Brasil

Em culto, pastor pede assinaturas para criação do partido de Bolsonaro

Aliança pelo Brasil precisa ser registrado até abril para participar das eleições 2020; prática não é ilegal fora do período de campanha, diz especialista

Jair Bolsonaro: partido foi idealizado pelo presidente, que saiu do PSL (Adriano Machado/Reuters)

Jair Bolsonaro: partido foi idealizado pelo presidente, que saiu do PSL (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 10h11.

Última atualização em 29 de janeiro de 2020 às 11h03.

Brasília — Entre louvores e orações, fiéis da Igreja Presbiteriana Central de Londrina, no Paraná, foram "desafiados" no domingo passado a assinarem uma ficha de apoio à criação do Aliança pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente Jair Bolsonaro.

O reverendo Emerson Patriota pediu, do púlpito, para os integrantes da congregação colocarem seus nomes na lista que será entregue à Justiça Eleitoral.

Representantes de um cartório da cidade estavam lá para reconhecer as assinaturas. No estacionamento, havia um ônibus estampado com a marca do Aliança e fotos de Bolsonaro e do deputado Filipe Barros (PSL-PR).

Aliado do presidente e seguidor da igreja, o parlamentar foi responsável por articular a campanha de coleta de apoio no local. Para tirar o Aliança do papel, Bolsonaro precisa de aproximadamente 492 mil assinaturas em apoio à criação da legenda. O processo precisa ser validado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Como o jornal O Estado de S. Paulo mostrou em dezembro, aliados do presidente apostam em igrejas evangélicas, entidades de classe de policiais militares, Exército e bombeiros para viabilizar o Aliança.

O partido precisa ser homologado até 4 de abril se quiser participar das eleições deste ano. Articuladores admitem que a sigla pode não ser formalizada a tempo. Segundo Barros, "centenas" de pessoas assinaram a lista no domingo.

Durante o culto no fim de semana, enquanto dava avisos sobre as atividades da igreja, o pastor anunciou a presença dos funcionários do cartório no templo. "Nós estamos desafiando todos a passarem lá, conhecerem o estatuto, os valores (do Aliança)", afirmou o reverendo. "Disseram que é mais difícil entrar nesse partido do que em algumas igrejas por aí. Tem que ter mais vida idônea do que algumas igrejas exigem. Isso é muito bom porque tem valores familiares."

Ao Estadão/Broadcast, Barros disse que outras instituições religiosas estão se mobilizando para reunir as assinaturas. Segundo ele, o ônibus, apelidado de "Busão do Aliança" e bancado por apoiadores, tem circulado pelo interior do Paraná.

Representantes de outras igrejas evangélicas já haviam feito movimentos para ajudar Bolsonaro a oficializar seu partido.

No sábado, o presidente da Assembleia de Deus no Amazonas, Jônatas Câmara, irmão do deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), presidente da bancada evangélica, pediu a fiéis que assinassem a lista de apoiadores do Aliança no Estado.

De acordo com Silas, o apoio ao partido que Bolsonaro quer criar não é institucional. "Dentro de igreja, esquece (não tem apoio institucional). Eles (os pastores) estão atentos a esses movimentos de direita organizados e participam indo lá (nos locais onde são coletadas assinaturas)", afirmou o deputado.

Permissão

O ex-procurador regional eleitoral de São Paulo Luiz Carlos dos Santos Gonçalves disse que coletar assinaturas em igrejas para criar um partido político não é ilegal. A restrição só ocorre em período de campanha eleitoral. "Se não houver constrangimento para que as pessoas assinem, não há ilegalidade.

Neste caso, está dentro do espaço da confissão e não há problema", afirmou Gonçalves ao Estado. Um integrante da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR), ouvido reservadamente, também afirmou que não há proibição legal.

Especialista em Direito Eleitoral, Maria Cláudia Bucchianeri, do Instituto Brasiliense de Direito Público, concordou. "No Brasil, é possível que movimentos religiosos se organizem e apoiem a criação de partidos que reverberem sua pauta de interesses e valores."

Veja o vídeo

Acompanhe tudo sobre:Aliança pelo BrasilJair BolsonaroPartidos políticos

Mais de Brasil

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula

Leilão de concessão da Nova Raposo recebe quatro propostas

Reeleito em BH, Fuad Noman está internado após sentir fortes dores nas pernas

CNU divulga hoje notas de candidatos reintegrados ao concurso