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Doente grave rejeita 'pílula do câncer'

Apesar de supostos relatos de cura, há pessoas que, mesmo com câncer em estágio avançado, são contrárias ao uso da fórmula antes da comprovação de eficácia


	Pílula: mesmo com câncer em estágio avançado, há pessoas contrárias ao uso da fórmula antes da comprovação de sua eficácia
 (Divulgação/USP)

Pílula: mesmo com câncer em estágio avançado, há pessoas contrárias ao uso da fórmula antes da comprovação de sua eficácia (Divulgação/USP)

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Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2016 às 12h14.

São Paulo - A fosfoetanolamina sintética, mais conhecida como "pílula do câncer", causou uma mobilização nacional após a corrida de pacientes para ter acesso à substância, que se apresenta como eficaz contra a doença, mas nunca foi testada em humanos e não tem autorização para ser usada como medicamento.

Apesar dos supostos relatos de cura, há pessoas que, mesmo com câncer em estágio avançado, são contrárias ao uso da fórmula antes da comprovação de eficácia e preferem não experimentá-la.

Desde 2007, a "youtuber" Jussara Del Moral, de 51 anos, luta contra a doença que apareceu pela primeira vez na mama. Após ter feito cirurgia, quimioterapia e radioterapia, ela ficou bem por um tempo, mas o câncer começou a se espalhar. Em 2009, apareceu nos pulmões. Em 2013, na calota craniana.

"Fiz cirurgia da calota, 20 sessões de radioterapia e fiquei um ano bem, mas as metástases ósseas se alastraram, tenho vários pontos no crânio. Tenho uma doença crônica, que não tem cura, mas não vou tomar um remédio que não foi pesquisado. A gente não mexe em um time que está ganhando."

Jussara diz que não acredita na possibilidade de a substância ser capaz de curar todos os tipos de câncer e destaca a importância da realização de testes antes do uso. "Para um paciente metastático, o que a gente sonha todo dia é que tenha alguém estudando, porque a gente quer tempo e qualidade de vida. Quero que essa substância seja estudada e seja boa para algum tipo de câncer ou para dor, mas, no momento, ninguém sabe o que é."

A médica Verônica Hughes, de 56 anos, foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2004 e está no estágio 4 da doença, considerado o mais avançado, há cinco anos e meio. "O paciente com câncer terminal, como eu, é uma presa fácil. Somos extremamente vulneráveis, caímos nas mãos de curandeiros e charlatões. Já me operei duas vezes porque tive metástase na cabeça. Eu não fiz nenhum tratamento alternativo, mas sei o desespero de não ter o que fazer."

Foco

O tratamento não tem sido fácil para o empresário Douglas Gallo, de 34 anos, que descobriu um câncer de intestino em outubro de 2012 e teve metástase pulmonar. Ele está no sétimo esquema de quimioterapia e teve de superar dificuldades em todos eles. "Cada tipo me trouxe um desconforto. Perdi sensibilidade, caiu meu cabelo, tive espinhas. Passei por vários sintomas diferentes. A adaptação é muito difícil, porque a gente não sabe como vai se comportar com cada remédio."

Gallo diz que várias opções de tratamentos alternativos lhe foram ofertadas desde o diagnóstico. "Tive várias oportunidades de tomar remédios fora do que os médicos trazem, mas acho que qualquer droga que quer ser regularizada tem de passar por aprovação." O empresário chegou a fazer uma cirurgia espiritual, procedimento sem cortes. "São alternativas para você lidar com o tratamento. Tem gente que parte para uma vida sem estresse, outras vão para a igreja."

Cuidados

Luciana Holtz, psicóloga e presidente do Instituto Oncoguia, organização não governamental que oferece apoio e orientação para pacientes com câncer, diz que buscar apoio do médico que faz o tratamento é fundamental para enfrentar a doença sem se desesperar. "Ainda existe uma associação que câncer significa a morte. É muito desespero misturado com vontade de acabar com o sofrimento, mas as pessoas precisam se acalmar. O câncer é complexo e a decisão tem de ser responsável."

Oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor da Clínica de Oncologia Médica (Clinonco), Artur Malzyner diz que a pílula deve ser evitada. "Substâncias aparentemente inofensivas podem interferir na absorção de um tratamento. A automedicação é algo que pode ser prejudicial para a saúde do paciente. Além disso, existe um padrão mínimo de pesquisa para que o paciente receba um tratamento eficiente." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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