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Foco é Previdência e não há clima para impeachment, diz professor da FGV

Na avaliação de Marco Antônio Carvalho Teixeira, o que conta para a deflagração de um processo de impeachment é mais a dimensão política do que a legal

Jair Bolsonaro: Oposição fala em impeachment por "quebra de decoro" devido às declarações polêmicos do presidente, mas cientista político descarta possibilidade em meio a reforma da Previdência (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

Jair Bolsonaro: Oposição fala em impeachment por "quebra de decoro" devido às declarações polêmicos do presidente, mas cientista político descarta possibilidade em meio a reforma da Previdência (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de julho de 2019 às 13h19.

Última atualização em 30 de julho de 2019 às 14h42.

São Paulo — As legendas que fazem oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro, como o Partido dos Trabalhadores (PT), irão se reunir nesta terça-feira, 30, para discutir uma ação conjunta contra a mais recente declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, que insinuou saber como teria morrido Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, desaparecido na ditadura, na década de 70.

Apesar de algumas dessas lideranças, como o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), falarem em impeachment, porque o presidente teria quebrado o decoro, não há clima para que isso seja colocado em prática neste momento, avalia o cientista político e professor da FGV Marco Antônio Carvalho Teixeira.

Segundo o cientista político, as condições para um eventual pedido de impeachment de Bolsonaro não estão dadas porque o Parlamento - a Câmara dos Deputados - está no meio da apreciação de uma das principais medidas do governo, a reforma da Previdência.

"Não há clima para se discutir impeachment neste momento porque o Congresso está apreciando a mudança nas regras da aposentadoria e o foco do mercado é a reforma da Previdência", destacou. Para ele, o foco do mercado nessa medida "é a variável que segura os setores e equilibra o jogo do poder".

De acordo com Carvalho Teixeira, o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) só ocorreu porque o mercado "pulou fora" e deixou de apostar em sua gestão. "O mercado não está preocupado com o custo político (de uma medida como o impeachment), mas sim nos reflexos nos negócios. No momento, o que está em jogo (para girar novamente a roda da economia) é a reforma da Previdência em curso no Congresso Nacional."

Na sua avaliação, o que conta para a deflagração de um processo de impeachment, é mais a dimensão política do que a legal, incluindo a tese de quebra de decoro, por exemplo.

Isolamento

Mesmo que não estejam dadas as condições para um eventual pedido de impeachment por parte dos partidos de oposição, o presidente pode começar a perder apoio de importantes aliados, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), avalia Teixeira.

"Bolsonaro começa a perder confiança de vários segmentos, estão sobrando apenas os fanáticos fundamentalistas que vê no presidente o modelo da sociedade que imaginaram", diz o cientista político, citando o tucano João Doria que criticou nesta segunda-feira, 29, a fala do mandatário sobre Fernando Santa Cruz.

"É inaceitável que um presidente da República se manifeste da forma que se manifestou em relação ao pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Foi uma declaração infeliz", disse Doria.

Desde que assumiu o Palácio dos Bandeirantes, Doria se mostrou um dos principais apoiadores do presidente da República, saindo muitas vezes em sua defesa, como no caso da reforma da Previdência, em tramitação no Congresso Nacional.

Mas, na segunda, Doria argumentou que não poderia silenciar diante da declaração de Bolsonaro sobre um desaparecido no regime militar: "Não posso silenciar diante desse fato. Eu sou filho de um deputado federal cassado pelo golpe de 1964 e vivi o exílio com meu pai, que perdeu quase tudo na vida em dez anos de exílio pela ditadura militar", afirmou.

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