Palácio do Planalto, em Brasíia (Antônio Cruz/Agência Brasil)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 7 de dezembro de 2025 às 14h34.
Última atualização em 7 de dezembro de 2025 às 15h35.
As eleições presidenciais de 2026 serão decididas por um terço do eleitorado. Para ser mais preciso, pelos 32,5% dos eleitores que votaram em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 porque rejeitavam Jair Bolsonaro (PL) — e vice-versa.
A visão é de Emanoelton Borges, CEO da Alfa Inteligência, instituto de pesquisa fundado em 2007 em João Pessoa, na Paraíba. Segundo ele, as pesquisas capturam que 30% dos eleitores de Lula votaram para que Bolsonaro não ganhasse — e 35% dos que votaram em Bolsonaro fizeram o mesmo para evitar uma vitória petista.
"Algo em torno de 32,5% do eleitor brasileiro não votou por ideologia, foi no 'menos pior'. É esse grupo que vai decidir essa eleição", diz Emanoelton em conversa com a EXAME. E o recente anúncio do senador Flávio Bolsonaro, de que foi escolhido pelo pai para concorrer, reforçará esse cenário.
Para as campanhas, o importante será mapear esses eleitores. E os dados mostram que eles estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste, pertencem à classe média, são jovens — e há uma grande representação de pequenos empreendedores e evangélicos moderados.
"Essas classes formam essa massa volátil que vai votar pelo 'menos pior': ou pela rejeição menor, ou contra a rejeição maior", afirma o CEO da Alfa. "Por outro lado, as camadas da pirâmide de uma faixa de renda mais baixa vão muito à esquerda como um todo e a faixa de renda mais alta, à direita. Aquele meio da pirâmide 'samba' e faz esse balanço de equilíbrio em relação à escolha do candidato."
"Esse eleitor não vota por ideologia. Ele vota pela rejeição menor. Se o governo estiver bem avaliado, fica com quem quer manter; se estiver mal, vai para quem quer tirar", afirma. "Essa parcela vai decidir o voto na reta final da eleição. O voto delas, no entanto, deverá estar atrelado a quem estiver bem nas pesquisas."
Para Borges, que venceu em novembro o Napolitan Victory Awards 2025, o "Oscar da política mundial", as diversas pesquisas feitas agora mostram o alto nível de volatilidade do eleitor, ainda muito distante das eleições de outubro do ano que vem.
Uma forma de medir isso, pondera, é olhar a diferença entre os resultados das perguntas estimuladas (quando se apresenta ao entrevistado os candidatos) e das espontâneas (quando nenhum nome é informado).
Ele cita levantamentos recentes da Alfa em alguns estados em que alguns candidatos tinham 18% das intenções de voto na pergunta espontânea e 50% na estimulada — uma diferença de 38 pontos percentuais. "Quando há uma diferença muito grande entre espontânea e estimulada, o voto não está firme", diz Borges.
Além deste eleitor do "menos pior", como define Borges, os candidatos precisarão trazer respostas ou provocações em quatro temas que organizarão a opinião pública em 2026: segurança pública, saúde, educação e economia.
Ele divide os temas em percepção e serviço. "Segurança, por exemplo, é tema de percepção. Se você perguntar hoje, é o maior problema do Brasil, acima de 60 pontos numa pergunta de múltipla escolha", diz.
Segundo ele, ao se destrinchar o tópico, em todos os estados se sente o avanço das facções.
"Essas facções se desdobram em várias ações que cerceiam o direito de vir do cidadão, desde fechamento de comércio, expulsar pessoas de suas residências, assaltos, arrastões", afirma. "Não é apenas um problema dos grandes centros, também chegou nas cidades de médio e pequeno porte. E assusta esse morador."
Na saúde, avalia, é um misto de percepção e entregas empíricas. Se o cidadão chega à unidade de saúde e não vê médicos, fica clara a insatisfação.
"Ou seja, se não tem gestão, com essa carga de impostos, causa essa insatisfação", afirma. "Só que a saúde é um problema crônico e cultural do Brasil. Fizemos estudos em várias cidades, onde a saúde é muito boa, mas a principal reivindicação continua sendo a saúde."
A educação seguirá como demanda importante, mas Borges enxerga que o clamor se diluiu historicamente no Brasil.
"A educação é um tema que a população não consegue perceber de imediato, vai perceber de uma geração para outra. Então, é mais difícil tangibilizar isso ao nível de entrega", afirma.
Já na economia, o pesquisador divide o tema em três eixos: emprego e renda; poder de compra; e viver com dignidade. "O grande sonho do brasileiro é viver dignamente onde ele nasceu, onde estão as suas raízes", diz.
Na questão do poder de compra, pesquisas da Alfa detectam que 65% apontam que os preços dos alimentos aumentaram nos últimos 12 meses. Novamente, uma questão de percepção, uma vez que os alimentos estiveram entre os grupos com menor inflação no período.
"Também fizemos uma segunda pergunta no eixo da economia: 'o que significa viver com dignidade para você?' E destrinchamos: 'você acha que vive dignamente com o que ganha?' Mais de 58% afirmou que não vive com dignidade com o que ganha", afirma.
