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Eleições 2022: Bolsonaro e Lula vão esmagar o centro fragmentado, dizem especialistas

Partidos que não querem nem PT nem Bolsonaro precisarão se unir em chapa única se quiserem ir para segundo turno na eleição presidencial, dizem analistas

Eleições 2022: "Terceira via" deve tentar aglutinar antipetistas e antibolsonaristas (Paulo Whitaker e Rodolfo Buhrer/Reuters)

Eleições 2022: "Terceira via" deve tentar aglutinar antipetistas e antibolsonaristas (Paulo Whitaker e Rodolfo Buhrer/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 10 de março de 2021 às 08h01.

Se não consolidar uma candidatura única, o centro político pode ficar esmagado entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro em 2022. Essa é a avaliação de cientistas políticos e analistas de instituto de pesquisa sobre o impacto de Lula no pleito do ano que vem, após a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulando as condenações do petista na Lava-Jato, o que o tornou elegível novamente.

Com dois candidatos populares, à esquerda e à direita, o que pode vir a ser considerado uma "terceira via" deve ter problemas em se viabilizar caso não construa um discurso e um projeto coeso para aglutinar aqueles que são tanto antipetistas quanto antibolsonaristas, dizem especialistas.

A última pesquisa do Ipec mostra que 50% dos brasileiros dizem que votariam com certeza ou poderiam votar em Lula, e 44% não o escolheriam de jeito nenhum. Bolsonaro aparece 12 pontos atrás de Lula em potencial de votos (38%) e 12 pontos à frente em rejeição (56%).

Sobraria pouco espaço, na avaliação de alguns analistas, para o centro concorrer com várias candidaturas, como aconteceu em 2018. Até o momento, são tratados como possíveis presidenciáveis desse campo os governadores tucanos João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), os ex-ministros de Bolsonaro Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta (DEM), além do apresentador da TV Globo Luciano Huck e de Ciro Gomes (PDT).

Andrei Roman, diretor do Atlas Intelligence, diz que apenas dois nomes superam 10% de intenção de votos nas pesquisas que o instituto vem fazendo, além de Lula e Bolsonaro: Sergio Moro e Ciro Gomes — com a ressalva de que o último só alcança os dois dígitos quando Lula não está no páreo.

— Para emplacar o centro no segundo turno, você precisa de duas coisas: uma redução muito rápida da fragmentação do campo e alguém que consiga agregar um apoio muito mais espontâneo do que temos agora — afirma Roman.

O analista destaca o que considera ser uma boa avaliação de Mandetta, que tem o menor índice de rejeição e o maior percentual positivo, adquirido com a exposição à frente do Ministério da Saúde, em plena pandemia, antes de ser demitido por Bolsonaro. No entanto, diz ele, essa imagem não se cristaliza numa plataforma muito clara que possa rivalizar com Lula.

Já Huck, segundo Roman, tem problemas de posicionamento estratégico, como ainda não ter deixado clara sua intenção de concorrer, que o coloca sob críticas nas redes sociais.

— Esse é um problema clássico dos candidatos de centro, porque são atacados pela esquerda e pela direita. Vimos isso com Marina Silva. A candidatura dele, se prosperar, vai ter que descobrir como se contrapor a esses ataques.

Ciro Gomes, por sua vez, enfrentaria um problema de credibilidade com seu eleitorado, identificado com a esquerda, ao se mover ao centro e articular com partidos de centro-direita e direita — um movimento que, para Roman, precisaria ser executado com "muita cautela".

O cientista político Luiz Felipe D'Ávila, presidente do Centro de Liderança Política (CLP), concorda com a necessidade de uma candidatura única para o centro prosperar. E considera a empreitada de João Doria difícil de obter êxito.

— O Doria tem dificuldade em articular esse acordo com o centro, porque ele fez uma carreira muito individual para chegar ao governo de São Paulo. Foi praticamente um voo solo. Para mim, os nomes mais fortes são Huck, Moro e Eduardo Leite — diz D'Ávila.

"Menor número possível"

Para o presidente do PSDB, Bruno Araújo, a decisão de Fachin obriga os partidos de centro a se dedicarem mais numa alternativa eleitoral, "desde que com o menor número de candidatos possível".

— O ideal é que tenhamos um candidato só. É pouco factível e talvez seja sonhar demais, mas precisamos reduzir a pulverização no centro. Mais de duas candidaturas praticamente inviabiliza a participação do centro no segundo turno.

Roberto Freire, presidente do Cidadania que trabalha para viabilizar Huck como candidato da legenda, afirma que o centro já trabalhava, de qualquer forma, com a possibilidade de concorrer contra Bolsonaro e um candidato do PT. O que muda, segundo ele, é a constatação da necessidade de maior unidade, a fim de não deixar o campo fragmentado.

— Objetivamente, não muda quase nada. O centro já estava se articulando politicamente admitindo ter que disputar com um candidato de Lula. Mas essa decisão do Fachin cria mais a necessidade da unidade — diz Freire.

Para Renato Dorgan, especialista em pesquisas qualitativas e marketing político do Instituto Travessia, o centro precisará emplacar uma candidatura cujo discurso "não signifique nem a continuação do presente e nem a volta do passado".

Ele diz que a candidatura de Lula deve esvaziar o eleitorado de Luciano Huck, que também brigaria pelo voto das classes mais baixas, e fortalecer Sergio Moro. Para Dorgan, o ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro de Bolsonaro é o nome que melhor consegue se distinguir tanto do PT quando do presidente, e assim capitalizar em cima dos desafetos.

— Moro é o único candidato que poderia dizer: "Briguei com o louco e prendi o corrupto. Vocês têm motivo para votar em mim". Mas o Moro não é um animal político. Não se mexe, não faz nada — afirma.

A pesquisadora Lara Mesquita, do Centro Estudos de Política e Economia do Setor Público da FGV, não vê tanta interferência na decisão de Fachin sobre o tabuleiro político de 2022. Lula disputar a eleição, diz ela, pode ser positivo para o centro, uma vez que dificultará a formação de uma frente ampla.

— Se tem um segundo turno entre Bolsonaro e a esquerda, não está claro que o centro vai ficar com a esquerda. Em 2018, foi mais fácil para esses eleitores convergirem à extrema-direita do que para a centro-esquerda. Mas, para alguns eleitores de esquerda que torcem por uma frente ampla, a única chance será apoiar o candidato de centro, caso seja ele quem vá para o segundo turno — declara.

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