Brasil

Decisão sobre parto é campanha contra obstetra, diz diretor

Segundo diretor de maternidade, resolução do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Saúde Suplementar para reduzir número de partos cirúrgicos é negativa


	Mulher grávida: "a categoria (dos obstetras) vem sendo atacada", disse diretor técnico do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros
 (Wikimedia Commons)

Mulher grávida: "a categoria (dos obstetras) vem sendo atacada", disse diretor técnico do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de janeiro de 2015 às 15h02.

São Paulo - A resolução do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para reduzir o número de partos cirúrgicos é uma campanha negativa e uma "invasão" à obstetrícia. A avaliação é do diretor técnico do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, Coríntio Mariani Neto.

"A categoria (dos obstetras) vem sendo atacada. Antes, vimos a campanha contra a episiotomia (corte cirúrgico feito no processo do parto normal). Agora, assistimos a essa decisão sobre o parto normal e cesárea", afirmou o obstetra, que também é secretário-geral da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).

A resolução do Ministério e da ANS, anunciada esta semana, estabelece regras para que as seguradoras registrem e informem, a quem solicitar, o número porcentual de partos cirúrgicos (cesarianas) e normais por médico credenciado e estabelecimento de saúde. As informações deverão estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação. Em caso de descumprimento, será aplicada multa no valor de R$ 25 mil.

Mariani Neto afirma que a paciente tem o direito de ter acesso a essa informação, mas deveria apurá-la junto ao seu obstetra. "Não deveria ser tratado publicamente. É uma invasão", afirma o obstetra. Segundo ele, toda a discussão está sendo feita de forma inadequada, a Sogesp não foi consultada e outros problemas envolvendo o tema não estão merecendo a reflexão necessária.

No Brasil, argumenta, impera a cultura de o obstetra "ter de ficar 24 horas à disposição da gestante" quando a paciente é atendida por planos de saúde. "Mas o que se paga não é adequado", diz. "Uma solução para esse problema é dissociar o obstetra que acompanha o pré-natal e aquele que vai fazer o parto. É assim na rede pública", diz.

Mariani Neto concorda que é excessivo o porcentual de partos cirúrgicos no Brasil. Atualmente, 84% dos nascimentos na rede hospitalar privada ocorrem em procedimento cirúrgico, segundo os dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Na rede pública brasileira, o porcentual é menos da metade disso.

O obstetra defende a ideia de que a gestante tem o direito de decidir que tipo de parto vai querer: normal ou cirurgia cesariana. Optando pela cesárea, o médico teria a obrigação de esclarecer sobre os riscos do procedimento, segundo Mariani Neto. De acordo com o Ministério da Saúde, a cesariana aumenta em 120 vezes o risco de o bebê nascer com problemas respiratórios e triplica o risco de morte da mãe quando o procedimento é realizado por puro desejo da futura mãe, ou seja, sem um diagnóstico médico fundamentado.

Mariani Neto defende que as cesarianas "pedidas" sejam marcadas somente a partir da 39ª semana de gestação. No dia a dia, entretanto, é comum ver gestantes marcando a cirurgia antes desse prazo para conciliar feriados, festas ou outros compromissos sociais ou simplesmente para abreviar a fase final da gestação, geralmente mais exaustiva para as mulheres.

Acompanhe tudo sobre:ANSGravidezMinistério da SaúdeMulheresSaúde no Brasil

Mais de Brasil

Brasil se aproxima de 5 mil mortes por dengue em 2024

Unimos uma frente ampla contra uma ameaça maior, diz Nunes ao oficializar candidatura em SP

Após ser preterido por Bolsonaro, Salles se filia ao partido Novo de olho em 2026

Governo Lula é aprovado por 35% e reprovado por 33%, aponta pesquisa Datafolha

Mais na Exame