"Quando a gente olha pragmaticamente para a economia, quem poupa dinheiro está ganhando bem, está rentabilizando porque os juros estão altos. A inflação está controlada? Sim. O emprego está na máxima. Não há elementos pragmáticos para justificar esses indicadores de percepção. Então, o que vai prevalecer? A narrativa. Quem tiver a melhor narrativa para transitar nos quatro eixos de segurança, saúde, economia e educação é que vai ter mais atenção desse eleitor."
Cenas da operação Contenção, no Rio de Janeiro: segurança pública será um dos principais temas eleitorais (Antonio Lacerda/EFE)
Para Borges, a direita deve chegar mais forte na disputa por Câmara e Senado do que na corrida presidencial. A próxima eleição para o Senado, com dois votos por eleitor, deve ser especialmente competitiva.
“Virou uma eleição muito estratégica. O Senado é quem tem o poder de abrir um processo de impeachment de ministro do Supremo, por exemplo. E nessa polarização dos Poderes, o Senado vira uma eleição estratégica e a direita tem focado muito nisso”, diz.
O efeito colateral, porém, pode ser imprevisível: fragmentação. Ele lembra o caso de Santa Catarina em 2018, quando seis candidatos ficaram na casa de 1 milhão de votos em uma disputa dupla.
"Se eles estiverem na mesma raia de competição, vai acontecer isso [fragmentação]", diz.
"Teremos muitos estados fazendo os dois candidatos à direita, teremos alguns estados fazendo os dois à esquerda, mas haverá também uma um grupo de estados que elegerão um de esquerda e um de direita, independentemente do êxito do governador na chapa da eleição do ano que vem."
Já na Câmara, as redes sociais terão peso, mas não substituirão o capital político tradicional. "Existe espaço para youtubers e influenciadores, mas a predominância ainda será dos parlamentares estruturados", afirma.
Em 2026, 18 dos 27 governadores não poderão disputar eleições (por já estarem no segundo mandato), um cenário que abre uma corrida por renovação.
"Dois terços dos estados terão sucessões. Então, para que o governador atual consiga eleger seu sucessor, ele vai ter que ter um primeiro indicador: uma boa aprovação de governo", afirma Borges.
Para o CEO da Alfa Inteligência, seria necessária uma aprovação acima de 65% para ajudar o escolhido do governador em questão. "A literatura e a história mostram que, dessa aprovação, existe uma taxa de conversão. Em média, o ápice dessa taxa vai girar em torno de 75% a 85% dos votos", diz.
Em exemplos práticos, se um governador tem 65% de aprovação e converter 70% em votos dessa aprovação para o seu sucessor, seria uma transferência de 45% aproximadamente.
Outro critério que será decisivo nos estados é se o governador concorrerá ao Senado. "Se sim, ele passa a ser um motor de puxar votos para esse candidato a governador. Então, o fato daquele governador atual estar ou não disputando a próxima eleição na chapa majoritária, também fará um impacto em relação a isso", afirma.
Emanoelton Borges, da Alfa Inteligência: instituto quer ser firmar entre os três principais no mercado de opinião eleitoral até 2030 (Alfa Inteligência/Divulgação)
A premiação recente no "Oscar" da Ciência Política ilustra um momento de crescimento da Alfa Inteligência. Em seus 19 anos, a empresa se especializou em atuar nos bastidores de campanhas.
Foram 7 milhões de entrevistas quantitativas, 5.500 grupos focais em pesquisas para 30 campanhas a governo, 40 ao Senado, 400 disputas municipais, além de projetos corporativos e estudos para energia, turismo, aeroportos e infraestrutura
Borges diz que a companhia criou uma metodologia de “engenharia interna de eleição”, com diagnósticos qualitativos, pesquisas presenciais e acompanhamento direto de estratégias até o momento final da campanha. Em 2026, deve chegar a 400 funcionários no pico eleitoral.
O CEO aponta que a empresa criou uma plataforma própria de coleta e auditoria que, com uso de Inteligência Artificial (IA), permite auditar 100% das entrevistas feitas nas sondagens -- a média no mercado é de 20%, diz Borges.
A expertise em dados gerou uma spin-off, a Tensai, uma plataforma multicanal de coleta e análise de dados que já responde por 20% do faturamento do grupo. Borges tem como meta fazer a receita da plataforma crescer 400%.
Os clientes vão de instituições financeiras, empresas privadas a governos que fazem em tempo real a avaliação do serviço prestado aos clientes ou aos cidadãos.
A empresa só começou a publicar pesquisas nacionais recentemente, mas já quer ocupar espaço entre os grandes institutos. Para Borges, 2026 será o momento de provar ao grande público aquilo que, segundo ele, a empresa já demonstrou nos bastidores: precisão, capacidade técnica e tecnologia proprietária.
“Chegou a hora de a gente poder trazer uma alternativa de uma empresa séria, com credibilidade e tecnologia, aliadas a bons parceiros”, diz. "Vai ter mais uma opção diante de um mercado complexo."
A ambição estar no top 3 entre os institutos de pesquisa mais lembrados do Brasil até 2030, combinando análise profunda, entrega tecnológica e um modelo de acompanhamento que vai além do relatório. “É a minha vida. Metade dela está na Alfa”, diz o CEO.