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Um milhão de brasileiros saem às ruas em protesto; um morre

Mais de meio milhão de pessoas protestavam em cidades de todas as regiões do Brasil nesta quinta-feira, ocupando importantes vias de capitais

As manifestações foram mantidas mesmo após diversas cidades do país anunciarem o recuo no aumento da tarifa de transporte público, reivindicação que deflagrou a onda de protestos no País (Valter Campanato/ABr)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2013 às 23h42.

São Paulo/Brasília-Cerca de 1 milhão de pessoas protestaram em todo o Brasil nesta quinta-feira e uma pessoa morreu no interior de São Paulo, apesar da reivindicação inicial dos manifestantes --a redução da tarifa do transporte público-- ter sido amplamente atendida.

Os protestos, que começaram pacíficos, tornaram-se violentos em cidades como Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belém, Campinas e Brasília, onde um grupo chegou a invadir o Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores. Um princípio de incêndio atingiu uma das entradas do prédio.

A pauta de demandas dos manifestantes passou a incluir melhoria dos serviços públicos, combate à corrupção e reclamações com os gastos para a Copa do Mundo de 2014.

Em Ribeirão Preto, no interior paulista, o motorista de um jipe atropelou 12 pessoas que participavam da manifestação na cidade, matando um jovem de 20 anos, segundo a Polícia Militar. Foi a primeira morte oficial registrada nos protestos, que tiveram início há cerca de duas semanas.

Na capital federal, o Batalhão de Choque do Exército se posicionou em frente ao Palácio do Planalto para proteger o prédio, enquanto a Polícia Militar do Distrito Federal impedia os manifestantes de se aproximarem da Praça dos Três Poderes.

A presidente Dilma Rousseff, que cancelou sua agenda de viagens devido aos protestos, deixou o local por volta das 20h30 rumo a sua residência oficial no Palácio do Alvorada sem dar qualquer declaração. Ela convocou uma reunião de emergência para a manhã de sexta-feira para tratar das manifestações populares, disse uma fonte do Palácio do Planalto.

Antes dos protestos se tornarem violentos em Brasília, os manifestantes lançavam gritos de ordem contra os gastos públicos com o Mundial no país no ano que vem.

"Da Copa eu abro mão, eu quero é mais dinheiro para a saúde e educação", cantavam manifestantes em frente à sede do Legislativo em Brasília, onde cerca de 30 mil pessoas participavam do protesto, segundo estimativa da Polícia Militar.

Os protestos, mais uma vez, atingiram os arredores dos estádios que receberam jogos da Copa das Confederações nesta quinta. Em Salvador, onde o Uruguai derrotou a Nigéria, a polícia entrou em confronto com um grupo de pessoas que tentava furar um bloqueio e se aproximar da Arena Fonte Nova.


No Rio, o entorno do Maracanã, onde a Espanha goleou o Taiti, teve a segurança reforçada, mas os protestos tornaram-se violentos no centro da cidade.

"Minha motivação é a de todos que estão aqui. É a de mudança. É a de você tentar através de uma união, de uma expressão popular, mudar a situação atual do país e se ter o mínimo que é educação e saúde", disse o escritor Arnaldo Macedo, de 60 anos.

Perto da Prefeitura do Rio, manifestantes e policiais entraram em confronto e pelo menos 35 pessoas ficaram feridas, depois de um início tranquilo de manifestação, que reuniu 300 mil pessoas. Um carro da emissora SBT foi incendidado por manifestantes.

Em São Paulo, 100 mil manifestantes, segundo estimativa da Polícia Militar, ocuparam a Avenida Paulista, a mais importante da cidade. A manifestação foi pacífica, sendo registrados apenas pequenos enfrentamentos entre os manifestantes, que rejeitaram a presença de militantes de partidos políticos com bandeiras.

"É um absurdo. Esse é um movimento por um novo Brasil, que não seja baseado em partidos, e aí eles aparecem?", disse a advogada Edilene Silva, de 30 anos.

As manifestações também aconteceram em capitais de todas as regiões do Brasil, como Florianópolis, Vitória, Recife, Teresina, Belo Horizonte e João Pessoa.

Os protestos desta quinta-feira reuniram cinco vezes mais participantes do que o protesto de segunda-feira, quando mais de 200 mil pessoas foram às ruas em várias capitais. O Brasil não via uma manifestação popular dessa grandeza desde 1992, ano do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.

Agenda cancelada

Diante da onda de protestos no país, Dilma decidiu alterar sua agenda de viagens, que incluiria idas ao Japão e a Salvador nos próximos dias.

Em São Paulo, mais uma vez, o protesto foi convocado nas redes sociais pelo Movimento Passe Livre (MPL). A manifestação foi mantida apesar do prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) terem cedido à pressão popular e revogado o reajuste das passagens.


"Se antes eles diziam que baixar a passagem era impossível, a revolta do povo provou que não é. Se agora eles dizem que a tarifa zero é impossível, nossa luta provará que eles estão errados", disse o MPL em nota.

Nas várias cidades do país onde foram realizados protestos nesta quinta-feira, os temores da repetição dos episódios de violência e vandalismo, que aconteceram em manifestações anteriores, fizeram com que comerciantes e agências bancárias colocassem tapumes em volta de seus prédios para tentar evitar danos.

A gama de reivindicações apresentada nas redes sociais varia do pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os gastos com o Mundial a críticas a um projeto de "cura gay" patrocinado pelo presidente da Comissão de Direitos da Câmara, o pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP).

