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Expansão territorial da milícia pode estar por trás do assassinato de Marielle Franco

Parlamentar foi morta a tiros, em 14 de março de 2018, quando voltava de uma agenda. No ataque, seu motorista, Anderson Gomes, também acabou morto

Agência o Globo
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Publicado em 24 de março de 2024 às 09h29.

O ex-PM Ronnie Lessa, em sua delação, apontou os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Neste domingo, uma operação da PF prendeu três suspeitos: Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro. A delação de Lessa também revelou qual foi a motivação para o crime, ocorrido em março de 2018. A disputa por terras na Zona Oeste do Rio, motivada pela expansão da milícia, pode estar por trás do crime.

O ex-PM está preso desde março de 2019 e é apontado como autor dos disparos que mataram a parlamentar e seu motorista, Anderson Gomes, que dirigia o carro no momento do ataque.

Segundo Lessa, Marielle teria virado vítima por defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio (Iterj) e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.

Os mandantes do assassinato apontados por Lessa buscariam, segundo ele, a regularização de um condomínio inteiro na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, sem respeitar o critério de área de interesse social, ou seja, o dono tinha renda superior à prevista em lei. O objetivo seria obter o título de propriedade para especulação imobiliária.

Marielle foi executada em 14 de março de 2018. Ao deixar a Casa das Pretas, na Rua dos Inválidos, no Centro do Rio. Ao passar pelo bairro Estácio, na região central da cidade, o carro em que estava foi alvo de tiros disparados por um veículo que emparelhou. A vereadora e o motorista Anderson morreram ao serem atingidos. A assessora da parlamentar, Fernanda Chaves, é a única sobrevivente.

Eleita vereadora pelo PSol, com mais de 46 mil votos, Marielle estava há apenas 1 ano e 3 meses no cargo, ao assumir o mandato em janeiro de 2017, antes de ser executada.

Quem mandou matar Marielle Franco?

A Polícia Federal deflagra uma operação neste domingo para cumprir mandados de prisão contra os supostos mandantes dos homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Entre os alvos da ação, estão o deputado federal Chiquinho Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil do Rio.

O deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil), irmão do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão, exerceu o cargo de secretário municipal de Ação Comunitária da prefeitura do Rio até fevereiro deste ano, quando pediu exoneração após surgirem os primeiros rumores sobre sua possível participação no crime.

Chiquinho ficou apenas quatro meses à frente da pasta antes de reassumir seu mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília. O fato de ele ter o mandato de deputado federal seria a motivação para que a delação de Lessa tenha sido enviada para o Supremo Tribunal Federal, onde foi homologada na última terça-feira.

Domingos Brazão foi citado no curso das investigações anos antes de aparecer nas delações de Élcio de Queiroz e de Ronnie Lessa, a mais recente. Em 2019, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) acesso à investigação do assassinato da vereadora e de seu motorista para apurar se havia "indícios de autoria intelectual" por parte de Domingos. O pedido foi para apurar se ele teria usado a estrutura de seu cargo público para obstruir as investigações do caso. À época, ele classificou de "absurda" a acusação.

Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão convivem há tempos com polêmicas e denúncias em torno de suas atividades político-empresariais no Rio. Ao longo de seus 25 anos de vida pública, Domingos coleciona envolvimento em suspeitas de corrupção, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e até homicídio.

O ex-chefe da polícia Rivaldo Barbosa tomou posse do cargo em março de 2018. Ele foi escolhido para o cargo pelo general Richard Nunes, na época secretário de Segurança Pública e o interventor federal general Walter Souza Braga Netro. No período, o Rio estava sob intervenção federal.

Foi Rivaldo quem levou ao delegado da DH a informação de que os delegados da Polícia Federal teriam conseguido achar uma suposta testemunha do caso, o então policial militar Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha. Mas a versão era falsa, como ficou confirmado, 10 meses depois, numa apuração paralela da Polícia federal, que ficou conhecida como "investigação da investigação".

Delação homologada

Na última terça-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciou que a delação do ex-policial militar Ronnie Lessa — réu nos homicídios da vereadora e de Anderson e apontado como o responsável pelos disparos —, foi homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

"Esta colaboração premiada traz elementos importantíssimos que nos levam a crer que brevemente teremos a solução do assassinato da vereadora Marielle Franco", declarou Lewandowski durante seu pronunciamento à imprensa em Brasília, na última terça-feira.

Apontado como o autor dos disparos, Lessa está preso desde 2019 e vinha negando a participação no crime. Ele resolveu falar aos investigadores depois que o também ex-PM Élcio de Queiroz fechou colaboração, assumiu que estava dirigindo o veículo usado no homicídio e indicou Lessa como responsável pelo planejamento e execução de Marielle. Isso ocorreu depois que a PF entrou no caso e deflagrou operações para prender outros envolvidos no caso no último ano.

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