Escola e saúde devem ter atuação direta na prevenção à Aids
Especialistas afirmam que a escola e a área de saúde precisam atuar mais para diminuir casos de Aids entre os jovens
Da Redação
Publicado em 1 de dezembro de 2014 às 16h56.
Brasília -Especialistas e representantes de organizações da sociedade civil e de governos discutiram hoje (1°) o aumento de casos de Aids entre os jovens no país.
A iniciação sexual precoce dos jovens e a falta de informação qualificada sobre a doença foram algumas das hipóteses levantadas.
Debatedores avaliaram que a escola e a área de saúde precisam atuar mais diretamente junto aos jovens para reverter esse quadro.
O gerente de Conteúdo do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, João Geraldo Netto, disse que uma das possibilidades para o crescimento no número de casos registrados entre jovens é a impressão que eles têm de que a doença não é mais uma grande ameaça.
Ele avalia também que o tema está perdendo espaço na mídia.
“A aids está sendo pouco discutida e ainda é uma doença que mata muita gente. Os jovens estão sendo mais afetados, e acredito que isso pode estar relacionado à falta de visão que eles estão tendo sobre a doença e ao fato de ter medicamentos com bons resultados. Mas ainda estamos pesquisando o que pode estar acontecendo”, disse.
Outra hipótese apontada por João Geraldo é que uma mudança na metodologia de notificação da doença, iniciada há um ano, pode ter aumentado o número de notificações, mas não de casos novos de contaminação entre os jovens.
O gerente de DST/Aids da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Sérgio D'ávilla, considera que atualmente os jovens têm acesso a muita informação, mas essa informação não se transforma necessariamente em educação.
Para D'Ávilla, a escola e a área da saúde tem papel importante em qualificar a informação sobre a prevenção à doença e promover o debate. “Um dos desafios pode ser potencializar essa capacidade de disseminar a informação, também, como um processo em que as pessoas possam sentar, discutir e refletir. A escola tem grande tarefa em puxar a discussão e abrir para a comunidade. A saúde também tem que ir à comunidade”.
O presidente da organização não governamental Elos, Evaldo Amorim, cobrou a elaboração de campanhas direcionadas ao público jovem.
“Precisamos saber fazer a comunicação com os jovens, temos um oceano de informações, mas comunicar com essa galera é o desafio. Como queremos fazer esse índice cair se não temos campanhas específicas voltadas a esse público específico?”, disse.
O psiquiatra e comunicador Jairo Bouer também avalia que é preciso ter uma mensagem direcionada aos jovens e questiona sobre o melhor canal de comunicação para atingir de forma eficaz esse público. “Estamos conseguindo falar com esse público, entrar nas escolas, naturalizar esse papo? Como vamos lidar com a informação para eles, por meio da televisão, das redes sociais?”.
Representando os jovens no debate, Pedro Mazzotti, da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, acredita que os relacionamentos pouco duradouros dos jovens com troca constante de parceiros sexuais e o uso de álcool e drogas são alguns dos fatores que podem contribuir para a ampliar os casos do HIV/aids entre os jovens. Ele também cobrou mais participação dos serviços de saúde e das escolas para a conscientização da população dessa faixa etária. “A escola não conhece o posto de saúde que está ao seu lado e não conhece as ações que ele tem para prevenção e combate a aids”.
A campanha lançada hoje pelo Ministério da Saúde tem como alvo o público jovem e estimula a prevenção, a testagem e o tratamento da aids. De acordo com dados do ministério, em 2004 foram notificados 3.453 casos de aids entre jovens de 15 a 24 anos. Em 2013, foram 4.414 notificações.
Levantamento divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo mostra que as notificações de casos de aids entre os jovens paulistas, com idade entre 15 e 24 anos, aumentaram 21,5% nos últimos sete anos.
Com o tema Por que a Aids Cresce entre os Jovens?, o debate ocorreu neste Dia Mundial de Luta contra a Aids, em Brasília, e foi promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com o objetivo de disseminar a importância da prevenção à aids e do diagnóstico precoce.
São Paulo - Criado em 1988, o Dia Mundial da AIDS é realizado em 1º de dezembro. A data é dedicada à união das pessoas na luta contra a doença .
Descoberta em 1981, a AIDS já matou quase 40 milhões de pessoas desde então e segue sem cura. A seguir, veja algumas das descobertas da ciência sobre o tema.
A AIDS foi descoberta em 1981 pelo Centro de Controle de Doenças de Atlanta e outros órgãos americanos, mas só ganhou esse nome em 1982. No Brasil, o primeiro caso da doença foi diagnosticado em São Paulo em 1982 - de acordo com dados do Ministério da Saúde.
O estágio mais avançado da doença causada pelo vírus HIV é chamado de AIDS (sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). A AIDS é caracterizada pela perda de capacidade do organismo de se defender de diversas doenças, causada pela ação do vírus no sistema imunológico - como explica o Ministério da Saúde.
O vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla em inglês) é o causador da AIDS. Ele fragiliza o sistema imunológico, responsável por defender o corpo de doenças. Curiosamente, o HIV é um vírus bastante sensível ao meio externo. De acordo com o Ministério da Saúde, ele sobrevive por apenas uma hora fora do organismo humano - tornando-se inativo rapidamente ao entrar em contato com agentes físicos (como o calor) ou químicos (como álcool).
Sexo vaginal, anal ou oral sem camisinha, uso de agulhas ou seringas contaminadas e transfusão de sangue com o vírus são algumas das formas de transmissão do HIV. De acordo com o Ministério da Saúde, a ocorrência delas varia de acordo com os grupos.
Em 2012, 86,8% dos casos de identificados entre mulheres decorreram de relações heterossexuais. Já entre os homens, 43,5% dos casos de contágio se deram por relações heterossexuais, 24,5% por relações homossexuais e 7,7% por relações bissexuais. Transmissões sanguíneas e outras causas foram responsáveis pelos casos restantes.
Febre e mal-estar estão entre os primeiros sintomas da AIDS. Depois deles, a doença passa por um período assintomático - que pode durar anos.
Chamada de sintomática, a fase seguinte da doença é caracterizada pela redução no número de glóbulos brancos T CD4. Geralmente entre 800 e 1.200 unidades por milímetro cúbico de sangue em adultos, ele pode cair para menos de 200 nessa estágio da AIDS - de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Essa alteração faz com que o paciente sofra com diarreia, suores noturnos e emagrecimento nessa fase da doença. Se não for devidamente tratada, a AIDS pode acarretar problemas como hepatite, pneumonia e câncer.
A AIDS é a doença infecciosa que mais mata pessoas no mundo. Desde sua descoberta, foram 40 milhões - segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Só em 2013, 1,5 milhão de pessoas foram vitimadas pela doença. Entretanto, o Brasil registrou uma queda de 13% no índice de mortalidade da doença entre 2001 e 2012.
Os antirretrovirais são medicamentos usados para impedir a multiplicação do vírus HIV no organismo da pessoa contaminada. Descobertos na década de 1980, esses remédios aumentam o tempo e a qualidade de vida dos pacientes com AIDS. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 300 mil pessoas recebiam antirretrovirais para tratar a doença em dezembro de 2012.
De acordo com o Ministério da Saúde, a distinção entre grupos de risco e grupos de não risco em relação a AIDS não existe mais. No começo da epidemia da doença, homens homossexuais, usuários de drogas injetáveis e outras categorias eram incluídas no grupo de risco da doença. Esses segmentos eram entendidos como mais vulneráveis ao contágio pela AIDS.
Como o vírus HIV passou a se espalhar entre outros grupos sociais, o Ministério da Saúde trabalha hoje com comportamentos de risco. Relações sexuais sem o uso de preservativos com pessoas infectadas e compartilhamento de seringas e agulhas são considerados comportamentos de risco.
Pacientes com o vírus da AIDS podem fazer sexo, mas sempre com camisinha. Segundo o Ministério da Saúde, o uso do preservativo evita a infecção por outras doenças sexualmente transmissíveis.
Além disso, a camisinha ajuda a impedir uma nova infecção pelo HIV, que aumenta a carga viral e a chance do vírus sofrer novas mutações - o que pode comprometer a eficácia do tratamento da AIDS.
O Ministério da Saúde adverte: o vírus HIV não é transmitido por meio de beijos. De acordo com o órgão, líquidos corporais como saliva, suor e lágrima reúnem apenas partículas virais não infectantes.
Cerca de 2 milhões de pessoas foram contaminadas pelo vírus da AIDS em 2013. O cálculo é da Organização Mundial da Saúde. Por dia, estima-se que 6 mil pessoas tenham contraído o HIV em 2013 - 68% delas na África Subsaariana.
Há mais de 720 mil pessoas soropositivas no Brasil. O dado é de um estudo que integra a campanha #AtitudeAbril. De acordo com esse levantamento, uma em cada cinco pessoas contaminadas pelo HIV no país não sabe que tem o vírus.
Entre 2001 e 2011, a taxa de pessoas contaminadas pelo vírus HIV para cada 100 mil habitantes no Sudeste caiu de 22,9 para 21 casos. O dado é do Ministério da Saúde. Esse mesmo índice cresceu nas regiões Centro-Oeste (14,3 para 17,5), Nordeste (7,5 para 13,9), Norte (9,1 para 20,8) e Sul (27,1 para 30,9 casos).
No Brasil, a maioria dos casos de AIDS está concentrado na faixa de idade que vai dos 25 aos 49 anos. Quem informa é o Ministério da Saúde. Ainda segundo o órgão, o único segmento etário em que a proporção de mulheres com o vírus HIV é maior que a de homens é aquele que vai dos 13 aos 19 anos.
Até junho de 2009, mais de 65 mil casos de AIDS foram registrados entre jovens brasileiros com idade entre 13 e 24 anos. Segundo o Ministério da Saúde, isso representa 11% do total de casos da doença registrados no país desde o começo da epidemia. Nessa faixa etária, 68% das transmissões do HIV se deram por meio de relação sexual.
