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Deputados acusam Cunha de manipular votação na Câmara

Maioria dos deputados votou por adiar a votação sobre instalar novas comissões, mas Cunha anunciou resultado contrário e revoltou parlamentares


	Luiza Erundina senta na cadeira de Eduardo Cunha após ele manipular resultado de votação na Câmara dos Deputados.
 (Agência Câmara/Ananda Borges)

Luiza Erundina senta na cadeira de Eduardo Cunha após ele manipular resultado de votação na Câmara dos Deputados. (Agência Câmara/Ananda Borges)

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Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2016 às 09h29.

Brasília - Após tumulto e bate-boca entre parlamentares, a Câmara dos Deputados aprovou a criação das comissões de defesa dos Direitos da Mulher e do Idoso, na madrugada desta quinta-feira, 28.

O resultado da votação foi considerado por alguns deputados como mais uma manobra do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que não considerou o resultado inicial para adiar a deliberação da matéria, fez uma nova votação e convenceu os oposicionistas de que, sem os novos colegiados, eles poderiam ficar sem vagas.

Também foi aprovado um substitutivo apresentado pelo deputado João Campos (PRB-GO) ao Projeto de Resolução 8/07, da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA).

No texto, Campos inclui na Comissão de Seguridade Social e Família a atribuição de analisar temas relacionados ao nascituro. A emenda foi chamada de "jabuti" por alguns parlamentares, o que significa incluir questões sem relação direta com a medida analisada.

Campos, que faz parte da bancada religiosa, justificou a inclusão do termo afirmando que matérias sobre o aborto têm tido dificuldade de tramitação na Casa.

Atualmente, questões relacionadas ao tema não são expressamente atribuídas a nenhum colegiado.

"Com a criação da comissão da Mulher surgirá a dúvida de qual é a competência dos direitos do nascituro, já que as feministas entendem que o tema aborto diz respeito apenas às mulheres e não ao nascituro e nós entendemos que o tema aborto diz respeito tanto à mulher quanto ao nascituro."

Diversas deputadas criticaram o uso da expressão "direito do nascituro", por se tratar de uma nomenclatura que, segundo elas, reforça posição contrária aos que defendem o direito de as mulheres decidirem sobre a própria gravidez.

As parlamentares também contestaram que não foram questionadas sobre a mudança no projeto e que as causas feministas já são acolhidas, discutidas e votadas em outras comissões.

Luiza Erundina (Psol-SP) avaliou que o texto pode comprometer conquistas históricas das mulheres. Já a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), classificou as novas comissões como um "faz-de-conta".

Confusão

No início da votação, revoltados com a decisão do presidente da Casa de rejeitar um requerimento pela retirada da pauta do projeto da criação das comissões da Mulher e do Idoso, quando a maioria dos votos era favorável a adiar a análise da matéria por duas sessões, parlamentares começaram a gritar "não", "fora Cunha" e "golpista".

Depois, cerca de 30 deputados lotaram a tribuna para protestar contra a decisão.

Após votação digital no painel, a confusão teve início quando Cunha pediu para que os que aprovassem a medida levantassem a mão, sem dar tempo para que os parlamentares se manifestassem.

Em rápida decisão, ele decidiu que daria sequência à votação. Deputados apelaram para que fosse feita votação nominal para verificar a contagem dos votos novamente, porém os pedidos foram negados pelo presidente.

Segundo os parlamentares contrários à matéria, Cunha e seus aliados querem criar os dois colegiados apenas para acomodar novos partidos e redirecionar cargos.

A bancada feminina também defende que não faz sentido criar uma comissão específica para as mulheres, pois a medida apenas aumentaria a burocracia, além de poder esvaziar o quórum de outros colegiados. Depois da confusão, a sessão foi suspensa e retomada após cerca de 40 minutos.

Neste período, a oposição mudou de opinião e decidiu votar pela criação das novas comissões.

Na tarde desta quarta-feira, o plenário da Câmara aprovou um projeto de resolução que muda a condição de voto dos suplentes nas comissões da Casa.

A proposta original previa que o Conselho de Ética também fosse incluído na mudança, mas o grupo contrário à Eduardo Cunha conseguiu impedir a manobra, que poderia beneficiar o peemedebista no processo por quebra de decoro parlamentar em curso.

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