Estádios vazios e obras inacabadas: o legado da Copa
Estádios milionários vazios, obras prometidas e não entregues. Um ano depois, vejo o que ficou de legado da Copa do Mundo para os brasileiros
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2015 às 08h36.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h41.
São Paulo - Quando a construção e reforma de 12 estádios espalhados pelo Brasil foi anunciada, a justificativa era de que modernizariam o futebol brasileiro e atrairiam mais torcedores para os campeonatos regionais. As novas arenas – que, de fato, são modernas – custaram cerca de 8,4 bilhões de reais, 184% a mais do que o estimado inicialmente. Apesar dos enormes investimentos, a maioria dos estádios só viu futebol e arquibancadas lotadas na Copa mesmo. Para a população brasileira, no entanto, a maior expectativa que se criou com a vinda da Copa do Mundo para o país foi a do legado que seria deixado. As principais promessas eram novos e mais modernos aeroportos e soluções para o caos que é o transporte público nas grandes cidades. Das 82 obras que foram inicialmente propostas na Matriz de Responsabilidades da Copa, apenas 20 foram concluídas e entregues para a população. Segundo cálculo do jornal Folha de S. Paulo, 2,5 milhões de pessoas ficaram sem as novidades prometidas. Veja nos slides a seguir, o que ficou de legado para o Brasil um ano depois da Copa.
Em pelo menos quatro estádios, a alcunha de elefantes brancos já estava predestinada antes mesmo do início da construção. Isto porque Natal, Manaus, Cuiabá e Brasília não têm um campeonato de futebol forte o suficiente para atrair torcedores para os mais de 40 mil lugares disponíveis nas arquibancadas. Hoje, estas caríssimas arenas recebem de festas de crianças a encontros corporativos. Em Natal, por exemplo, a Arena das Dunas, recebeu apenas 63 partidas de futebol desde o final da Copa do Mundo, com média de público de 9 mil torcedores. No mundial, nos quatro jogos que o estádio recebeu, 159 mil pessoas ocuparam suas arquibancadas. Atualmente, a administração da Arena afirma que o local está preparado para receber de um jantar a dois até um show para 45 mil pessoas. Em Cuiabá, a situação é ainda pior. A Arena Pantanal, que custou R$ 626 milhões para ser construída, hoje está abandonada.
Além disso, a conta para manter em funcionamento um estádio de padrão Fifa é multo alta – custo este que é repassado aos clubes que tentam levar suas partidas para lá. A Arena Pernambuco, em Recife, recebe em média quatro partidas por mês. O estádio tem um contrato para receber todos os jogos do Náutico, assim como uma série de partidas do Sport e do Santa Cruz. Mesmo assim, a conta não fecha e a Arena acumula prejuízo de R$ 54,1 milhões desde que entrou em operação. Mesmo para grandes clubes fica difícil bancar a conta. O Maracanã, por exemplo, palco da grande final da Copa, registrou prejuízo de R$ 77,2 milhões em 2014. A conta não fecha porque é preciso que a casa fique cheia de torcedores. O estádio recebeu 65 jogos desde o final da Copa, mas a média de público ficou em 26,2 mil torcedores. Isso significa que o público ocupa em média um terço dos lugares disponíveis. Em compensação, o estádio já recebeu mais de cem eventos desde a reabertura após a Copa. Entre eles, festas de aniversários, casamentos, bar mitzvah e até piqueniques.
Na época da Copa, muito se criticou o fato de as obras de mobilidade urbana - as mais aguardadas e as que poderiam de fato ter impacto na vida dos brasileiros - não terem ficado prontas a tempo. Um ano depois, pouca coisa mudou. Na Matriz de Responsabilidades havia 44 obras previstas. Destas, 20 ainda não ficaram prontas. Há cidades que não concluíram sequer uma obra. É o caso de Cuiabá e Fortaleza, que tinham três e seis projetos previstos, respectivamente. Por outro lado, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre entregaram tudo o que estava previsto.
A primeira Matriz de Responsabilidades para a Copa tinha 82 projetos. Mais da metade, no entanto, foi retirada por não ter condições de ser concluída a tempo do mundial. O monotrilho que ligará o aeroporto de Congonhas à estação Morumbi de trem, em São Paulo, foi um desses casos. A obra, que é de responsabilidade do governo estadual, ainda não foi entregue. Segundo levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo, o número de brasileiros que foram afetados pelas obras prometidas e não concluídas chega a 2,5 milhões. Entre as obras previstas, estavam soluções mais simples como os BRTs (transporte rápido por ônibus, na sigla em inglês), e outras de maior capacidade de transporte de passgeiros, como os VLTs (veículo leve sobre trilho) e os monotrilhos. Durante a Copa, para que os torcedores não tivessem que lidar com o transporte superlotado, foram colocados em ação planos alternativos. Muitas cidades tiveram feriados decretados e linhas especiais foram postas em circulação.
Antes fosse só a imagem do futebol brasileiro pós sete a um que tivesse sido afetada pela Copa do Mundo de 2014. Se durante o torneio a imprensa internacional foi só elogios para a organização, agora, faz questão de mostrar todo o legado negativo que o mundial deixou no país. É verdade que a visão do brasileiro como povo simpático e festeiro não foi abalada. Pelo contrário, deste ponto de vista, a moral do país só ganhou pontos com os estrangeiros. Apesar da expectativa negativa, tudo funcionou bem e se chegou a dizer que o torneio foi a melhor Copa de todos os tempos. No entanto, os enormes gastos do governo, o atraso na entrega das obras e o alto custo para a população continuam chamando a atenção da imprensa estrangeira. No mês passado, a rádio pública americana NPR disse que, embora a festa da Copa tenha acabado faz tempo, o Brasil ainda está lidando com uma ressaca em forma estádios elefantes brancos e obras de infraestrutura inacabadas. Tudo isso ao mesmo tempo em que o país lida com escândalos de corrupção, ajuste fiscal e se prepara para receber os Jogos Olímpicos no ano que vem.
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