Cerca de 240 mil bebês nasceram com o HIV no ano passado. Isso corresponde a uma nova criança com o vírus da AIDS a cada dois minutos, de acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS. Entretanto, o número vem caindo. Em 2001, 500 mil bebês nasciam com o vírus todo ano.
Um gel foi tema de um artigo publicado na revista Science. Aplicado na vagina 12h antes de uma relação sexual e 12h depois, o produto se mostrou capaz de reduzir em 54% os riscos de contaminação do vírus HIV num grupo formado por 800 mulheres africanas.
Num experimento realizado pela Agência Francesa de Pesquisas sobre a AIDS, 20 mil sul-africanos aceitaram passar por uma circuncisão. Após a cirurgia, os cientistas verificaram que a chance deles contraírem o HIV caiu 76%.
Além disso, a circuncisão também foi benéfica para as parceiras. Mais de 2 mil participaram do estudo. Entre aquelas que mantiveram relações sexuais apenas com homens circuncidados, o índice de infecção pelo vírus da AIDS foi menor do que no resto do grupo.
Preservativos masculinos foram alvo de um experimento realizado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. Na experiência, camisinhas esticadas foram vasculhadas por microscópios eletrônicos capazes de ampliar uma imagem 2 mil vezes. No fim, não foram encontrados poros que permitissem a passagem do vírus HIV. De acordo com pesquisadores, a maioria dos casos de rompimento de preservativos está ligada ao uso incorreto do produto – o que os credencia como método eficiente para evitar a contaminação pelo vírus da AIDS.
Pacientes com AIDS tem quatro vezes mais chances de ter morte cardíaca repentina do que a média. A descoberta é fruto de um estudo realizado por pesquisadoras da universidade da Califórnia.
Para esse trabalho, foram analisados 2.860 registros de óbito de pessoas com HIV. Após a análise, os cientistas constataram que ataques cardíacos fulminantes representavam 86% das mortes.
Crianças e adolescentes com HIV têm mais chances de apresentarem inflamações no ouvido e outros problemas de audição. A constatação é fruto de um estudo da universidade de São Paulo.
Entre os 106 indivíduos que participaram do trabalho, 35,8% apresentaram perda auditiva. De acordo com os pesquisadores, a ocorrência desse tipo de problema é um efeito colateral da medicação usada no tratamento da AIDS.
Pacientes diagnosticados com vírus HIV podem apresentar depressão e outros distúrbios de comportamento. O Ministério da Saúde recomenda atenção especial em relação a isso, já que problemas desse tipo também fragilizam o sistema imunológico. Casos de falta de concentração e memória fraca também podem estar ligados ao HIV e têm evolução variada.
O Ministério da Saúde recomenda a prática regular de exercícios físicos para pacientes com AIDS. De acordo com o órgão, esse hábito estimula o sistema imunológico e alivia o estresse - entre outros benefícios. Porém, antes de partir para as atividades físicas, o paciente deve consultar um médico.
A coleta de sangue é o método usado para detecção de infecção pelo vírus HIV. Com uma gota do líquido, testes disponíveis no Brasil conseguem fornecer o resultado dentro de 30 minutos. Esse tipo de exame é gratuito na rede pública de hospitais, de acordo com o Ministério da Saúde.
O corpo humano demora, pelo menos, 30 dias para começar a produzir anticorpos anti-HIV quando é infectado pelo vírus da AIDS. Esse período é chamado pelos especialistas de janela imunológica.
De acordo com o Ministério da Saúde, a janela imunológica é importante porque os exames para identificar a infecção pelo vírus HIV detectam justamente a presença desses anticorpos. Assim, os testes podem apresentar um resultado errado se forem feitos durante esse período.
Por isso, recomenda-se que pessoas que façam o exame durante a janela imunológica repitam o procedimento 30 dias depois para confirmar o resultado.
Segundo o Ministério da Saúde, alguns fatores podem interferir na detecção do vírus HIV e gerar resultados falso-positivos. Artrite reumatoide, uma infecção viral aguda ou a presença de tumores malignos no organismo são alguns desses fatores.
Cientistas da universidade da Califórnia desenvolveram um novo tipo de tratamento para o HIV. A técnica é baseada em versões menores e inofensivas do vírus, capazes de competir com a versão normal do HIV. Um dos benefícios desse tipo de tratamento seria a redução da carga viral em pacientes infectados. A técnica ainda está em desenvolvimento.
O hematologista Gero Huetter é formado pela universidade de Berlim. Em 2006, ele começou a atender Timothy Ray Brown, portador do HIV. Após submeter Brown a um tratamento baseado em quimioterapia e transplantes de medula, Huetter conseguiu eliminar o vírus da AIDS do organismo do americano. A técnica não pode ser considerada um caminho para a cura da AIDS porque depende do transplante de medulas com um tipo de mutação rara para gerar esse resultado.