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Especialistas pedem pactuação das polícias com comunidades

Organizações de direitos humanos e especialistas em segurança pública declararam apoio hoje à política de pacificação em áreas conflagradas e às UPPs

Viatura de UPP: "Está no momento de a polícia buscar forças dentro das comunidades, e não fora, para isolar os traficantes. É sentar todo mundo e falar a verdade, reconciliar", diz cientista social (Tânia Rego/Agência Brasil)
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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2014 às 16h35.

Rio de Janeiro - Poucas horas depois de ataques a unidades de Polícia Pacificadora ( UPPs ), que deixaram dois policiais militares feridos, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, especialistas em segurança pública e organizações de direitos humanos declararam apoio hoje (21) à política de pacificação em áreas conflagradas e cobraram participação das comunidades na política de segurança. Na avaliação dos especialistas, o reforço de tropas federais militares, solicitado pelo governador Sérgio Cabral à presidente Dilma Rousseff, é um equívoco, e distanciará a população da polícia.

Ao participar do evento Diálogos de Segurança Cidadã, organizado pelo Instituto Igarapé, uma das coordenadoras do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, a cientista social Silvia Ramos avaliou que a polícia tem que buscar forças, um “esteio”, nas comunidades para enfrentar os atentados criminosos e isolar traficantes de drogas.

"Está no momento de a polícia buscar forças dentro das comunidades, e não fora, para isolar os traficantes. É sentar todo mundo e falar a verdade, reconciliar. É [a polícia] dizer 'compreendemos que vocês nos odeiam. Mas nós também tememos porque toda vez que a gente aborda alguém nossa viatura é apedrejada'”, sugeriu Silvia. Para ela, “não é que a comunidade prefira o bandido, é que detesta ser tratada como bandido, esculachada pela PM - como se fala na favela”.

Da organização não governamental Observatório de Favelas, Jaílson de Souza e Silva disse que não há outra saída para as UPPs que não seja a reconciliação. “As opções são: aprofundar a militarização, o que significará inevitavelmente a lógica da guerra, com mais violência e, consequentemente, o fracasso dessa política, ou a a lógica da UPP social, com a população no controle da ação da polícia e na regulação do espaço público ”.


Na avaliação de Jaílson, a polícia não pode substituir os criminosos na organização do território nas comunidades. “A população gosta da polícia. Prefere a polícia que o tráfico. O problema é que a polícia não se vê como polícia, como provedora de segurança pública. Se vê como exército de ocupação e vê a polução local como o exército do inimigo”, analisou. Os impasses com os moradores, nas comunidades, decorrem dessa lógica e impedem a pactuação, completou.

“Sem nenhuma mudança [na política], a polícia vai ficar sozinha no embate contra os traficantes e a população, do outro lado, sofrendo os efeitos dessa guerra”, reforçou o coordenador do Observatório de Favelas, que atua na complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio.

Diante dos ataques frequentes a bases das UPPs e a policiais, um dos maiores especialistas na política de combate ao tráfico, o sociólogo Michel Misse condenou o uso de tropas militares, que põe em risco a relação com a comunidade, e disse que os ataques são isolados. “Não há uma insurreição contra todas as UPPs. O programa das UPPs é bem sucedido, militarizar é um retrocesso”, disse Misse, que é diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O grande problema da UPP foi substituir o tráfico no controle do espaço público”.

O coronel Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior Administrativo da PM do estado do Rio, que participou da criação das unidades, concorda com Misse. Para o ex-policial, há mais acertos que erros nas UPPs. Para ele, uma das explicações para os atentados contra as bases em favelas é a ausência de políticas públicas para assegurar os direitos dos moradores. “Outros atores, além da polícia, precisam atuar, para que o sistema funcione. A polícia tem papel fundamental, mas não funciona sozinha”, disse ele, que é formado em direito e mestre em antropologia.

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Rio de Janeiro - Poucas horas depois de ataques a unidades de Polícia Pacificadora ( UPPs ), que deixaram dois policiais militares feridos, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, especialistas em segurança pública e organizações de direitos humanos declararam apoio hoje (21) à política de pacificação em áreas conflagradas e cobraram participação das comunidades na política de segurança. Na avaliação dos especialistas, o reforço de tropas federais militares, solicitado pelo governador Sérgio Cabral à presidente Dilma Rousseff, é um equívoco, e distanciará a população da polícia.

Ao participar do evento Diálogos de Segurança Cidadã, organizado pelo Instituto Igarapé, uma das coordenadoras do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, a cientista social Silvia Ramos avaliou que a polícia tem que buscar forças, um “esteio”, nas comunidades para enfrentar os atentados criminosos e isolar traficantes de drogas.

"Está no momento de a polícia buscar forças dentro das comunidades, e não fora, para isolar os traficantes. É sentar todo mundo e falar a verdade, reconciliar. É [a polícia] dizer 'compreendemos que vocês nos odeiam. Mas nós também tememos porque toda vez que a gente aborda alguém nossa viatura é apedrejada'”, sugeriu Silvia. Para ela, “não é que a comunidade prefira o bandido, é que detesta ser tratada como bandido, esculachada pela PM - como se fala na favela”.

Da organização não governamental Observatório de Favelas, Jaílson de Souza e Silva disse que não há outra saída para as UPPs que não seja a reconciliação. “As opções são: aprofundar a militarização, o que significará inevitavelmente a lógica da guerra, com mais violência e, consequentemente, o fracasso dessa política, ou a a lógica da UPP social, com a população no controle da ação da polícia e na regulação do espaço público ”.


Na avaliação de Jaílson, a polícia não pode substituir os criminosos na organização do território nas comunidades. “A população gosta da polícia. Prefere a polícia que o tráfico. O problema é que a polícia não se vê como polícia, como provedora de segurança pública. Se vê como exército de ocupação e vê a polução local como o exército do inimigo”, analisou. Os impasses com os moradores, nas comunidades, decorrem dessa lógica e impedem a pactuação, completou.

“Sem nenhuma mudança [na política], a polícia vai ficar sozinha no embate contra os traficantes e a população, do outro lado, sofrendo os efeitos dessa guerra”, reforçou o coordenador do Observatório de Favelas, que atua na complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio.

Diante dos ataques frequentes a bases das UPPs e a policiais, um dos maiores especialistas na política de combate ao tráfico, o sociólogo Michel Misse condenou o uso de tropas militares, que põe em risco a relação com a comunidade, e disse que os ataques são isolados. “Não há uma insurreição contra todas as UPPs. O programa das UPPs é bem sucedido, militarizar é um retrocesso”, disse Misse, que é diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O grande problema da UPP foi substituir o tráfico no controle do espaço público”.

O coronel Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior Administrativo da PM do estado do Rio, que participou da criação das unidades, concorda com Misse. Para o ex-policial, há mais acertos que erros nas UPPs. Para ele, uma das explicações para os atentados contra as bases em favelas é a ausência de políticas públicas para assegurar os direitos dos moradores. “Outros atores, além da polícia, precisam atuar, para que o sistema funcione. A polícia tem papel fundamental, mas não funciona sozinha”, disse ele, que é formado em direito e mestre em antropologia.

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