Brasil

Com suspeição de Moro travada no STF, Lula fala pela primeira vez hoje

Em primeira declaração após anulação de suas condenações, Lula deve acenar a apoiadores, mas também intensificar as críticas contra a gestão Bolsonaro

Lula: está empatado no STF julgamento sobre suspeição de Moro, que impactaria sentença do ex-presidente (Amanda Perobelli/Reuters)

Lula: está empatado no STF julgamento sobre suspeição de Moro, que impactaria sentença do ex-presidente (Amanda Perobelli/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 10 de março de 2021 às 06h00.

Esta reportagem faz parte da newsletter EXAME Desperta. Assine gratuitamente e receba todas as manhãs um resumo dos assuntos que serão notícia.

Os próximos passos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficarão mais claros nesta quarta-feira, 10. Após ter adiado uma aparição pública ontem, Lula concederá uma entrevista coletiva nesta manhã, no que será sua primeira fala desde que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu anular as condenações contra o ex-presidente.

Lula falará às 11 horas, da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP) — mesmo local em que começou sua carreira política e o mesmo em que, há quase três anos, era levado preso pela Polícia Federal. A entrevista será transmitida também nas redes sociais do ex-presidente.

A expectativa é que Lula acene aos apoiadores mais assíduos e volte a reforçar sua inocência contra as acusações da Lava Jato. Mas deve também buscar falar a uma parcela da população desacreditada com a gestão do presidente Jair Bolsonaro. Temas como a inflação dos alimentos e a gestão na pandemia devem aparecer, em uma prévia do que pode ser a campanha em 2022.

A decisão de Fachin, na segunda-feira, 8, pegou parte do STF de surpresa e virou de cabeça para baixo o jogo político no Brasil ao tornar Lula elegível até que seja novamente julgado. O ministro julgou que a Justiça Federal em Curitiba, que condenou Lula, não era competente para julgar o caso. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, chegou a fechar o pregão em queda de 4% horas depois, em meio às novas preocupações do mercado financeiro sobre a participação de Lula na eleição de 2022.

Mesmo com Lula podendo voltar ao páreo, as principais sondagens indicam que o presidente Jair Bolsonaro é ainda favorito ao pleito do ano que vem. As últimas pesquisas EXAME/IDEIA (feitas antes da decisão de Fachin) apontam que Bolsonaro seria até então provavelmente reeleito, com mais de 30% dos votos no primeiro turno e 17% de Lula. A aprovação do presidente, embora em leve queda, também segue na casa dos 30%

Mas Lula e seus aliados apostam nas críticas crescentes a Bolsonaro e na memória afetiva que o ex-presidente tem junto a parte do eleitorado para virar o jogo. Chamou a atenção nos últimos dias uma pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) em que o petista aparece liderando em possibilidade de votos: 50% dos entrevistados do Ipec disseram que escolheriam com certeza ou poderiam escolher Lula em 2022, ante 38% que disseram o mesmo sobre Bolsonaro.

MAIS SOBRE O CASO LULA

A partir de agora, o grande questionamento é, primeiro, se Lula confirmará uma candidatura à Presidência em 2022 e, em caso positivo, como pretende construir uma coalizão para chegar lá. O nome de Fernando Haddad (PT), que foi vice de Lula em 2018 e depois candidato quando o ex-presidente foi preso, era até então o mais cotado para a candidatura do PT na próxima eleição.

Agora, não se sabe se o PT disputará com uma chapa pura, como fez em 2018 antes da prisão de Lula, ou se buscará alguma aliança. Aparecem como possibilidades em outros partidos nomes como Flávio Dino (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB, vice de Haddad em 2018). Já Ciro Gomes (PDT), que foi criticado por parte do grupo à esquerda por não participar abertamente da campanha de Haddad na última eleição, fez declarações duras sobre uma possível candidatura petista nos últimos dias. "Não contem comigo para esse circo", chegou a dizer.

É improvável que Lula anuncie hoje mais detalhes sobre uma possível chapa, mas algum tipo de aceno a aliados pode mostrar como estão as alianças no campo da esquerda.

Lula passou 580 dias preso em Curitiba. Desde que saiu da prisão, no entanto, suas falas têm gerado pouca movimentação mesmo entre apoiadores, com poucas exceções. A decisão de Fachin — que foi comentada por uma maioria de grupos mais neutros nas redes sociais — pode ser o combustível que faltava para que o ex-presidente volte a ganhar força.

A entrevista de Lula acontece ainda um dia após o STF paralisar o julgamento sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, em uma outra frente de debate no Supremo. Pautada hoje pelo ministro Gilmar Mendes, a votação na Segunda Turna sobre a suspeição está agora empatada em 2x2. O voto de Minerva ficou nas mãos do ministro Kassio Nunes Marques, o ministro mais novo da Corte, indicado no ano passado pelo presidente Bolsonaro. Marques pediu hoje vista do processo, paralisando a votação.

O processo foi iniciado após o vazamento de mensagens da força tarefa em Curitiba, em mensagens publicadas pelo site The Intercept (episódio que ficou conhecido como "Vaza Jato"). Uma suspeição anularia as sentenças de Moro na Lava Jato, incluindo sobre Lula, e praticamente confirmaria a possibilidade de o ex-presidente concorrer em 2022.

Lula estava, inclusive, previsto para falar ainda na terça-feira, 9, mas adiou a aparição para hoje de modo a aguardar o resultado do julgamento. A semana no Brasil não pode ser acusada de pouco movimentada.


O podcast EXAME Política vai ao ar todas as sextas-feiras com os principais temas da política brasileira. Siga em sua plataforma de áudio preferida e não deixe de acompanhar os próximos programas.

Acompanhe tudo sobre:Eleições 2022Exame HojeLuiz Inácio Lula da SilvaSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

CRV digital: o que é e como baixar o documento

Delegado da Polícia Federal é nomeado como Secretário-Geral da Interpol

Câmara aprova projeto que criminaliza fotos e filmagem de nudez em local público sem consentimento