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Chacina em Manaus coloca detentos aliados de 2017 em lados opostos

Três detentos agora assassinados eram acusados de, no massacre de 2017, terem matado com crueldade colegas presidiários do Compaj

Manaus: ataques em cadeias desde o domingo, 26, deixaram 55 mortos (Bruno Kelly/Reuters)

Manaus: ataques em cadeias desde o domingo, 26, deixaram 55 mortos (Bruno Kelly/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de maio de 2019 às 11h39.

Manaus — Os ataques em cadeias de Manaus desde o domingo, 26, nos quais morreram 55 presos, colocou em lados opostos presos antes considerados aliados. Três detentos agora assassinados eram acusados de, no massacre de 2017, terem matado com crueldade colegas presidiários do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). Nessa unidade, houve 56 mortes em 1.º de janeiro de 2017. Nesta semana, mais 19 óbitos de presos foram registrados no local.

Por outro lado, entre os presos apontados como mandantes dos ataques mais recentes nas cadeias, ao menos dois já apareciam com papel de protagonistas no massacre de 2017. Isso mostra que eles continuam a desempenhar cargo de influência no Compaj e na Família do Norte (FDN), maior facção da Região Norte do País, que controla a rota de escoamento de cocaína pelo Rio Solimões.

Na chacina de 2017, os presos haviam atacado rivais do Primeiro Comando Capital (PCC), grupo com o qual disputavam o comando do tráfico de drogas na região. Desta vez, eles miraram antigos aliados da FDN, que está rachada.

Nesta semana, o governo transferiu nove detentos para presídios federais com o intuito de isolá-los e de interromper a onda de assassinatos nas cadeias. Entre eles está Janes Cruz, o Caroço. Segundo o governo do Amazonas, ele teve papel decisivo nos crimes cometidos no Compaj nesta semana.

O nome dele já aparecia em denúncia do Ministério Público (MP) à Justiça em 2017 como um dos líderes da rebelião daquele ano. O processo que denunciou 213 presos pelo massacre ainda tramita na Justiça.

Aponta o documento da época que Cruz foi indicado por 25 testemunhas como um dos líderes da FDN no Compaj. "Foi visto atirando contra o policial que fazia a guarda da portaria e participando do grupo de internos que invadiu a inclusão. Teve ação decisiva nas mortes e esquartejamentos ocorridos na quadra do Pavilhão 3", descreve o documento do MP.

"O que aconteceu depois de 2017 foi uma relativa calmaria. O grupo criminoso dominante tinha usado uma ação cruel e exibicionista para mostrar quem mandava ali. Com isso, houve o recuo de grupos rivais, amedrontados", diz o promotor Edinaldo Medeiros, que apresentou a denúncia contra 213 presos em 2017.

Já entre os mortos desta semana, está Naelson Picanço, o "Pulguinha". Segundo o MP, com base no relato de testemunhas de 2017, ele foi responsável naquela época por esquartejar vários corpos, "inclusive arrancou o olho de uma vítima e passou a brincar com ele".

Segundo Medeiros, na investigação de 2017, testemunhas já apontavam o Compaj como a "célula mater" do crime organizado no Amazonas. O promotor pediu afastamento do MP após uma lista ser divulgada pela FDN com nomes de alvos que deveriam ser executados.

90 dias

A força-tarefa de intervenção penitenciária do Ministério da Justiça e da Segurança no Amazonas vai ficar no Estado por 90 dias, contados a partir de terça-feira, 28.

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