar a legenda à qual era filiado desde 2005 veio após resistência partidária a alianças eleitorais fora da esquerda

Deputado Marcelo Freixo durante sessão de votação para presidente da Câmara dos Deputados. (Valter Campanato/Agência Brasil)

Deputado Marcelo Freixo durante sessão de votação para presidente da Câmara dos Deputados. (Valter Campanato/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 11 de junho de 2021 às 08h44.

Última atualização em 11 de junho de 2021 às 08h53.

O deputado federal Marcelo Freixo, pré-candidato ao governo do Rio, entregou nesta semana sua carta de desfiliação do PSOL e vai migrar para o PSB ainda neste mês. O GLOBO apurou que Freixo já iniciou a montagem de sua equipe de campanha, que inclui egressos dos governos Fernando Henrique (PSDB) e Temer (MDB), para debater e formular seu futuro programa de governo.

“Hoje, encerro esse ciclo com a certeza de que apesar de não estarmos no mesmo partido seguiremos na mesma trincheira de defesa da vida, da democracia e dos direitos do povo brasileiro. Essa decisão foi longamente amadurecida e tomada após muito diálogo com dirigentes nacionais e estaduais, a quem agradeço pelas reflexões fraternas que compartilhamos”, escreveu Freixo em sua conta do Twitter. 

Sem aval do PSOL para formar alianças fora da esquerda, Freixo adiantou sua desfiliação, em comum acordo com a cúpula nacional da sigla — caso contrário, precisaria aguardar a abertura da janela partidária em março de 2022, sob risco de perda de mandato.

Na quinta-feira, Freixo se reuniu no Rio com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com os deputados federais Alessandro Molon (PSB) e Jandira Feghali (PCdoB). O PT vem acenando com um apoio a Freixo ao governo, abrindo mão de candidatura própria no estado. Na reunião, Lula defendeu uma frente ampla para as eleições estaduais e, principalmente, federal. Fez acenos ao PSB e evitou críticas ao PDT, sigla do possível candidato à Presidência Ciro Gomes.

Freixo estava filiado ao PSOL desde a fundação do partido, em 2005. Pela sigla, elegeu-se deputado estadual por três mandatos seguidos (2006, 2010 e 2014). Em 2018, foi o segundo deputado federal mais votado do Rio, com 342 mil votos, atrás apenas de Hélio Lopes (PSL-RJ).

Em entrevista ao GLOBO em abril, Freixo havia anunciado intenção de ser candidato ao governo do Rio em 2022 encabeçando uma “frente ampla contra o bolsonarismo”, que deveria incluir nomes como o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foram seus adversários em eleições anteriores. Hoje, Lula e Paes devem almoçar no Palácio da Cidade, sede da prefeitura. Embora cogite apoiar Freixo, o prefeito tenta emplacar a candidatura de Felipe Santa Cruz, atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Aliança fora da esquerda

Desde que Freixo defendeu uma aliança com lideranças de centro em 2022 como única possibilidade de construir uma candidatura viável no estado, o PSOL vem reiterando posicionamentos contrários a alianças fora da esquerda, o que acelerou a desfiliação do deputado.

Na articulação de sua pré-campanha, Freixo tem conversado com o economista André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real e assessor especial da Presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Resende também foi presidente do BNDES. A ideia de Freixo é Resende seja um dos redatores de seu plano econômico. Recentemente, o economista participou de debates com Freixo no qual ambos criticaram o teto de gastos, implementado na gestão de Michel Temer (MDB).

O grupo de Freixo também inclui, segundo a colunista Berenice Seara, do Extra, o ex-ministro Raul Jungmann, que esteve à frente de duas pastas (Defesa e Segurança Pública) no governo Temer, e o economista Carlos Gadelha, pesquisador da Fiocruz. Outro que conversou recentemente com Freixo foi o marqueteiro Renato Pereira, que atuou em campanhas do MDB fluminense, como do próprio Paes e dos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, e se tornou delator na Lava-Jato.

Além de Freixo, que tem manifestado apoio à candidatura presidencial de Lula, o PSB espera receber outros aliados do petista. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é o que tem as conversas mais adiantadas e pode fazer a migração ainda neste mês.

Outras lideranças do PCdoB, como a ex-deputada Manuela D’Ávila (RS) e o deputado federal Orlando Silva (SP), também estudam se filiar ao PSB. Internamente, o PCdoB admite a retomada do diálogo por uma futura fusão com o PSB, paralisado antes das eleições municipais de 2020. Preocupado com a cláusula de barreira em 2022, o PCdoB tenta aprovar no Congresso a “federação partidária”, uma espécie de coligação mais rígida, que poderia ajudar o partido a bater o piso de 2% dos votos em âmbito nacional em 2022 — condição para continuar tendo acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV.

Em resolução publicada no último mês, a direção do PCdoB disse que buscará “alternativas” caso a federação não seja aprovada na reforma eleitoral, cujo relatório inicial deve ser publicado até o fim do mês. Nesse cenário, e diante da dificuldade em concluir uma fusão a tempo das eleições de 2022, a migração de lideranças para o PSB passou a ser vista como sinalização de boa-fé entre as duas legendas. O movimento permitiria a nomes como Dino e Manuela maior estrutura para disputar cargos majoritários.

Jandira Feghali, um dos nomes do PCdoB que trabalha para evitar a fusão com o PSB, sentou-se junto a Molon e Freixo no encontro de ontem com Lula, que contou com a bancada do PT na Câmara e a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann. Lula ficará no Rio até sábado, quando deve ter um encontro com artistas.

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