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Crises frequentes ameaçam "lua de mel" do governo Bolsonaro com Congresso

A frequente interferência da família Bolsonaro em assuntos de governo causou ontem estrago com potencial comprometimento da reforma da Previdência

Bolsonaro: governo pode ter a menor lua de mel de um presidente eleito com mais de 57 milhões de votos dos brasileiros (Ueslei Marcelino/Reuters)

Bolsonaro: governo pode ter a menor lua de mel de um presidente eleito com mais de 57 milhões de votos dos brasileiros (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 23 de março de 2019 às 08h05.

Última atualização em 23 de março de 2019 às 08h05.

Sem conseguir formar uma ponte sólida com o Legislativo desde que se elegeu, o presidente Jair Bolsonaro pode ter a menor lua de mel de um presidente eleito com mais de 57 milhões de votos dos brasileiros.

A frequente interferência da família Bolsonaro em assuntos de governo causou ontem estrago com potencial comprometimento da reforma da Previdência, proposta vista como crucial para o sucesso da gestão do militar reformado.

Além de colocar a reforma em banho-maria, deputados negociam derrubar decreto presidencial que isenta americanos, canadenses, japoneses e australianos do visto de visitante.

Decreto legislativo, que propõe invalidar a decisão anunciada em Washington ao lado do presidente Donald Trump, foi apresentado pelo PSOL e ganhou a adesão de ao menos dez partidos da Câmara, incluindo aliados do governo como é o caso do PP, terceira maior bancada da Câmara.

"O decreto que isenta o visto nos rebaixou a cidadãos de quarta categoria. Ele fere o princípio da reciprocidade nas relações exteriores e é abusivo. Bolsonaro não pode fazer essa graça não”, disse o líder do PP na Câmara, Arthur Lira.

A anulação do decreto já vinha sendo discutida por alguns congressistas, mas ganhou força depois que Carlos Bolsonaro, filho de Bolsonaro, fez uma provocação ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, nas redes sociais, em meio às prisões do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Wellington Moreira Franco.

No dia das prisões, Carlos questionou por que Maia, que é genro de Franco, anda "tão nervoso". Enquanto isso, Bolsonaro estava fora do país, em viagem ao Chile, de onde deve retornar no sábado

Antes dessa postagem, Maia foi cobrado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, a agilizar a tramitação do seu projeto anticrime. Maia não gostou da cobrança e declarou que a Previdência é prioridade, e que não aceitará palpite de funcionário do Executivo que não entende de política.

O presidente da Câmara é o maior entusiasta e fiador da reforma previdenciária. Se o ambiente na Esplanada já estava ruim pela prisão de Temer nesta quinta-feira, azedou de vez com o comportamento de Carlos.

Líderes dos principais partidos do Congresso se reuniram com Maia e pediram que ele pare de se comportar como articulador da aprovação da reforma e deixe esse papel ao governo, pai do projeto.

“Pedimos que Rodrigo se recolha à sua função institucional e que saia da articulação que ele tomou para si, por responsabilidade com o país, porque não é papel dele", disse Lira em entrevista. “Quem tem obrigação de viabilizar a nova Previdência e correr atrás de votos é o governo”.

O deputado Elmar Nascimento (DEM), que lidera o partido de Maia, disse que conversou com o presidente da Câmara e que ouviu dele que Maia está fora de qualquer esforço de articulação pró-governo. "A paciência dos deputados acabou", afirmou, relatando que o ambiente na Casa está muito ruim. "Com a saída de Rodrigo, não existe mais interlocução", afirmou Nascimento.

O deputado Domingos Neto (PSD-CE), que integra a quarta maior bancada da Câmara, chamou a militância digital de Bolsonaro de “pouco inteligente". Internautas elevaram o tom dos ataques a Maia após o imbróglio com Moro e Carlos.

“Não é uma estratégia inteligente de parte da militância do presidente hostilizar Maia. Todos percebem que ele é o maior articulador da reforma, e a turma do propositor dela ataca seu maior defensor. É inacreditável", resume o parlamentar.

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