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Documento do exército defende isolamento social no combate ao coronavírus

Estudo afirma que retomada das atividades econômicas, tese sustentada por Bolsonaro, só ocorre com segurança caso haja testagem em massa da população

Isolamento horizontal tem apresentado resultados mais efetivos no achatamento da curva, diz documento (Sergio Moraes/Reuters)

Isolamento horizontal tem apresentado resultados mais efetivos no achatamento da curva, diz documento (Sergio Moraes/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 6 de abril de 2020 às 12h59.

Última atualização em 6 de abril de 2020 às 14h29.

Um documento do Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEX) defende o isolamento social como estratégia de combate ao novo coronavírus e diz que só a testagem em massa da população, para aferir com mais precisão o número de infectados no país, cria as condições necessárias para a retomada gradual das atividades econômicas.

O distanciamento é a estratégia defendida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, além de ter sido adotado por governadores, que determinaram a suspensão de aulas e restringiram o comércio. Já o presidente Jair Bolsonaro passou a defender o isolamento vertical, estabelecendo a quarentena para grupos de risco, como idosos, e permitindo a reabertura de estabelecimentos.

O estudo sustenta que num cenário de aumento de casos, situação do Brasil no momento, são necessárias medidas como “isolamento horizontal”, “redução da atividade aos serviços essenciais”, “restrições ao movimento”, “testagem maciça” e “mobilização de instalações temporárias” – hospitais de campanha estão sendo erguidos no Rio, em São Paulo e em Goiás, por exemplo.

“Embora ainda seja cedo para uma avaliação mais conclusiva, observa-se que a adoção precoce de estratégias de isolamento horizontal tem apresentado resultados parciais mais efetivos no achatamento da curva”, diz o documento, que em outro trecho acrescenta que as consequências do isolamento apenas de públicos específicos ainda precisam de mais tempo para serem avaliadas. “Há um consenso mundial entre os especialistas em saúde de que o isolamento social seja a melhor forma de prevenção do contágio, especialmente o horizontal, para toda a população. O isolamento seletivo, ou vertical, para determinados grupos de risco, é defendido por alguns especialistas e vem sendo adotado por alguns países. No entanto, ainda é prematuro para que sejam elaboradas conclusões acerca de seus resultados”.

O texto ressalta que o isolamento por um tempo prolongado terá um forte impacto sobre a economia e, por isso, defende que o poder público priorize a construção de um caminho para amenizar os efeitos da pandemia – o documento recebeu o título de “Crise Covid-19: estratégias de transição para a normalidade”.

“A estratégia central do isolamento social – adotada pela quase totalidade dos governos – gera consequências diretas para a economia. O chamado modelo horizontal tem se apresentado mais eficiente para atender as demandas emergenciais de saúde pública, porém tende a se mostrar muito impactante para a higidez econômica, haja vista o inevitável congelamento dos mais diversos segmentos, desde os produtivos até os de serviços. Tal situação é previsivelmente agravada caso se estenda no tempo, tendendo a gerar consequências severas para os campos econômico e social, com prováveis desgastes para o campo político”, analisa o texto.

As autoridades de saúde têm priorizado a realização de testes em pacientes com quadros graves, porque não há insumos suficientes. De acordo com o Ministério da Saúde, a previsão é que cerca de 23 milhões de testes sejam entregues aos estados, somando os de biologia molecular (RT-PCR) e os testes rápidos. O documento do Exército ressalta que a ampliação dessa capacidade é necessária antes de ser implementado um modelo com menos restrições à circulação de pessoas.

“Parece essencial a migração do modelo atual de testagem para o coronavírus, prevista para a fase de mitigação da doença (apenas os casos graves são testados). O que se observa, em termos de boas práticas mundiais, seria a adoção de um modelo de realização massiva de testes rápidos para identificação tempestiva do maior número de casos e determinação de seu isolamento. Só essa medida parece criar a segurança necessária para a retomada gradual e progressiva das atividades econômicas”, argumenta o texto.

O documento traça ainda um panorama dos possíveis impactos econômicos da pandemia no Brasil – um dos reflexos citados é a hipótese da queda no preço das commodities – e defende a ação do Estado para a preservação da renda e dos postos de trabalho:

“As ações devem priorizar práticas com maior impacto para a manutenção de empregos, assim como para recuperação da capacidade produtiva dos setores estratégicos, visando a estabilidade econômica e social do país (…) Soluções que agilizem a transferência de renda, no mais curto prazo, são fundamentais e urgentes”.

O texto também sugere que municípios sejam envolvidos mais diretamente no enfrentamento à crise, em função das diferenças regionais do país. Para isso, o documento avalia que o Ministério do Desenvolvimento Regional poderia coordenar esta parte das ações, por meio do Sistema Nacional de Proteção e Defesa. De acordo com o documento, seria um mecanismo eficiente para realizar a coordenação entre órgãos técnicos de governo, “reduzindo desgastes políticos que vêm sendo verificados”.

O Centro de Estudos Estratégicos destaca em seu site que os textos publicados são de “caráter acadêmico” e “não representam a posição oficial do Exército”. Em vídeo divulgado há dez dias nas redes sociais, o comandante do Exército, Edson Pujol, afirmou que o combate ao coronavírus “talvez seja a missão mais importante da nossa geração”.

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