As demandas incluem ainda a rejeição à Proposta de Emenda Constitucional 37, que restringe o poder de investigação do Ministério Público, e a saída de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado.

"O protesto é contra tudo que está aí", disse à Reuters o cientista político Benedito Tadeu César, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Não sabemos se é uma tempestade ou um raio... Mas isso vai ter consequências", completou

Atualizada às 23h42

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Os protestos, que começaram pacíficos, tornaram-se violentos em cidades como Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belém, Campinas e Brasília, onde um grupo chegou a invadir o Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores. Um princípio de incêndio atingiu uma das entradas do prédio.

A pauta de demandas dos manifestantes passou a incluir melhoria dos serviços públicos, combate à corrupção e reclamações com os gastos para a Copa do Mundo de 2014.

Em Ribeirão Preto, no interior paulista, o motorista de um jipe atropelou 12 pessoas que participavam da manifestação na cidade, matando um jovem de 20 anos, segundo a Polícia Militar. Foi a primeira morte oficial registrada nos protestos, que tiveram início há cerca de duas semanas.

Na capital federal, o Batalhão de Choque do Exército se posicionou em frente ao Palácio do Planalto para proteger o prédio, enquanto a Polícia Militar do Distrito Federal impedia os manifestantes de se aproximarem da Praça dos Três Poderes.

A presidente Dilma Rousseff, que cancelou sua agenda de viagens devido aos protestos, deixou o local por volta das 20h30 rumo a sua residência oficial no Palácio do Alvorada sem dar qualquer declaração. Ela convocou uma reunião de emergência para a manhã de sexta-feira para tratar das manifestações populares, disse uma fonte do Palácio do Planalto.

Antes dos protestos se tornarem violentos em Brasília, os manifestantes lançavam gritos de ordem contra os gastos públicos com o Mundial no país no ano que vem.

"Da Copa eu abro mão, eu quero é mais dinheiro para a saúde e educação", cantavam manifestantes em frente à sede do Legislativo em Brasília, onde cerca de 30 mil pessoas participavam do protesto, segundo estimativa da Polícia Militar.

Os protestos, mais uma vez, atingiram os arredores dos estádios que receberam jogos da Copa das Confederações nesta quinta. Em Salvador, onde o Uruguai derrotou a Nigéria, a polícia entrou em confronto com um grupo de pessoas que tentava furar um bloqueio e se aproximar da Arena Fonte Nova.


No Rio, o entorno do Maracanã, onde a Espanha goleou o Taiti, teve a segurança reforçada, mas os protestos tornaram-se violentos no centro da cidade.

"Minha motivação é a de todos que estão aqui. É a de mudança. É a de você tentar através de uma união, de uma expressão popular, mudar a situação atual do país e se ter o mínimo que é educação e saúde", disse o escritor Arnaldo Macedo, de 60 anos.

Perto da Prefeitura do Rio, manifestantes e policiais entraram em confronto e pelo menos 35 pessoas ficaram feridas, depois de um início tranquilo de manifestação, que reuniu 300 mil pessoas. Um carro da emissora SBT foi incendidado por manifestantes.

Em São Paulo, 100 mil manifestantes, segundo estimativa da Polícia Militar, ocuparam a Avenida Paulista, a mais importante da cidade. A manifestação foi pacífica, sendo registrados apenas pequenos enfrentamentos entre os manifestantes, que rejeitaram a presença de militantes de partidos políticos com bandeiras.

"É um absurdo. Esse é um movimento por um novo Brasil, que não seja baseado em partidos, e aí eles aparecem?", disse a advogada Edilene Silva, de 30 anos.

As manifestações também aconteceram em capitais de todas as regiões do Brasil, como Florianópolis, Vitória, Recife, Teresina, Belo Horizonte e João Pessoa.

Os protestos desta quinta-feira reuniram cinco vezes mais participantes do que o protesto de segunda-feira, quando mais de 200 mil pessoas foram às ruas em várias capitais. O Brasil não via uma manifestação popular dessa grandeza desde 1992, ano do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.

Agenda cancelada

Diante da onda de protestos no país, Dilma decidiu alterar sua agenda de viagens, que incluiria idas ao Japão e a Salvador nos próximos dias.

Em São Paulo, mais uma vez, o protesto foi convocado nas redes sociais pelo Movimento Passe Livre (MPL). A manifestação foi mantida apesar do prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) terem cedido à pressão popular e revogado o reajuste das passagens.


"Se antes eles diziam que baixar a passagem era impossível, a revolta do povo provou que não é. Se agora eles dizem que a tarifa zero é impossível, nossa luta provará que eles estão errados", disse o MPL em nota.

Nas várias cidades do país onde foram realizados protestos nesta quinta-feira, os temores da repetição dos episódios de violência e vandalismo, que aconteceram em manifestações anteriores, fizeram com que comerciantes e agências bancárias colocassem tapumes em volta de seus prédios para tentar evitar danos.

A gama de reivindicações apresentada nas redes sociais varia do pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os gastos com o Mundial a críticas a um projeto de "cura gay" patrocinado pelo presidente da Comissão de Direitos da Câmara, o pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP).

As demandas incluem ainda a rejeição à Proposta de Emenda Constitucional 37, que restringe o poder de investigação do Ministério Público, e a saída de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado.

"O protesto é contra tudo que está aí", disse à Reuters o cientista político Benedito Tadeu César, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Não sabemos se é uma tempestade ou um raio... Mas isso vai ter consequências", completou

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