Presidente Jair Bolsonaro: a desaprovação ao seu governo voltou ao nível de junho de 2020 (Sérgio Lima/Getty Images)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 26 de março de 2021 às 07h25.
Sem doses suficientes para vacinar o primeiro grupo prioritário contra a covid-19, e com a demora para liberar a nova rodada de auxílio emergencial, a desaprovação do governo do presidente Jair Bolsonaro chegou a 49%. A marca é a pior desde junho do ano passado, quando atingiu 54%. Naquele momento, a liberação da primeira rodada do auxílio ainda estava no começo e uma pequena parcela da população havia recebido o benefício.
A aprovação caiu 1 ponto percentual em relação à rodada publicada duas semanas atrás, e ficou em 25%. Os que nem aprovam e nem desaprovam somam 22%.
Os dados são da mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une Exame Invest Pro, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. O levantamento ouviu 1.255 pessoas entre os dias 22 e 24 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Clique aqui para ter acesso ao relatório completo.
“A gestão do presidente Bolsonaro segue sendo mais bem avaliada pelo segmento evangélico [36% de avaliação positiva] e pior avaliada pelos entrevistados com ensino superior [63% de desaprovação] e pelas mulheres [53%]. A combinação de piora da pandemia com o ritmo de vacinação lento e com a falta de auxílio emergencial tem contribuído para um resultado negativo da avaliação presidencial”, explica Maurício Moura, fundador do IDEIA.
A pesquisa EXAME/IDEIA também questionou os brasileiros sobre a velocidade da vacinação. Para 77%, a aplicação das doses está atrasada. Houve um avanço de 10 pontos percentuais nesse número em comparação ao dado registrado na rodada de 15 de janeiro.
O Brasil atualmente é o 15º país que mais vacinou no mundo, comparando valores proporcionais. De acordo com dados da Universidade de Oxford, 12 milhões de pessoas receberam pelo menos a primeira dose, o que corresponde a 5,7% da população. O país está atrás de Israel (60%), Reino Unido (42%), Chile (31%), e dos Estados Unidos (25%).
“Há uma frustração coletiva enorme em relação à vacinação. Essa sensação é maior entre as pessoas de maior renda [79% de quem ganha mais de 5 salários mínimos], mais escolarizados e de capitais/regiões metropolitanas [passando de 80% nos dois recortes]”, diz Maurício Moura.
Se no começo de fevereiro 17% da população acreditava que seria vacinada somente em 2022, este número subiu para 28% na pesquisa publicada em 26 de março. Para 8%, a aplicação deve ocorrer ainda neste mês, 10% acreditam que em abril, e 13% esperam ser vacinados ainda neste semestre. Somam 20% aqueles que não sabem quando vão receber uma dose.
Sem dar datas, o novo ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga, se comprometeu na última quarta-feira, 24, a acelerar em pelo menos três vezes a quantidade de pessoas vacinadas contra a covid-19 diariamente. Ele disse que esta meta será cumprida em um “curto prazo”.
“Nós temos condições de vacinar muitas pessoas. Nesse momento, vacinamos 300.000 pessoas todos os dias, e o governo assume o compromisso de, em curto prazo, aumentar em pelo menos três vezes essa velocidade, para 1 milhão de vacinas todo dia. É uma meta plausível. Temos capacidade de fazer até mais, mas não quero me comprometer com algo que depende de mais vacinas”, disse ele em entrevista coletiva.
Liberada pelo Congresso Nacional, a nova rodada de auxílio emergencial deverá começar a ser paga em abril, ainda que o calendário ainda não tenha sido divulgado. Cerca de 45 milhões de famílias vão receber o valor médio de 250 reais que serão pagos em quatro parcelas.
De acordo com a pesquisa EXAME/IDEIA, 52% dos brasileiros pretendem pedir o novo auxílio emergencial. Deste grupo que vai solicitar o benefício, 69% afirmam que este valor, abaixo dos 600 reais pagos em 2020, não atende às necessidades básicas para evitar a circulação nas ruas e ajudar no isolamento social.
“Do grupo que apoia o governo, metade pretende pedir o auxílio. E para completar, dos que são potenciais candidatos a receber o benefício, dois terços acreditam que 250 reais não atendem às necessidades. Isso quer dizer que há espaço para uma frustração de parte dos atuais apoiadores do governo e isso pode ter impacto negativo na população. Nesse contexto, o auxílio vai ajudar mais na manutenção dos atuais patamares de avaliação do governo do que um eventual crescimento”, avalia o fundador do instituto IDEIA.