Bolsonaro: o texto afirma ainda que Bolsonaro "é um brasileiro de direita com visões repulsivas", por conta de suas declarações (Adriano Machado/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 22 de outubro de 2018 às 10h09.
Última atualização em 22 de outubro de 2018 às 11h00.
São Paulo — O jornal americano The New York Times, maior veículo de comunicação do mundo, publicou um editorial neste domingo (21), em que afirma que o candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, é "uma triste escolha para o Brasil".
Líder nas intenções de voto para o pleito do próximo domingo (28), o capitão reformado do exército é descrito pelo jornal como um "populista ofensivo, cruel e teimoso".
"A escolha [do voto] é para os brasileiros fazerem. Mas é um dia triste para a democracia quando a desordem e o desapontamento levam os eleitores à distração e abrem as portas para populistas ofensivos, cruéis e teimosos", diz o editorial.
O texto, escrito pelo conselho editorial do NYT, afirma ainda que Bolsonaro "é um brasileiro de direita com visões repulsivas", por conta de suas declarações.
"Ele disse que se tivesse um filho homossexual, preferiria que ele morresse; que uma colega na Câmara era muito feia para ser estuprada; que os negros são preguiçosos e gordos; e que o aquecimento global equivale a 'fábulas de estufa'. Ele sente saudades dos generais e torturadores que governaram o Brasil por 20 anos", diz o NYT.
Para a publicação, no entanto, a "assustadora" ascensão de Bolsonaro faz parte de um movimento "assustadoramente comum" entre as democracias no mundo.
"Cristão evangélico, ele prega uma mistura de conservadorismo social e liberalismo econômico, embora confesse ter apenas uma compreensão superficial da economia. Soa familiar? Ele é o político mais recente de uma longa lista de populistas que enfrentaram uma onda de descontentamento, frustração e desespero para o mais alto cargo em cada um de seus países. Não surpreendentemente, ele é frequentemente descrito como um brasileiro Donald Trump", compara o texto.
Para o NYT, as consequências da Operação Lava Jato deixaram os brasileiros "desesperados por mudança", além disso, há um clamor popular para acabar com a violência no país — que tem em média 175 homicídios por dia. Bolsonaro, diz o texto, aparece como a figura salvadora.
"O Brasil está emergindo de sua pior recessão de todos os tempos; uma ampla investigação chamada Lava Jato revelou corrupção arbitrária no governo; um ex-presidente popular, Luiz Inácio Lula da Silva, está preso por corrupção; sua sucessora, Dilma Rousseff, sofreu impeachment; seu sucessor, Michel Temer, está sob investigação; o crime violento é desenfreado. Os brasileiros estão desesperados por mudanças", revela o artigo.
Contra esse pano de fundo, ainda segundo o jornal, "as opiniões grosseiras de Bolsonaro são interpretadas como franqueza. Sua carreira obscura como congressista, o desponta como um 'outsider', que promete limpar a sujeira com seu punho de ferro".
O editorial do NYT afirma também, que se Bolsonaro for eleito, um de seus perdedores será o meio ambiente, "especificamente, as florestas tropicais da Amazônia".
"Bolsonaro prometeu desfazer muitas das regulamentações de proteção para as florestas tropicais e abrir mais terras para o poderoso agronegócio brasileiro", relata o texto. "Ele levantou a perspectiva de se retirar do acordo climático de Paris, de desmantelar o Ministério do Meio Ambiente e impedir a criação de reservas indígenas — tudo isso em um país que recentemente foi elogiado por sua liderança na proteção do meio ambiente", conclui.