Sede da Petrobras no Rio de Janeiro (Sergio Moraes/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 12 de dezembro de 2014 às 10h12.
São Paulo - Iniciada em março, e com diversos desdobramentos, a Operação Lava Jato da Polícia Federal pode se tornar um quebra-cabeça indecifrável para quem tenta entender o esquema de corrupção da Petrobras.
Nesta quinta-feira, o Ministério Público denunciou 36 pessoas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras. Entre elas, estão 22 executivos de grandes empreiteiras, o doleiro Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal. Todos foram denunciados pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Veja a seguir seis respostas que vão ajudar a entender o emaranhando de informações da Operação Lava Jato.
1- Como começou a operação?
Arquivo/Agência Brasil
A operação foi deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março deste ano, com o objetivo de desarticular um esquema de lavagem de dinheiro.
A pista que deu início à operação foi a atuação de uma cada de câmbio situada num posto de gasolina em Brasília, que inspirou o nome da operação.
Segundo a PF, os grupos investigados realizavam operações financeiras de mais de R$ 10 bilhões.
Na época foram apreendidos R$ 5 milhões em dinheiro, 25 carros de luxo, joias, quadros e armas.
Ao longo das investigações, a polícia chegou à suspeita de que o esquema envolvia a Petrobras e partidos políticos.
2 – Como funcionava o esquema na Petrobras?
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Segundo as investigações, a Petrobras contratava empresas para prestar serviços como construção de obras e fornecimento de materiais.
Essas empresas, em especial grandes empreiteiras, firmavam com a estatal contratos superfaturados. O dinheiro excedente era então repassado a doleiros, lobistas e partidos políticos.
Em abril, a Polícia Federal fez buscas e apreendeu documentos na sede da Petrobras no Rio. A ação marcou o início da segunda fase da Operação Lava Jato. Em maio, a Justiça decretou a quebra do sigilo bancário da estatal.
3 – Quem foi preso no esquema?
Nacho Doce/Reuters
Dentre os primeiros presos na operação está o doleiro Alberto Youssef, apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, também foi detido ainda em março, sob suspeita de destruir e ocultar documentos.
A PF chegou a Costa por ele ter recebido um jipe Land Rover de Youssef. Costa também é investigado devido à compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), sob suspeita de superfaturamento.
Após acordo de delação premiada, Paulo Roberto Costa cumpre prisão domiciliar em casa.
No dia 14 de novembro, a Polícia Federal fez uma mega ação e prendeu diversos suspeitos de envolvimento do esquema. As prisões marcaram a sétima fase da operação.
Foram detidos o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e executivos de grandes empreiteiras, como OAS, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. Parte dos executivos foi solta após depoimentos.
O empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, se entregou à polícia alguns dias depois. Baiano é apontado como lobista do PMDB e um dos suspeitos de participar do esquema de corrupção.
4 – Quais empresas estão envolvidas?
Agência Petrobras
Nesta quinta-feira (11), o Ministério Público Federal de Curitiba ofereceu denúncia contra 36 pessoas investigadas pela Operação Lava Jato.
Dentre elas estão executivos de seis empreiteiras: Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, OAS e UTC.
Outras três empresas foram investigadas pela PF, mas não tiveram executivos denunciados. São elas: Odebrecht, Iesa e Queiroz Galvão.
Segundo a Polícia Federal, as nove empresas investigadas têm R$ 59 bilhões de reais em contratos com a Petrobras.
Dentre os executivos presos na operação estão o presidente da Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini, o diretor da UTC, Ricardo Ribeiro Pessoa, o presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, e o vice-presidente da Engevix, Gerson Almada.
5 - Qual o papel da delação premiada no caso?
Valter Campanato/ABr
Ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
Após negar, em depoimento à CPI da Petrobras, que houvesse corrupção na estatal, o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa aceitou fechar acordo de delação premiada com os procuradores da Operação Lava Jato.
A delação premiada é um acordo pelo qual o suspeito de cometer crimes se compromete a colaborar com as investigações e denunciar outros integrantes da organização criminosa em troca de benefícios, como redução da pena.
A partir deste acordo, Costa passou a afirmar que diversos políticos teriam recebido dinheiro desviado da estatal. Costa já teria citado cinco partidos: PT, PMDB, PP, PSDB e PSB.
Em setembro, um mês após o acordo de Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef também aceitou o acordo de delação premiada.
Dois executivos da empresa Toyo-Setal também fecharam acordo de delação premiada. Poucos dias depois, a própria empresa acertou um acordo de delação com o Ministério Público Federal.
A delação agiliza o trabalho dos investigadores e facilita a busca de provas que comprovem o esquema. No entanto, há críticas de que as delações são usadas para confirmar indícios que o Ministério Público não tem com provar por si só. A confiabilidade do que é dito pelos suspeitos também é questionada.
6 – Quem são os políticos citados até agora?
André Vargas (sem partido-PR)
Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados
Deputado André Vargas (sem partido-PR)
A apuração da PF trouxe à tona indícios de ligação entre Alberto Youssef e o deputado federal pelo Paraná André Vargas, na época filiado ao PT.
Em janeiro, o parlamentar viajou para João Pessoa (PB) em um jatinho emprestado pelo doleiro. Vargas afirmou ter pago pelo combustível.
Pressionado, o deputado renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara e se desfiliou do PT.
No dia 10 de dezembro, a Câmara dos Deputados aprovou a cassação do mandato do parlamentar por quebra de decoro. Com a cassação, Vargas poderá ficar inelegível por oito anos.
Luiz Argôlo (SDD-BA)
As investigações da PF indicam que o deputado federal pela Bahia Luiz Argôlo (SDD) também tinha relação com Alberto Youssef. De acordo com a polícia, o doleiro teria bancado a compra de bezerros para o político.
Em outubro, o Conselho de Ética da Câmara aprovou parecer que pede a cassação do mandato de Argôlo.
O relatório ainda precisa ser votado pelo plenário da Casa, e tudo indica que isso não será feito até o fim do ano. Como Argôlo não conseguiu se eleger novamente, ele ficaria livre da cassação.
Fernando Collor (PTB-AL)
Em julho, a Justiça do Paraná encaminhou ao STF (Supremo Tribunal Federal) o que podem ser indícios de uma suposta relação entre o doleiro Alberto Youssef e o senador Fernando Collor (PTB-AL).
A Operação Lava Jato encontrou comprovantes bancários no escritório de Youssef que beneficiariam o senador. Na época, o juiz Sérgio Moro ressaltou que é "prematura" a conclusão de que os depósitos teriam natureza criminosa. Como Collor tem foro privilegiado, o caso só pode ser analisado pelo STF.
Políticos citados em delação
Outros políticos teriam ainda sido citados em depoimento de delatores. A suspeita é que eles tenham recebido dinheiro do esquema de corrupção, especialmente para financiamento de campanha.
De acordo com o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, 70 nomes já apareceram nas investigações e delações premiadas e estão agora em análise no STF (Supremo Tribunal Federal).
Dentre os nomes já citados pela imprensa estão o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB- RN), o líder do PT no Senado Humberto Costa (PT-PE), o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP), o tesoureiro nacional do PT João Vaccari Neto, a ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann e o ex-senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), já morto.
Os políticos negam envolvimento no esquema. O senador Humberto Costa disse que coloca à disposição das autoridades a quebra de seus sigilos bancário, telefôncio e fiscal.
Agora veja o que o MP descobriu sobre a corrupção na Petrobras.