Brasil

Combate à pornografia infantil cresce, mas não atinge produtores

De 2014 para 2017, as ações passaram de 66 para 110, alta de 66%, mas a polícia não consegue chegar às pessoas que produzem o material

Pornografia: o fato de a maior parte dos vídeos e das fotos ser produzida fora do Brasil dificulta o rastreamento dos criminosos (iStock/Thinkstock)

Pornografia: o fato de a maior parte dos vídeos e das fotos ser produzida fora do Brasil dificulta o rastreamento dos criminosos (iStock/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de março de 2018 às 08h53.

São Paulo - Com o aumento das incursões da Polícia Federal na chamada "deep web" - ambiente virtual onde os internautas não são rastreados -, o número de operações para combater o compartilhamento de pornografia infantil bateu recorde no País.

De 2014 para 2017, as ações passaram de 66 para 110, alta de 66%, segundo relatório da PF obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo. Apesar do crescimento, a polícia ainda não consegue chegar às pessoas que produzem o material.

A maior parte das operações da PF identificou quem compartilha o material. O fato de a maior parte dos vídeos e das fotos ser produzida fora do Brasil dificulta o rastreamento dos criminosos.

Realização de operações menores, aumento do uso da deep web por brasileiros e aperfeiçoamento das ferramentas de investigação e cooperação internacional são motivos apontados por especialistas para explicar os números.

O crescimento das operações contra pornografia infantil reflete o aumento de denúncias às autoridades. Segundo a ONG SaferNet, a Polícia Federal recebeu 35,6 mil denúncias em 2016 (último dado disponível) - a maior quantidade desde 2011.

A rede social Facebook é a hospedeira mais comum do conteúdo denunciado, com 4,1 mil páginas citadas em 2016. Procurado, o Facebook diz ter "tolerância zero com a exploração de imagens infantis" e trabalhar "duro para prevenir e remover conteúdos dessa natureza".

Além de receber denúncias do próprio País, a PF tem apoio internacional. Empresas com sede nos Estados Unidos, como o Facebook, produzem relatórios com todas as imagens de pornografia infantil que encontram em seus servidores, com informações que dispõem sobre quem as publicou.

Os dados são encaminhados à ONG americana National Center for Missing & Exploited Children (Nicmec), que os repassa ao país de onde as imagens foram enviadas.

Foi por meio da cooperação internacional que a PF deflagrou, em abril de 2016, a Operação Jizô, com mandados de busca e apreensão em Porto Alegre, Novo Hamburgo e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

A maior parte das operações conjuntas é relacionada à busca e apreensão. É importante que os materiais pornográficos sejam retidos e os responsáveis, identificados.

"O Nicmec identifica, pelo número do IP (cada computador ligado à internet tem um), o país de acesso e envia o relatório para a autoridade local. Assim, a polícia chega mais facilmente ao local, com mandado de busca e apreensão. Se for encontrada imagem no celular, computador ou laptop na residência do suspeito, o dono é preso em flagrante", diz o presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares.

"Esses novos meios digitais (deep web) passam a ser usados como meio ou fim de delitos pelos criminosos", diz a procuradora da República Jaqueline Buffon, do Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul.

Ela coordenou no MPF a Operação Darknet, a primeira com foco exclusivo em fotos e vídeos compartilhados na deep web.

Lei de 2013

A apuração dos responsáveis foi possível porque os investigadores fizeram uso da lei das organizações criminosas, de 2013, que permitiu a infiltração de policiais. Foram investigados os usuários mais frequentes, que compartilhavam milhares de arquivos de pornografia infantil.

A operação ocorreu em duas fases (2014 e 2016) e resultou em mais de cem mandados de busca e apreensão e 51 prisões no País, de técnicos de informática, estudantes e até professores.

"A profissão e a idade variam muito e, em geral, eles têm algum conhecimento em informática", diz o delegado Rodrigo Sanfurgo, do Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos da PF em São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Criançascrimes-digitaisPornografiaPrisões

Mais de Brasil

Mais de 600 mil imóveis estão sem luz em SP após chuva intensa

Ao lado de Galípolo, Lula diz que não haverá interferência do governo no Banco Central

Prefeito de BH, Fuad Noman vai para a UTI após apresentar sangramento intestinal secundário

Veja os melhores horários para viajar no Natal em SP, segundo estimativas da Artesp