Empresário Victor Garcia Sandri sobre Guido Mantega: "Meu relacionamento com ele não permitiria uma conversa dessas. É uma pessoa muito digna. Mandaria me prender" (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2015 às 06h23.
Brasília - O empresário italiano Victor Garcia Sandri negou que tenha atuado para emplacar conselheiros e fraudar processo no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
Ele alegou que o processo de nomeação no órgão segue uma liturgia que não permite influências como a descrita no relatório do MPF. "O meu relacionamento com o Mantega não permitiria uma conversa dessas. É uma pessoa muito digna. Mandaria me prender", declarou.
"Nunca tive autonomia para colocar alguém no Carf", acrescentou.
O empresário afirmou que as quebras de sigilo vão demonstrar que não houve pagamento de propina de sua parte no "tribunal" da Receita: "Prisão perpétua se paguei ou recebi algo de alguém".
Sandri disse ainda que não é amigo de Mantega. Explicou que o conhece desde a época em que fizeram negócio e mantêm um relacionamento "casual".
No carnaval de 2007, segundo ele, Mantega apenas aceitou um convite para jantar em sua casa. "Não tem amizade. Tem respeito", ressaltou. "Nem tenho o telefone dele."
Relatório do Ministério Público Federal (MPF) sustenta que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega nomeou integrantes do Carf para ajudar um empresário "amigo" a fraudar um processo em tramitação no órgão - espécie de "tribunal" que avalia débitos de grandes contribuintes com a Receita Federal.
Os indícios colhidos pela Procuradoria da República no Distrito Federal embasaram decisão da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, que na última quarta-feira determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-ministro - ele chefiou a Fazenda de março de 2006 a dezembro do ano passado.
Também foram ordenadas as mesmas medidas em relação à Coroado Administração de Bens, empresa de consultoria e negociação de imóveis em nome do petista. A decisão, do juiz Vallisney de Souza Oliveira, ordena a abertura dos dados entre janeiro de 2011 e outubro deste ano.
Ao pedir as quebras, o MPF se baseou em trocas de mensagens e interceptações telefônicas entre os envolvidos no esquema de corrupção do "tribunal da Receita", investigado na Operação Zelotes.
O objetivo é, a partir dos dados, avaliar se houve eventual recebimento de "vantagem indevida" por Mantega, o que configuraria a prática de crime de corrupção passiva.