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Ex-assessor de Cabral diz que vendeu "metade" de iate a ele

Empresário Paulo Gonçalves teria lavado dinheiro para Cabral, que, segundo a Procuradoria da República, era líder de um esquema de corrupção milionário

Sergio Cabral: ex-assessor emprestou seu nome e de suas empresas para ocultar bens adquiridos pelo ex-governador com dinheiro sujo (foto/Getty Images)

Sergio Cabral: ex-assessor emprestou seu nome e de suas empresas para ocultar bens adquiridos pelo ex-governador com dinheiro sujo (foto/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de maio de 2017 às 12h43.

Rio de Janeiro - O empresário Paulo Fernandes Magalhães Pinto Gonçalves, ex-assessor do ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), e que seria seu "laranja", confirmou nesta terça-feira, 2, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, que alugou uma sala comercial para uso de Cabral, no Leblon, zona sul do Rio, e também que vendeu para ele "metade" do iate Manhattan Rio, avaliado em R$ 5 milhões. Gonçalves afirmou que as transações foram feitas "informalmente", e que parte do pagamento referente à lancha foi feita em espécie.

Gonçalves teria lavado dinheiro de corrupção para Cabral, que, segundo a Procuradoria da República no Rio, liderou um esquema de corrupção milionário em conluio com grandes empreiteiras enquanto governador do Rio, de 2007 a 2014.

Ele emprestou seu nome e de suas empresas para ocultar bens adquiridos pelo ex-governador com dinheiro sujo, conforme revelaram as investigações.

O iate, que ficava ancorado no Condomínio de luxo Portobello, no Litoral Sul Fluminense, onde se localiza uma mansão à beira-mar de Cabral, seria o mais valioso deles.

O empresário contou que alugou a sala no Leblon, a pedido de Cabral, quando ele deixou o governo, em 2014, e que contratou três funcionários para trabalharem com ele. Confirmou que o custo total chegou a R$ 1 milhão.

O juiz Bretas questionou o motivo da "generosidade", e Gonçalves argumentou que acreditava no projeto político de Cabral e que, por isso, atendeu à sua solicitação.

O magistrado perguntou ainda por que o ex-governador não arcou com a locação do próprio bolso, e o depoente afirmou que "talvez ele não tivesse recursos para isso".

"Eu acreditava no trabalho dele como governador. Acho que ele fez um bom governo. Achava que ele ia ser presidente da República. Era um projeto político ambicioso. Ele me pediu, eu ajudei. Eu sempre quis participar da política como meio de transformação. Sempre fui idealista. Nunca me preocupei com a parte financeira. Era um sonho trabalhar na política e trabalhar com ele", declarou o empresário, que disse ainda ter conhecido Cabral em 1996. Ele disse ter passado a trabalhar com ele na Assembleia Legislativa do Rio, quando Cabral era deputado estadual.

O empresário contou ainda que foi restituído por Cabral quanto ao aluguel. E que não sabia explicar por que os pagamentos pelos "favores" não eram feitos de forma "oficial".

"O senhor não achava estranho?", arguiu o juiz. "Eu achava. Era um pedido que ele me fazia", respondeu. Quanto ao helicóptero de sua família que teria sido usado por Cabral, ele disse que o ex-governador nunca o utilizou.

Gonçalves está em prisão domiciliar, em seu apartamento, em Ipanema, zona sul do Rio, e estaria negociando delação premiada (o que não é confirmado por sua defesa).

As tratativas para o acordo de colaboração lhe renderam ameaças dos cúmplices, e o empresário, preso em Bangu 8 em novembro do ano passado, como Cabral, conseguiu dois meses depois ter a prisão preventiva convertida em domiciliar pelo juiz Bretas. O magistrado concluiu que sua integridade física estava em risco.

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