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Cidade de Deus ganhará banco comunitário no ano que vem

Instituição terá uma moeda própria, com mesma paridade do real, mas de circulação restrita à comunidade

Cidade de Deus, zona norte carioca: chegada da UPP tranquilizou moradores e abriu espaço para negócio (Eduardo Monteiro/Site Exame)
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Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2010 às 12h41.

Rio de Janeiro - Não precisa ser comerciante para saber que o crédito barato permite investimentos na produção, mais empregos e mais riqueza. É o que pensa a líder comunitária Ana Lúcia Pereira Serafim, administradora de um projeto que prevê a criação do primeiro banco comunitário da cidade do Rio, na Cidade de Deus, zona oeste.

Na comunidade de 65 mil habitantes, a ideia é incentivar a produção de pequenas associações, cooperativas e o consumo. "Lá tem muito comércio. É muita gente. Tem lan house, cabeleireiro, barriquinha de cachorro quente e pessoal que faz reciclagem, por exemplo. São pessoas que precisam de uma força, de capital de giro para melhorar seus negócios", diz Ana Lúcia.

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Para criação do banco, ainda sem nome, uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vai identificar todas as atividades comerciais e os serviços oferecidos na comunidade, além da renda dos trabalhadores. O objetivo é estimar o fluxo de dinheiro que gira na Cidade de Deus. A pesquisa contratará moradores da comunidade.

O banco de Cidade de Deus foi inspirado no Instituto Palmas, o banco comunitário do Conjunto Palmeira, na periferia de Fortaleza (CE). Será instalado em Cidades de Deus porque conta com comerciantes e associações comunitárias que já formam uma rede de economia solidária, mesmo sem saber. Frequentemente, até organizam trocas e vendas em feiras na própria comunidade.

"Os bancos que existem não nos dão muito apoio. As pessoas acabam muito endividadas. Com os juros que eles aplicam, não vale a pena. Com esse banco, um negócio que a gente ainda precisa entender direito, conseguiremos oferecer empréstimos pequenos. A dona Maria da padaria vai conseguir pagar", acrescentou a líder comunitária.

Assim como a instituição modelo, o banco carioca terá uma moeda própria, com mesma paridade do real, mas de circulação restrita à comunidade. A principal vantagem disso, de acordo com o secretario de Desenvolvimento Econômico Solidário, que articula a criação do banco com a comunidade, Marcelo Henrique da Costa, é fazer com que as pessoas comprem na comunidade.

"O açougueiro da Cidade de Deus pode oferecer um quilo de carne por R$ 10 e a 8 na moeda local", exemplificou o secretário. "Isso faz com que as pessoas comprem na comunidade. Por isso, levantaremos a cadeia de consumo, na tentativa de ofertar a mais serviços e produtos aos moradores."

Com apoio de instituições públicas, o banco comunitário abrirá em meados de 2011. Até lá, os comerciantes devem receber treinamento em economia solidária para planejar melhor seus negócios. "Esse é um sistema autogestionado, que não tem patrão, no qual o lucro é compartilhado e a produção é limpa", diz a coordenadora do curso da prefeitura, Adriana Bezerra.

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