Exame Logo

Cerveró pode ter dado prejuízo de US$ 700 milhões em Angola

O ex-diretor de Internacional da Petrobras foi apontado na Polícia Federal por suposto prejuízo proposital em negócio de exploração em Angola

Nestor Cerveró: negócio de US$ 700 milhões teria gerado prejuízo proposital como forma de desviar recursos (Ueslei Marcelino/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 21h51.

São Paulo - O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi apontado na Polícia Federal por suposto prejuízo proposital em um negócio de exploração de petróleo em Angola , na África, que teria gerado um dispêndio de US$ 700 milhões.

O caso passou a ser investigado após depoimento prestado sob sigilo por um funcionário de carreira da estatal, no Rio, que procurou os policiais um mês após ser deflagrada a Operação Lava Jato , em março de 2014.

O informante citou o nome de Cerveró - preso na Operação Lava Jato - em um negócio de US$ 700 milhões, que contrariou pareceres internos, e teria gerado prejuízo proposital como forma de desviar recursos públicos.

Funcionário de carreira com 30 anos de serviços prestados à Petrobras, o informante procurou os delegados para denunciar indícios de crimes e "má gestão proposital" na estatal.

"Um dos projetos que teve como objetivo o prejuízo internacional da Petrobras foi o bloco de exploração em Angola", afirmou o informante em depoimento de quatro horas, realizado no dia 28 de abril de 2014, no Rio.

Conta ele que quando foi aberto leilão internacional para compra dos direitos de exploração de blocos petrolíferos em Angola, a estatal analisou o negócio. "Diversos pareceres de geólogos da Petrobras foram redigidos analisando o potencial de exploração de cada um deles. Estes pareces apontavam indícios de que a Petrobras não deveria sequer praticar do leilão, pois não havia indícios de lucros ou rentabilidade na exploração de tais áreas."

Com base nesses pareceres, a Petrobras não entrou no leilão. "Alguns anos depois, a Petrobras decidiu comprar 50% dos direitos de exploração deste poços arrematados no leilão pelo mesmo valor que a empresa inicial arrematou a totalidade".

A empresa vencedora teria pago US$ 500 milhões pelo negócio na época do leilão. O custo de 50% do direito aos blocos, no entanto, custou à Petrobras "exatamente a mesma quantia paga anos antes por 100% dos direitos" - US$ 500 milhões.

"Existem indícios de que o dinheiro repassado à ganhadora do leilão foi uma forma de desvia-lo da Petrobras e sugere que se investigue se houve retorno deste capital ao Brasil ou a contas controladas pelo envolvidos, no exterior", registra a PF, em documento anexado em novembro aos autos da Lava Jato, conforme revelou o Estado.

Na época, reportagem mostrou que o informante havia apontado o envolvimento de Cerveró e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, em suposto desvio de propina na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Perfurações

Ao todo, o relatório de Informação Policial 18/2014 registra acusações do funcionário de carreira em seis supostas fraudes para desvios de recursos. Prestes a se aposentar, ele decidiu contar o que sabia, sem ter seu nome revelado. Delegados da Lava Jato mantém contato direto com o informante.

No negócio em Angola, que teria envolvido a Diretoria de Internacional sob o comando de Cerveró, ele relata que a irregularidade não foi só na compra.

O informante declarou que a Petrobras, depois da compra de 50% dos direitos de exploração, decidiu então "perfurar três poços (em Angola) com o objetivo de prospecção da capacidade produtiva do bloco recém-adquirido".

"Cada um dos poços tem um custo de perfuração de aproximadamente US$ 80 milhões a US$ 120 milhões", revelou o funcionário.

Segundo o documento, os três poços foram perfurados e "mostraram-se secos". "Confirmando os pareceres técnicos dos geólogos da empresa que analisaram o mapeamento do subsolo do terreno e apontaram tecnicamente que era inviável explorar tais áreas, pois não havia petróleo disponível naquela região."

Os resultados teriam sido usados "nas decisões futuras da empresa em continuar explorando tais áreas, e assim, todo investimento foi descartado". "Desta forma, o prejuízo total deste projeto foi de cerca de US$ 700 milhões, sendo US$ 500 milhões para adquirir 50% dos direitos e outros US$ 200 milhões em perfuração de poço que já se sabia serem secos", acentua o documento.

O informante apontou ainda como responsável pelo negócio o ex-gerente Luis Carlos Moreira da Silva. Segundo ele, Nestor Cerveró criou o cargo de gerente executivo internacional de desenvolvimento de negócios "em tempo recorde". O nome do ex-gerente já foi citado também no caso Pasadena. Em julho, ele foi ouvido sobre o caso na CPI da Petrobras.

