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Certificado de vacinação de Bolsonaro com dado falso foi emitido do Palácio do Planalto, diz PF

O certificado de vacinação de Bolsonaro aponta que ele teria recebido três doses da vacina contra a covid-19: uma Janssen e duas Pfizer. O ex-presidente nega a imunização

Bolsonaro: PF investiga suposta falsificação no cartão de vacinação (Joe Raedle/Getty Images)

Publicado em 3 de maio de 2023 às 16h54.

Última atualização em 3 de maio de 2023 às 19h18.

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a possível fraude no certificado de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostra que o documento com dados falsos foi emitido de um computador do Palácio do Planalto dias antes do ex-chefe do Executivo viajar para Orlando, nos Estados Unidos, no fim do ano passado. O ex-presidente nega ter sido vacinado.

"A alteração cadastral foi realizada a partir do endereço de IP: 170.246.252.101, o mesmo utilizado para emitir o certificado de vacinação ideologicamente falso, com registro no Palácio do Planalto", diz a investigação a qual EXAME teve acesso.

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Na sequência a PF ainda conclui: "desta forma, é possível concluir que o acesso ao aplicativo ConecteSUS e as consequentes emissões de certificado de vacinação contra a covid-19, nos dias 22 e 27 de dezembro de 2022, pelo usuário do ex-presidente da República Jair Bolsonaro foram realizados no Palácio do Planalto".

O certificado de vacinação de Bolsonaro aponta que ele teria recebido três doses da vacina contra a covid-19: uma Janssen e duas Pfizer. A investigação aponta ainda que um terceiro acesso foi feito no dia 30 de dezembro pelo celular do ex-ajudante de ordens presidencial, o tenente-coronel Mauro Cid, preso preventiva nesta quarta-feira, 3, na Operação Venire.

Ex-presidente não esteve onde vacina foi registrada

O ex-presidente Jair Bolsonaro não esteve no município de Duque de Caxias (RJ) em 13 de agosto do ano passado, data em que teria tomado a 1ª dose da vacina da Pfizer contra a covid-19, de acordo com dados inseridos no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI).

A conclusão consta em um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), citado na decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Dois meses depois, em 14 de outubro, entre o primeiro e segundo turno das eleições, Bolsonaro teria recebido a segunda dose da vacina, segundo o SI-PNI. No entanto, "não há nenhum indicativo de que o ex-presidente tivesse comparecido à unidade de saúde para se vacinar, caso que teria sido amplamente noticiado, considerado sua notoriedade", afirma o relatório.

Naquele dia, Bolsonaro fez uma caminhada pela cidade fluminense às 11h e voou para Belo Horizonte às 13h40. "É claro que um presidente da República não teria como se dirigir a uma UBS do Município, sem que ninguém percebesse, para tomar uma possível segunda dose de vacina", diz um trecho do despacho emitido pelo controlador-geral da União, Wagner Rosário.

Moraes diz que é "plausível" ciência de Bolsonaro

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que é "plausível" a linha investigativa PF de que o ex-presidente participou de um esquema para fraudar comprovantes de vacinação. O ministro, porém, diz que não há indícios da participação de Michelle Bolsonaro na possível fraude.

"É plausível, lógica e robusta a linha investigativa sobre a possibilidade de o ex-presidente da República, de maneira velada e mediante inserção de dados falsos nos sistemas do SUS, buscar para si e para terceiros eventuais vantagens advindas da efetiva imunização, especialmente considerado o fato de não ter conseguido a reeleição nas Eleições Gerais de 2022", diz Moraes.

Passaporte de Bolsonaro não será apreendido, diz gabinete de Moraes

O gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), informou nesta quarta, 3, que o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro não será apreendido pela Polícia Federal (PF) como determina sua decisão de mais cedo.

Na peça, Moraes determina a "busca e apreensão de armas, munições, computadores, passaporte, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos, bem como de quaisquer outros materiais relacionados aos fatos aqui descritos, a ser realizada concomitantemente com diligências policiais". Em outros trechos, o ministro autoriza procedimentos solicitados pela PF.

Segundo o STF, contudo, é a PF que deve decidir o que é de interesse da investigação ou não.

Bolsonaro disse que não se vacinou

Mais cedo, em entrevista a jornalistas, oex-presidentedisse quenão tomou vacina contra a covid-19 e que estava "surpreso" com a operação da Polícia Federal que investiga suposta falsificação do cartão de vacinação.

"O objetivo de busca foi o cartão de vacina. Eu não tomei vacina. Foi uma decisão minha depois de ler a bula da Pfizer. O cartão da minha esposa também foi fotografado. Ela tomou nos Estados Unidos, da Janssen. Minha filha Laura também não tomou. Eu fico surpreso [ com a investigação ]. Não tenho mais nada o que falar", disse o ex-presidente em frente a sua residência em Brasília, logo depois de saída da PF do local.

O que é a Operação Venire da Polícia Federal?

A operação, autorizada pelo ministroAlexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, faz parte do inquérito das "milícias digitais" que tramitam no Congresso. Batizada Venire, a ofensiva cumpre mais cinco mandados de prisão preventiva e vasculha 16 endereços em Brasília e no Rio de Janeiro.

Segundo a PF, as inserções falsas sob suspeita se deram, entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, e "tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a covid-19 dos beneficiários".

A corporação indica que, com a alteração, foi possível a emissão de certificados de vacinação com seu respectivo uso para burla de restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia.

"A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado para os ataques à vacinação contra a covid-19", indica a PF.

A ofensiva aberta nesta quarta mira supostos crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.

(Com Agência O Globo e Estadão Conteúdo)

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