Brasil

"Chuva de verão": o embate entre Maia e Bolsonaro resumido em uma conversa

Há cerca de uma semana, o presidente do país e o presidente da Câmara acumulam declarações provocativas

Maia e Bolsonaro: crise entre poderes prejudica andamento de pautas, como a reforma da Previdência (Wilson Dias/Agência Brasil)

Maia e Bolsonaro: crise entre poderes prejudica andamento de pautas, como a reforma da Previdência (Wilson Dias/Agência Brasil)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 28 de março de 2019 às 12h15.

Última atualização em 28 de março de 2019 às 12h30.

São Paulo — Os atritos dos últimos dias entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acendeu um alerta sobre a relação entre Executivo e Legislativo, envolvendo o futuro das articulações do governo.

Desde a última sexta-feira, quando Maia ameaçou abandonar a reforma da Previdência por conta de tuítes do filho do presidente, Carlos, a relação entre os dois azedou. Durante toda a semana, Maia e Bolsonaro colecionaram uma série de declarações provocativas.

Nesta quarta-feira (28), as trocas de farpas se intensificaram. Em entrevista à Band, o presidente disse que o líder da Câmara "está abalado por questões pessoais da vida dele", em uma possível referência a Moreira Franco, padrasto da mulher do deputado, e que foi preso na semana passada.

Em seguida, Maia retrucou afirmando que "abalados estão os brasileiros que esperam desde janeiro que o Brasil comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, capacidade de investimento diminuindo. Está na hora de pararmos com esse tipo de brincadeira. Está na hora dele (Bolsonaro) sentar na cadeira e, em conjunto, resolvermos os problemas do Brasil", declarou.

A repercussão dos embates foi negativa entre executivos. A quinta-feira (28) começou com investidores afirmando que o mercado perdeu a confiança e a paciência com o governo. O dólar abriu superando o patamar de 4 reais.

Para apaziguar os ânimos, no começo da manhã desta quinta-feira (28), Bolsonaro disse que a crise com o Maia é página virada e que da sua parte não há qualquer problema com o parlamentar.

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Linha do tempo

20 de março — Maia chama projeto de Moro de “copia e cola”

Uma declaração de Rodrigo Maia sobre Sérgio Moro foi o gatilho para os desentendimentos entre o poder Executivo e Legislativo. Na ocasião, o presidente da Câmara disse que o projeto anticrime do ministro é um “copia e cola” de uma proposta apresentada por seu antecessor na pasta, o hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

23 de março — Maia ameaça deixar articulação pela reforma caso Carlos não seja “contido”

O presidente da Câmara avisou Paulo Guedes que deixaria a articulação política pela reforma da Previdência, após ler mais um post do vereador Carlos Bolsonaro, com fortes críticas a ele. Irritado, o deputado telefonou para Guedes e disse que, se é para ser atacado nas redes sociais por filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda.

23 de março — “O que é articulação? O que falta eu fazer?”, pergunta Bolsonaro

Na ocasião, Bolsonaro afirmou que não vai entrar em um “campo de batalha” que não é o seu, ao se referir à cobrança do presidente da Câmara para que ele assuma a liderança pela articulação da reforma da Previdência. Além disso, Bolsonaro voltou a jogar a responsabilidade da proposta sobre Maia e o Congresso e disse não saber porque o parlamentar anda tão “agressivo”.

25 de março — Em jantar, Maia e lideranças falam em “baixar a temperatura”

A repercussão negativa do embate entre os dois políticos fez com que ambos tentassem melhorar a relação. Durante um jantar, lideranças do Centrão decidiram tentar “baixar a temperatura” da crise instalada entre o Executivo e o Parlamento.

25 de março — Em reunião, Bolsonaro pede foco na reforma e pacificação no Congresso

Em encontro com ministros, o presidente recomendou foco total para tentar viabilizar a proposta da reforma da Previdência, que enfrenta resistência no Congresso e é vista como o principal projeto do governo nos primeiros meses da administração. Após as divergências públicas com Maia, o presidente também recomendou que os ministros busquem “pacificação” com a Casa.

27 de março — Bolsonaro diz que Maia está abalado por problemas na vida pessoal

Apesar da tentativa de conciliação, o presidente afirmou ontem que Maia está "abalado por problemas na vida pessoal". Para o líder do Executivo, parlamentares estão fazendo “tempestade em copo d’água”. Ele garantiu, no entanto, que se encontrará com Maia quando voltar da viagem que fará a Israel no próximo fim de semana. “Nós vamos nos encontrar. Da minha parte, a minha mão está sempre estendida. Todo mundo tem responsabilidade com o Brasil”, afirmou.

27 de março — Abalados estão brasileiros, que esperam Brasil funcionar, diz Maia a Bolsonaro

Após a declaração de Bolsonaro, o presidente da Câmara pediu o fim da “brincadeira” e disse que o país passe a ser levado a sério. “Abalados estão os brasileiros que esperam desde janeiro que o Brasil comece a funcionar”, disse ao ser questionado sobre as declarações do presidente. “São 12 milhões de desempregados, capacidade de investimento diminuindo”, citou. “Está na hora de pararmos com esse tipo de brincadeira. Está na hora dele (Bolsonaro) sentar na cadeira e, em conjunto, resolvermos os problemas do Brasil”, declarou.

28 de março — Bolsonaro diz que briga com Maia foi “chuva de verão” e é página virada

O presidente disse que a crise com o presidente da Câmara é página virada e que da sua parte não há qualquer problema com o parlamentar, com quem vinha trocando farpas pela imprensa nas últimas semanas. “Para mim isso foi uma chuva de verão. O Brasil está acima de todos”, disse. “Da minha parte não tem problema nenhum. Vamos em frente. Página virada.”

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