CPI aprova quebra de sigilo de Ricardo Barros, líder do governo
Comissão também adiou a convocação do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, em seu primeiro dia de sessão depois do recesso do Congresso
Da redação, com agências
Publicado em 3 de agosto de 2021 às 15h13.
Última atualização em 3 de agosto de 2021 às 15h48.
A CPI da Covid no Senado aprovou, nesta terça-feira, a quebra de sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático do líder do governo da Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) e adiou a convocação do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, em seu primeiro dia de sessão depois do recesso do Congresso.
Barros teria sido citado pelo presidente Jair Bolsonaro, segundo o deputado Luís Miranda (DEM-DF), como envolvido nas irregularidades nas negociações da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, representado na época pela empresa Precisa Medicamentos.
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Segundo Miranda, ao contar ao presidente Jair Bolsonaro sobre as pressões que seu irmão, o servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda, estava sofrendo para liberar a compra da Covaxin — que ainda não tinha aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( Anvisa ) e era o valor mais alto entre as vacinas compradas pelo ministério —, ouviu de Bolsonaro que era "esquema" de Barros.
O líder do governo nega as acusações e tem cobrado os senadores para ser ouvido. Seu depoimento está marcado para a próxima semana, mas os senadores queriam ter em mãos as quebras de sigilo antes de ouvi-lo.
Em meio as mais de uma centena de requerimentos aprovados, estão também as quebras de sigilos de sites e blogs bolsonaristas e seus autores, acusados de divulgarem informações falsas sobre a pandemia.
O requerimento sobre a rádio Jovem Pan, que estava incluído nesse grupo, foi retirado pelo relator, senador Renan Calheiros.
Também foi retirado de pauta um dos requerimentos mais polêmicos, o da convocação do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). O ministro ocupava a Casa Civil até abril deste e coordenou o grupo ministerial de combate à Covid-19.
Diante da resistência à convocação, inclusive de senadores do chamado grupo independente, como Otto Allencar (PSD-BA). Vieira preferiu a retirada de pauta, mas prometeu reapresentar futuramente o requerimento.
Já Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, será reconvocado pela CPI, depois de já ter comparecido em junho. Responsável direto pela negociação de vacinas, Franco é um dos principais alvos da CPI.
A CPI também aprovou a apresentação de pedido judicial para o afastamento de Mayra Isabel Correia Pinheiro, conhecida como "capitã cloroquina", do cargo público de Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde.
Reverendo admite ter esperado doação
O reverendo Amilton Gomes de Paula admitiu que havia uma expectativa de a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) receber uma doação ao intermediar o acesso da empresa Davati ao Ministério da Saúde. A Davati tentou vender vacinas ao governo sem comprovar a capacidade de entregar as doses.
Em depoimento na CPI da Covid, o reverendo declarou que acionou o ministério apenas de forma formal, por meio de e-mails institucionais, e negou ter alguma relação que tenha facilitado os contatos dele na negociação. A versão causou estranheza de senadores, que suspeitam de favorecimento do governo. O pastor alegou que não recebeu aval de nenhuma autoridade pública para a intermediação.
Ao ser questionado pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES), ele afirmou que não fez nenhum acordo com a Davati, mas admitiu conversas sobre uma doação para a ONG que representa. "Não foi estabelecido nenhum valor. Desde o início, falava-se sobre doação", declarou. De acordo com o reverendo, a atuação dele era apenas "humanitária". Ele negou conhecer pessoas no governo ou pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro. "O nosso interesse era extremamente humanitária." O reverendo disse ainda que "doação não é ilegal, não caracteriza vantagem."
(Com Estadão Conteúdo e Reuters)
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