Vista aérea do pier da Marinha brasileira: corrupção envolve fragatas compradas nos anos 70 (Yasuyoshi Chiba/AFP)
Diogo Max
Publicado em 2 de junho de 2018 às 14h40.
São Paulo – A ditadura militar, que governou o Brasil de 1964 até 1985, abafou um caso de corrupção ocorrido entre os governos dos generais Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979), de acordo com reportagem publicada neste sábado pela Folha de S. Paulo.
Segundo o jornal, documentos encontrados pelo pesquisador João Roberto Martins Filho, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), nos arquivos da diplomacia britânica, revelam que a ditadura tomou conhecimento do prejuízo no superfaturamento de equipamentos para construção de seis fragatas no Reino Unido para Marinha brasileira e que, mesmo assim, preferiu esquecer o assunto.
Ainda de acordo com a reportagem, o governo britânico queria investigar a denúncia e ofereceu um pagamento adiantado de indenização (500 mil libras, o que hoje equivale a quase 3 milhões de libras, isto é, 15 milhões de reais). O regime militar, no entanto, esquivou-se e preferiu não receber os auxílios do Reino Unido, segundo o jornal, que teve acesso aos documentos diplomáticos.
O documento sobre o acobertamento do caso de corrupção na ditadura militar surge após a um outro pesquisador revelar que o general Geisel autorizou a execução de opositores “perigosos” ao regime militar.
Nesse caso, o documento da CIA foi trazido à tona pelo pesquisador Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no início de maio.
O documento desclassificado pelos Estados Unidos em 2015 relata um encontro no início do governo Geisel, entre o chefe do Estado brasileiro e os generais João Baptista Figueiredo, chefe do Sistema Nacional de Informações (SNI), e Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, que atuavam no Centro de Inteligência do Exército (CIE).
Informado sobre as execuções que já vinham sendo empregada pelo governo Médici, Geisel pediu um tempo para avaliar a seriedade e os potenciais aspectos prejudiciais dessa política, de acordo com o documento.
Mas, dias depois, ainda de acordo com relato no documento, ele deu aval à continuidade das execuções e determinou que Figueiredo autorizasse pessoalmente os assassinatos.