Agentes da Polícia Federal durante a sétima fase da Operação Lava Jato (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2015 às 23h03.
São Paulo - Em 2010, quando era deputado estadual do Rio, o atual prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PT), foi autor de um projeto de resolução que concedeu título de beneméritos do Estado a dois executivos, hoje alvos da Operação Lava Jato: Ricardo Pessoa, da UTC, e o presidente licenciado da Transpetro, Sérgio Machado.
O empreiteiro foi preso em novembro de 2014 por suposta participação no esquema de corrupção e propina na Petrobrás.
A UTC, administrada por Pessoa, doou R$ 1,3 milhão para a campanha de Neves à Prefeitura de Niterói, nas eleições de 2012. A quantia representa 16% dos cerca de R$ 7,9 milhões captados pelo candidato no pleito daquele ano.
Ricardo Pessoa é acusado de presidir o 'clube vip' que cartelizava obras na estatal petrolífera.
Na noite de 12 de novembro de 2014, a Polícia Federal interceptou um telefonema entre o prefeito de Niterói, na região metropolitana do Rio, e o empreiteiro. Dois dias depois, Pessoa foi preso preventivamente na sétima fase da Operação Lava Jato, batizada de Juízo Final. Na ligação, Pessoa chama o prefeito petista de 'meu chefe'. Os dois combinam um almoço em um restaurante de luxo. "Está tudo certo, amanhã conversamos pessoalmente", conclui o prefeito petista.
O projeto de resolução de Neves na Assembleia Legislativa do Rio é datado de 17 de novembro de 2010. O texto ressalta que Pessoa, nascido em Salvador (BA), é formado em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal da Bahia, com especialização em Administração de Negócios. O título foi dado em 8 de dezembro do mesmo ano.
"A retomada de negócios, a modernização e expansão da atividade naval e offshore fazem com que a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) preste justa homenagem a personagens históricos que elevam a dignidade, seriedade e o compromisso com a qualidade de trabalho", assinala o projeto. "Trabalha há mais de 30 anos no setor de construção naval e offshore e atualmente exerce o cargo de Diretor Geral da UTC Engenharia. Ex - Presidente da ABEMI - Associação de Empresas de Engenharia e Construção Industrial e Conselheiro da ONIP - Organização da Indústria Nacional de Petróleo."
Na ocasião, Rodrigo Neves destacou também a atuação do presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Ele foi, segundo o site da Assembleia Legislativa do Rio, o principal homenageado da sessão. Recebeu o título de cidadão do Rio de Janeiro e a Medalha Tiradentes, principal comenda do Estado.
"Acompanhamos a luta do Sérgio, na Transpetro, desde 2004, quando falávamos de uma indústria que os governos anteriores ao do presidente Lula não acreditavam ser viável. O Sérgio insistiu e tornou realidade a recuperação da indústria naval brasileira, e sobretudo a fluminense", disse Rodrigo Neves, no evento em 2010.
Citado na Operação Lava Jato, Machado está afastado da Transpetro desde 3 de novembro do ano passado, quando pediu a primeira licença do cargo. O pedido já foi prorrogado por três vezes. O mais recente é válido até 30 de março de 2015. Afilhado político do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Machado estava à frente da subsidiária de logística da Petrobras há 11 anos e sofria forte pressão para deixar a estatal.
No início de outubro, em depoimento à Justiça Federal, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, réu na Lava Jato, disse que recebeu R$ 500 mil em dinheiro das mãos de Machado, como parte de um esquema de pagamento de propina envolvendo contratos da estatal. Costa afirmou que recebeu o dinheiro no apartamento do agora presidente licenciado da Transpetro, em 2009 ou 2010.
Na sessão, a Alerj prestou homenagem a outros executivos, considerados personalidades da indústria naval do Estado.
A Comissão de Fábrica do Estaleiro Eisa, representada por Luiz de Oliveira, e a Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav) receberam Moção de Congratulação e Louvor pela atuação no retomada do setor naval.
O prefeito de Niterói reafirmou nesta quinta-feira, 26, que não sabia de irregularidades praticadas por Ricardo Pessoa, por Sérgio Machado ou por qualquer um dos homenageados. Ele reiterou que seu contato com o executivo da UTC era institucional.