Favela da Rocinha tem cinco mortes causadas pelo coronavírus
As informações constam do último balanço da Secretaria estadual de Saúde; entre os mortos, há quatro homens e uma mulher
Agência O Globo
Publicado em 8 de abril de 2020 às 12h17.
Uma das comunidades mais adensadas do Rio de Janeiro, a Rocinha, na Zona Sul do Rio, registra cinco mortes provocadas pelo Covid-19 . As informações constam do último balanço da Secretaria estadual de Saúde, divulgado no fim da tarde desta terça-feira. No painel Coronavírus, a favela tem seis casos confirmados, incluindo os cinco óbitos. Dos mortos, quatro são homens e uma mulher.
A doença também já causou três mortes em Manguinhos, na Zona Norte cujas áreas residenciais são predominantemente em favelas. O estado teve 89 mortes e 1.688 casos confirmados do novo coronavírus, de acordo com boletim da Secretaria estadual de Saúde divulgado nesta terça-feira. Há ainda 78 óbitos em investigação.
O painel informa apenas a faixa etária dos mortos. Na Rocinha, dois tinham entre 60 e 69 anos e um, entre 50 e 59 anos. No caso das duas outras mortes confirmadas, uma pessoa tinha entre 40 e 49 anos e a quinta estava na faixa entre 30 e 39 anos. As autoridades de Saúde, por questões éticas e para preservar as famílias, não identificam os mortos.
Nos últimos dias, uma imensa faixa com a expressão "Fique Dentro de Casa" pode ser visualizada da Autoestrada Fernando Mac Dowell (antiga Lagoa-Barra) na passarela que liga São Conrado à Rocinha. Faixas também podem ser vistas em ruas da favela. O líder comunitário William de Oliveira diz que a comunidade está no escuro devido à incerteza de quem possam ter sido as vítimas e também em relação a um monitoramento efetivo das famílias:
"A sensação é que muitas pessoas ainda não acreditam na gravidade da situação. A comunidade, no início, até aderiu à quarentena, com o fechamento de boa parte do comércio. Mas a situação mudou muito. As pessoas começaram a se manifestar publicamente contra o isolamento. Boa parte das atividades foi retomada. O que os moradores precisam discutir agora é qual o caminho a escolher. O risco de perder a própria vida pela epidemia ou se isolar, aumentando a possibilidade de aumentar o nível de desemprego e endividamento da comunidade. A morte não é reversível".
Em março, uma reportagem do GLOBO mostrou a dificuldade de isolamento social em comunidades do Rio de Janeiro. Uma pesquisa da ONG Casa Fluminense, com base em dados do IBGE, mostra que cerca de 300 mil domicílios na Região Metropolitana do Rio têm mais de três pessoas dividindo um único quarto. Só na Rocinha, essa é a realidade de 11% dos domicílios contatos nas estatísticas - o equivalente a 2.565 imóveis.
Relatos se multiplicam
Os relatos de casos na Rocinha se multiplicam. A manicure Fabíola Mariano, de 35 anos, diz que a família ainda espera os resultados dos exames que podem confirmar se o tio, o aposentado Antônio Edson Mesquita Mariano, que tinha 67 anos, realmente morreu vítima do coronavírus, em 30 de março. Ela conta que a tia Maria Luisa, viúva de Antônio, e o primo Alexandre, filho do aposentado, também estão internados em hospitais públicos do Rio com sintomas da doença. Segundo Fabíola, o teste de Alexandre já confirmou o resultado e ele precisou ser sedado e faz uso de um respirador.
O atestado de óbito de Antônio Edson traz a informação que ele morreu de suspeita de Covid-19, mas a confirmação ainda depende do resultado do exame laboratorial. Ele era diabético e hipertenso. A manicure conta que o aposentado foi cremado na semana passada, cerca de uma semana antes de os dois parentes serem internados.
O caso de Antônio foi publicado semana passada pelos jornais O GLOBO, Extra e no site da revista Época. O a aposentado teve os primeiros sintomas em 25 de março. Com a progressão de tosse, dor de cabeça e febre alta, foi à UPA da comunidade. Na ocasião, Mariano foi diagnosticado com pneumonia, segundo o relato da família. Nos dias seguintes, o quadro se agravou até que na madrugada do dia 30, ele foi levado pelos filhos para o CER Leblon. No mesmo dia, morreu,
O quadro de Mariano piorou na madrugada de segunda-feira, dia 30. Antônio José levou o pai para o CER do Leblon.
"O coronavírus é um risco grande na Rocinha. E afeta não só quem vive em casas menores.Meu tio morava no Largo do Boiadeiro com a familia mem uma casa com vários cômodos", contou Fabíola.
A manicure prossegue:
"No começo da pandemia, a comunidade ficou com medo. Depois, começou a relaxar os cuidados não acreditando da gravidade do problema. Agora, com o relato de possíveis mortes, começou a tomar precauções de novo".
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