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Chapecó se prepara para velar seus mortos

A grande maioria dos 71 falecidos será velada no estádio Arena Condá, na cidade catarinense

Vítimas da tragédia: após o pouso em Chapecó, começará um cortejo fúnebre até a Arena Condá, onde os corpos serão velados (Jaime Saldarriaga/Reuters)
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AFP

Publicado em 3 de dezembro de 2016 às 08h38.

São Paulo - Chapecó aguardava neste sábado os corpos dos jogadores que haviam enchido a cidade de esperança com uma campanha espetacular na Copa Sul-Americana, que acabou tragicamente em um acidente aéreo nas montanhas de Medellín.

Dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) pousarão, entre as 09h e 10h locais, com os corpos dos 51 membros da delegação do time revelação da Sul-Americana.

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Três aviões partiram com os caixões de Medellín, mas os corpos foram realocados em duas aeronaves durante a escala de reabastecimento em Manaus, indicou à AFP a assessoria de imprensa da FAB.

"Foi por uma questão logística, não havia a necessidade de três", explicou.

A decolagem de Manaus foi realizada às 03h40 locais, com um atraso de duas horas em relação ao horário previsto. Isso ocorreu depois que autoridades e moradores da cidade amazônica se dirigiram à base aérea para prestar homenagem às vítimas do acidente, indicou o porta-voz, sem divulgar mais detalhes.

Chapecó, capital da dor

Após o pouso em Chapecó, começará um cortejo fúnebre até a Arena Condá, o mesmo estádio que transbordava de felicidade há dez dias.

Sob o único arco que segue em pé, o goleiro Danilo fez a defesa milagrosa no último minuto de jogo, o que permitiu à Chapecoense chegar à tão sonhada final contra o colombiano Atlético Nacional.

Sem assimilar ainda sua perda, Ilaide Padilha, mãe de Danilo, voltou na sexta-feira ao estádio onde seu filho de 31 anos foi tantas vezes feliz.

"A sensação é horrível, de olhar e saber que meu filho vai chegar aqui dentro de um caixão. É muito triste lembrar das defesas, não só aquela (contra o San Lorenzo), mas os pênaltis (defendeu quatro contra Independiente nas quartas) e ele correndo pelo gramado com os braços abertos, vibrando", revelou Ilaide.

O clube estima que até 100 mil pessoas poderão chegar para o velório, e adverte que a grande maioria não terá acesso à Arena Condá. Foram instalados dois telões nos arredores do estádio para que a multidão possa acompanhar a cerimônia.

Desafio logístico

Segundo os organizadores, os torcedores que tiverem acesso aos 19 mil lugares nas arquibancadas do estádio não poderão descer ao gramado para se aproximar dos caixões.

O maior desafio logístico dos 99 anos de história da catarinense Chapecó é agravado pela presença de diferentes autoridades e figuras do futebol, que irão à cidade para mostrar seu pesar diante do pior acidente aéreo do esporte mundial.

O presidente Michel Temer participará de uma cerimônia no aeroporto da cidade, informou a presidência. Também confirmaram presença o presidente da Fifa, Gianni Infantino, e Tite, o técnico da seleção brasileira.

A grande maioria dos 71 falecidos serão velados no estádio. Os outros eram tripulantes bolivianos ou jornalistas de grandes meios de comunicação que fretaram voos para transferir os corpos, indicou à AFP um porta-voz da FAB.

Temendo um ato infinito sob o inclemente sol de verão, a Chapecoense descartou a opção de os torcedores terem acesso ao gramado, e planeja concluir a cerimônia em apenas duas horas, após o qual as famílias poderão viajar com seus mortos para os locais de origem. A maioria do plantel era de fora de Chapecó.

Indignação

Sobre o gramado da Arena Condá eram instaladas na sexta-feira barracas metálicas na área de um dos gols removidos, à qual terão acesso neste sábado cerca de 2 mil pessoas, entre familiares, amigos das vítimas e autoridades.

Chapecó agora só quer se despedir em paz dos que foram o coração da cidade nos últimos anos. Uma equipe jovem que crescia e se atrevia a ser otimista em um Brasil maltratado pela crise.

Mas enquanto surgem novos detalhes sobre o acidente e os meios de comunicação apontam para possíveis negligências, a indignação começa a se somar ao luto que domina uma cidade com fortes convicções religiosas.

"Existe esta irritação, mas ao mesmo tempo sentimos a dor da perda. Claro que todo mundo está irritado com o que aconteceu. Foi um erro (do piloto). Ele derrubou o avião da nossa Chapecoense e agora não os temos mais", disse à AFP Daniela Nunes, vendedora de 23 anos.

Segundo a principal hipótese dos investigadores, o avião se acidentou antes de chegar ao aeroporto José María Córdova de Medellín por falta de combustível.

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