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Em meio à crise, centenas de novos incêndios são declarados na Amazônia

As cifras oficiais mostram que 78.383 incêndios florestais foram registrados no Brasil neste ano, o pior registro para esse período desde 2013

Queimadas: os incêndios na maior floresta tropical do mundo provocaram um protesto mundial (Ueslei Marcelino/Reuters)

Queimadas: os incêndios na maior floresta tropical do mundo provocaram um protesto mundial (Ueslei Marcelino/Reuters)

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AFP

Publicado em 24 de agosto de 2019 às 15h40.

Manaus — Centenas de novos incêndios continuam sendo declarados na Amazônia brasileira, mostram dados oficiais neste sábado, em meio ao clamor mundial que levou o presidente Jair Bolsonaro a mobilizar as Forças Armadas para combatê-los.

Os incêndios na maior floresta tropical do mundo provocaram um protesto mundial e concentraram a atenção da cúpula do G7 em Biarritz (França).

Em um sobrevoo, na sexta-feira, por uma vasta área de densos bosques de Rondônia, jornalistas da AFP viram múltiplos focos de incêndio ao longo de vários quilômetros.

Na capital, Porto Velho, várias pessoas afirmavam no sábado que a mistura de nuvens e neblina sobre a cidade é na realidade a fumaça procedente das chamas.

"Estou muito preocupada com o meio ambiente e a saúde", disse Delmara Conceição Silva, babá de 43 anos.

"Tenho uma filha com problemas respiratórios e ela sofre mais com as queimadas", declarou à AFP.

As cifras oficiais mostram que 78.383 incêndios florestais foram registrados no Brasil neste ano, o pior registro para esse período desde 2013, o que os especialistas atribuem ao avanço do desmatamento (o fogo é usado para limpar as áreas já desmatadas, abrir caminhos ou preparar a terra de cultivo).

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 1.663 incêndios foram declarados entre quinta e sexta-feira no Brasil, mais da metade deles na Amazônia, o maior dos seis biomas do país e lar de mais de 20 dos 210 milhões de habitantes do Brasil.

No início desta semana, Bolsonaro insinuou que as ONGs poderiam ser as responsáveis pelos incêndios para chamar a atenção contra ele, depois de o governo ter cortado seus fundos, o que provocou uma onda de críticas nas redes sociais e nas ruas.

Milhares de pessoas protestaram no Brasil e na Europa na sexta-feira e novas manifestações foram convocadas para este fim de semana.

"Vamos avaliar a ajuda"

Os dados chegam um dia depois de Bolsonaro autorizar por decreto o emprego das Forças Armadas na Amazônia, inclusive em zonas indígenas, para ajudar no combate aos incêndios.

Em um discurso em rede nacional, advertiu que seu governo terá "tolerância zero" com os crimes ambientais.

Em meio às críticas geradas pela gestão de Bolsonaro, o presidente americano, Donald Trump, ofereceu ajuda ao aliado para lutar contra o fogo, como já fizeram vários países sul-americanos e europeus, entre eles Colômbia, Chile e Grã-Bretanha.

"Qualquer ajuda é bem-vinda, vamos avaliar", disse neste sábado o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, que compareceu ante jornalistas junto com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Com o decreto, temos certeza de que "com a participação do Ministério da Defesa, das Forças Armadas, teremos muita eficácia" no combate aos incêndios, "como já estamos tentando fazer desde o início do ano", disse Salles.

"Mobilização de todas as potências"

Neste sábado, no início da cúpula do G7 em Biarritz, o presidente da França, Emmanuel Macron, chamou a uma "mobilização de todas as potências" para sufocar as chamas que devoram a Amazônia, considerada vital para o futuro do planeta.

Macron está em confronto há dias com Bolsonaro por sua gestão dos incêndios e ameaçou junto com a Irlanda torpedear o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Ao mesmo tempo, a Finlândia disse que vai propor a proibição das importações de carne bovina brasileira ao bloco.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse neste sábado ao chegar à cúpula do G7 em Biarritz (França) que é difícil imaginar que o bloco europeu ratifique um pacto de livre comércio com o Mercosul enquanto o Brasil não frear os incêndios que atingem a Amazônia.

"Evidentemente apoiamos o acordo entre a UE e o Mercosul (...) mas é difícil imaginar um processo de ratificação enquanto o governo brasileiro permitir a destruição da Amazônia", disse Tusk.

Em seu discurso de sexta-feira, Bolsonaro advertiu que os incêndios "não podem servir de pretexto para possíveis sanções internacionais" e afirmou que "outros países" que lhe ofereceram ajuda "se colocaram à disposição para levar a posição brasileira ante o G7", sem especificar quais.

Thomaz Favaro, analista da Control Risks, disse à AFP que a crise provocada pela gestão de Bolsonaro dos incêndios "está danificando a reputação do Brasil" e "pode trazer custos econômicos significativos" para a primeira economia latino-americana.

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