"Durante a gestão de Moreira, à frente do cargo criado por Cerveró, alguns negócios teriam sido desenvolvidos contrariando diversos pareceres técnicos."

A Petrobras foi procurada para falar sobre o caso, mas ainda não se pronunciou.

Luis Carlos Moreira da Silva não foi localizado para comentar o caso. Em julho do ano passado, quando foi ouvido na CPI da Petrobras sobre o caso Pasadena, ele considerou o negócio legal.

A defesa de Nestor Cerveró nega o envolvimento dele em qualquer irregularidade.

São Paulo - Depois de 16 meses de investigações, 36 pessoas que estavam na mira da Operação Lava Jato foram denunciadas pelo Ministério Público Federal. Este, contudo, seria apenas o começo, de acordo com Rodrigo Janot, procurador-geral da República e chefe do MPF. Ao todo, 23 pessoas ligadas às empresas Camargo Corrêa , Engevix, Galvão Engenharia , Mendes Júnior , OAS e UTC também foram denunciadas pela Procuradoria. O MPF estima que 286 milhões de reais tenham sido movimentados no esquema e espera um ressarcimento mínimo de 971,5 milhões de reais.

Se o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso, acatar a denúncia, os 35 envolvidos serão julgados por crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro e crime de corrupção. Segundo o relatório divulgado pela Procuradoria, as penas podem chegar a 127 anos de detenção, caso o réu seja considerado culpado pelos crimes de organização criminosa, 3 atos de corrupção e 3 atos de lavagem de dinheiro. A Mendes Júnior, por exemplo, teria acumulado 53 atos de corrupção. Veja a lista de penas possíveis para cada crime:
CrimePena mínimaPena Máxima
Organização criminosa4 anos e 4 meses13 anos e 4 meses
Corrupção2 anos e 8 meses21 anos e 4 meses
Lavagem de dinheiro4 anos16 anos e 8 meses
Veja a lista dos 35 denunciados no esquema de corrupção da Petrobras.
  • 2. Mendes Junior + GFD

    2 /7(Divulgação)

  • Veja também

    Mendes Junior + GFD
    Denunciados16
    Corrupção da empresa (R$)71.602.688,48
    Ressarcimento buscado (R$)214.808.065,45
    Valor envolvido na lavagem (R$)8.028.000,00
    Número de atos de corrupção e lavagem53 corrupções e 11 lavagens + 30 lavagens
  • 3. Camargo Corrêa + UTC

    3 /7(Divulgação)

  • Camargo Corrêa + UTC
    Denunciados10
    Corrupção da empresa (R$)86.457.578,91
    Ressarcimento buscado (R$)343.033.978,68
    Valor envolvido na lavagem (R$)36.876.887,75
    Número de atos de corrupção e lavagem11 corrupções e 7 lavagens
    Veja o posicionamento da Camargo Corrêa e da UTC “A Construtora Camargo Corrêa esclarece que pela primeira vez seus executivos terão a oportunidade de conhecer todos os elementos do referido processo e apresentar sua defesa com a expectativa de um julgamento justo e equilibrado.”
    "Os advogados da UTC não tiveram acesso à denúncia e só se manifestarão depois de analisá-la."
  • 4. Engevix

    4 /7(Divulgação/ Engevix)

    Engevix
    Denunciados9
    Corrupção da empresa (R$)52.977.089,89
    Ressarcimento buscado (R$)158.931.269,69
    Valor envolvido na lavagem (R$)13.432.500,00
    Número de atos de corrupção e lavagem33 corrupções e 31 lavagens
    Veja o posicionamento da Engevix: "A Engevix, por meio dos seus advogados, prestará os esclarecimentos necessários à justiça."
  • 5. Galvão Engenharia

    5 /7(Divulgação/ Galvão Engenharia)

    Galvão Engenharia
    Denunciados7
    Corrupção da empresa (R$)46.063.344,24
    Ressarcimento buscado (R$)256.546.958,55
    Valor envolvido na lavagem (R$)5.512,430,00
    Número de atos de corrupção e lavagem37 corrupções e 12 lavagens
  • 6. OAS

    6 /7(REUTERS/Aly Song)

    OAS
    Denunciados9
    Corrupção da empresa (R$)29.321.227,22
    Ressarcimento buscado (R$)213.039.145,36
    Valor envolvido na lavagem (R$)10.300.038,93
    Número de atos de corrupção e lavagem20 corrupções e 14 lavagens
  • 7. Veja outras matérias sobre a corrupção na Petrobras

    7 /7(Vanderlei Almeida/AFP)

  • Acompanhe tudo sobre:ÁfricaAngolaCapitalização da PetrobrasEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEnergiaEstatais brasileirasGás e combustíveisIndústria do petróleoPetrobrasPetróleoPolícia FederalPrejuízo

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Brasil

    Mais na Exame