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"EUA quer Brasil do seu lado no século XXI", diz especialista

Pesquisador da USP afirma que visita de Obama ao Brasil não é formalidade, e sim mudança de mentalidade política

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 19 de março de 2011 às 06h36.

São Paulo - A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil passa longe de ser simples formalidade diplomática. Para o pesquisador do Grupo de Análise de Conjunturas Internacionais (Gacint) da Universidade de São Paulo Geraldo Forbes, o evento marca uma mudança na política norte-americana.

"Não é qualquer visita, ela significa muito mais. E está sendo tratada de uma maneira muito barata, porque Obama não vem aqui pelo pré-sal, ou pelo etanol, ou qualquer outra razão econômica. Os Estados Unidos estão revendo quais serão seus aliados no século XXI, e o Brasil é um dos mais valiosos", diz Forbes.

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O pesquisador explica que, nas últimas décadas a relação entre os dois países não passou para muito além das formalidades. "Dizemos que somos aliados deles há 60 anos, mas isto era só no discurso", afirma. Segundo Forbes, esta relação mais superficial se estendeu por toda uma era em que os Estados Unidos estavam isolados no topo do mundo.

Depois do fim da Guerra Fria, os Estados Unidos emergiram como o árbitro da política internacional e o dono da moeda mais valiosa do mundo. Neste período, suas conversas com o Brasil foram "apenas simpáticas, coisa de bons vizinhos". O panorama mudou. Nos últimos 10 anos os norte-americanos sofreram desgastes por causa de seus esforços contra grupos extremistas do Oriente Médio. E beijaram a lona no fim da década, ao entrar na pior recessão de sua história recente.

Agora os americanos veem um grupo de potências se erguer e fazer sombra - ainda que discreta - em sua liderança global. "É interessante para os Estados Unidos ter aliados entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Destes, qual escolher? Rússia, Índia e China são mais propensos a rivais. O Brasil é o país que os americanos querem ter ao lado neste século", diz Forbes.

Outro país

Segundo Reginaldo Nasser, professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o interesse dos Estados Unidos tem a ver com o fato de que o Brasil de hoje nem de perto lembra o de 20 anos atrás. Com uma economia mais sólida e um papel cada vez mais relevante no cenário internacional, o Brasil é visto como um ponto de equilíbrio político em toda a América Latina.

"Nesta última década na América Latina houve uma 'maré vermelha', com eleição de presidentes de uma ala um pouco mais radical da esquerda, e isso valorizou a posição do Brasil. Os Estados Unidos viam uma esquerda irresponsável representada por Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa. E havia a postura responsável do Brasil, com o papel de estabilizador das relações interamericanas", diz Nasser.

Além disso, de acordo com o professor, episódios como a intervenção brasileira no Haiti, corresponderam às expectativas dos Estados Unidos. "No início do envio de tropas, os norte-americanos estavam com suas atenções direcionadas para o Iraque. E o Brasil cumpriu seu papel de líder ao ajudar a estabilizar crises como esta na América Latina."

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