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Da igreja ao Planalto: como Flávio Rocha pode ajudar plano de poder do PRB

Dono da Riachuelo se filia a PRB e pode ser peça-chave para fortalecer potencial de partido que cresceu nos últimos anos

Flávio Rocha se filia ao PRB em 27 de março de 2018: da esquerda para a direita, Rocha, Marcos Pereira (presidente nacional do partido) e Celso Russomanno (deputado federal) (Douglas Gomes/PRB Nacional/Divulgação)

Flávio Rocha se filia ao PRB em 27 de março de 2018: da esquerda para a direita, Rocha, Marcos Pereira (presidente nacional do partido) e Celso Russomanno (deputado federal) (Douglas Gomes/PRB Nacional/Divulgação)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 28 de março de 2018 às 17h50.

São Paulo – Fundado como o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus, o Partido Republicano Brasileiro (PRB) deu, nesta terça-feira (27), seu passo mais ambicioso em 12 anos de fundação ao lançar o empresário Flávio Rocha, dono do grupo que controla a rede de lojas Riachuelo, como pré-candidato à Presidência da República.

O anúncio, no entanto, não é uma garantia concreta de que Rocha entrará de fato na disputa presidencial. Mas é um sinal de que o partido almeja – no mínimo – ganhar mais margem de negociação para o próximo pleito.

Nas duas últimas eleições, o partido experimentou uma relevante ascensão no cenário nacional: alargou sua bancada na Câmara dos Deputados de 8 para cerca de 20 parlamentares, estendeu seu domínio para 105 prefeituras e, sob o governo de Michel Temer, dominou uma importante pasta na Esplanada, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

O crescimento da legenda se explica pelo numeroso contigente de evangélicos no Brasil, mas também pela habilidade da sigla em investir na formação de uma máquina partidária em diversos estados.

O resultado veio nas urnas. Em 2014, além de ampliar a própria bancada, o PRB elegeu o deputado federal mais votado naquele pleito, o católico Celso Russomano. Nas eleições municipais, a joia da coroa veio com a vitória do bispo Marcelo Crivella no Rio de Janeiro.

O peso eleitoral rendeu ao partido relevância política nos bastidores do poder. “Temer deu ao PRB a importância que o partido tem em termos de número de parlamentares”, afirma Sérgio Praça, professor e pesquisador da FGV-Rio.

Até agora, a estratégia da legenda sempre foi a de se aliar com o governo vigente. Em 2006, formou a chapa presidencial ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva com José Alencar, seu então presidente de honra, na vice-presidência. Até março de 2016, fez parte do governo de Dilma Rousseff. Deixou o barco pouco antes da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, quando sua bancada apoiou em peso o afastamento da petista.

O anúncio da candidatura de Rocha pode parecer um ponto fora da curva nessa trajetória. Mas, para analistas, é sinal da engenhosidade de uma legenda com aspirações de se cacifar no cenário nacional. “Todos os partidos estão ensaiando candidaturas neste momento. Mas o que chama a atenção é o PRB ter escolhido um outsider, alguém do mercado, de fora da legenda para esse posto”, diz Thiago Vidal, coordenador de análise política da consultoria Prospectiva.

Segundo o especialista, o partido tem consciência de que a proximidade com a Igreja Universal do Reino de Deus traz, por um lado, uma vantagem eleitoral, mas, por outro, uma considerável rejeição. “Se o partido ficar só ligado a esse seguimento não terá voos maiores”, diz Vidal.

Lançar um pré-candidato que, mesmo sendo evangélico, não apresenta (por ora) seu posicionamento religioso para fins eleitorais soa, para Vidal, como uma estratégia para se desvincular da alcunha de “partido da Universal” – mesmo que uma parte preponderante de seus quadros seja membro dessa igreja.

O partido tem até julho, quando as convenções partidárias devem lançar seus candidatos, para testar a força de Rocha para a disputa. O empresário tem afirmado que não aceita menos do que a cabeça de chapa à Presidência.

A depender de seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto até lá, porém, a legenda pode negociar melhores cargos em uma coligação mais robusta ou, se Rocha se lançar de fato presidenciável, firmar acordos mais vantajosos com quem rumar para o segundo turno.

Rocha estreia na disputa de 2018 com o bônus de uma biografia no setor privado — característica com forte apelo entre eleitores desacreditados na política tradicional. Entra com um discurso moralista nos costumes para competir com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), ao mesmo tempo em que oferece propostas econômicas de cunho mais liberal, que soam como uma sinfonia para os ouvidos do mercado.

Mas, com a parceria, sua narrativa de contraponto à política tradicional ainda tem brechas. O próprio histórico do PRB pode criar embaraços para o candidato.

Marcos Pereira, líder nacional do PRB, é acusado de negociar 7 milhões de reais via caixa 2 com a Odebrecht para a sigla nas eleições de 2014. Em áudio divulgado pelo empresário Joesley Batista, do grupo J&F, ele também aparece negociando o supostamento pagamento de outros 6 milhões de reais. No ano passado, o Ministério de Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma investigação por supostas irregularidades no Inmetro. Um dos personagens centrais nas suspeitas foi indicado por Pereira.

Em 2008, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal, lançou o livro "Plano de Poder", em que defendia que evangélicos ocupassem cargos-chave na política em honra ao que ele chamou de "projeto de nação" divino. Dez anos depois da publicação da obra, o partido dá mais um passo nesse sentido e Flávio Rocha pode ser essencial para esse plano.

 

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