Gilmar Mendes proferiu decisão monocrática que restringe impeachment de integrante do STF (Adriano Machado/Reuters)
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Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 10h57.
A decisão do ministro Gilmar Mendes de restringir à Procuradoria-Geral da República (PGR) a legitimidade para pedir impeachment de integrante do Supremo Tribunal Federal (STF) causou revolta no Senado, que se articula para uma reação institucional.
A ofensiva preparada por senadores deve dar início a uma queda de braço entre o Congresso e o tribunal mais poderoso do país. O governo federal, por sua vez, tenta se descolar da crise para não estremecer ainda mais a relação com o Legislativo e prejudicar as negociações em favor da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo, segundo dois parlamentares ouvidos sob reserva pela Exame. O chefe da AGU, aliás, assinou parecer em que pede para Gilmar reconsiderar a própria decisão, em sinalização ao Congresso para diminuir as resistências ao seu nome.
No Senado, uma das propostas citadas pelo presidente, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e que ganhou força nesta quarta-feira, 3, visa limitar as ordens judiciais monocráticas do Supremo. Também está em construção nos bastidores um projeto para retomar a competência para pedir e abrir processo de deposição de ministro.
Em outra frente, o chefe da Casa falou em retomar a tramitação da PEC do Marco Temporal, que define que só podem ser demarcadas terras indígenas ocupadas antes de 1988, mesmo com julgamento marcado no Supremo sobre o assunto para o próximo dia 5. "A minha decisão é que a gente delibere", afirmou.
O chefe da Casa Legislativa afirmou que a decisão individual do magistrado “tenta usurpar as prerrogativas do poder Legislativo”. “Manifesto que esta presidência recebe com muita preocupação o conteúdo da decisão monocrática da lavra do ministro Gilmar Mendes", disse.
O ministro, por sua vez, submeteu o despacho ao plenário da corte na tentativa de esvaziar as críticas de que a atuação individual prevalece no STF em detrimento da colegialidade. O julgamento ocorrerá entre 12 e 19 de dezembro no ambiente virtual.
A Exame apurou que, entre membros da corte, a decisão foi vista como uma espécie de vacina do tribunal contra a eventual formação de maioria de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Senado após as eleições de 2026.
Além de retirar a possibilidade de qualquer cidadão protocolar um pedido de impeachment contra ministro do STF, Gilmar também ampliou de maioria simples (41 votos) para maioria qualificada (54 votos) o mínimo de apoio necessário para o Senado abrir um processo de deposição de magistrados da corte.
Na decisão, o ministro deixa claro que a decisão é uma reação à ofensiva bolsonarista contra integrantes do Supremo, principalmente o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro,
"A intimidação do Poder Judiciário por meio do impeachment abusivo cria um ambiente de insegurança jurídica, buscando o enfraquecimento desse poder, o que, ao final, pode abalar a sua capacidade de atuação firme e independente", escreveu.
A oposição, porém, viu a tensão como uma oportunidade política e retomou a mobilização por projetos que afetam o STF. O PL e o partido Novo, por exemplo, iniciaram o recolhimento de assinaturas por uma Proposta de Emenda à Constituição que, na prática, anularia a ordem de Gilmar e restabeleceria a legitimidade de todos cidadãos de pedir impeachment de ministro.
A cúpula do Congresso costuma frear esse tipo de iniciativa por manter boa relação com o Supremo. Agora, no entanto, a tendência é que a oposição tenha apoio de parlamentares influentes que ditam o ritmo dos trabalhos do Legislativo para evitar uma diminuição de poderes do Congresso.
Com isso, a decisão de Gilmar tem potencial para deixar o ambiente em Brasília ainda mais tenso. Alcolumbre e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vêm protagonizando um conflito público com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) há algumas semanas.
O primeiro por ter ficado insatisfeito com a indicação de Messias em vez do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao Supremo, e o segundo por embates relativos à tramitação do PL Antifacção. Agora, devem entrar em rota de colisão também com o STF.