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Cármen Lúcia: Sem imprensa livre, Justiça e Estado não funcionam bem

A fala abriu o seminário "30 anos sem Censura - A Constituição de 1988 e a liberdade de imprensa", organizado pelo CNJ

Cármen Lúcia: presidente do STF afirmou que sem uma imprensa livre a Justiça e o Estado "não funcionam bem" (Jose Cruz/Agência Brasil)

Cármen Lúcia: presidente do STF afirmou que sem uma imprensa livre a Justiça e o Estado "não funcionam bem" (Jose Cruz/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de junho de 2018 às 13h42.

Brasília - A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, afirmou nesta segunda-feira, 11, que sem uma imprensa livre a Justiça e o Estado "não funcionam bem". A fala, que abordou a vigência da Constituição a o papel do jornalismo nas últimas três décadas, abriu o seminário '30 anos sem Censura - A Constituição de 1988 e a liberdade de imprensa', organizado pelo CNJ.

O evento marca a divulgação de estudo sobre ações judiciais contra veículos de comunicação, que envolvem liberdade de imprensa. Realizado pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias do CNJ, a pesquisa aponta que a Justiça Eleitoral é responsável por 25% desses processos. A maioria, 68,7%, tramita na Justiça Estadual.

O estudo é baseado em 2.373 processos, a partir de dados repassados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). De acordo com o CNJ, estima-se que o recorte corresponda a apenas 4,5% do universo de casos existentes sobre este tema no Brasil.

Propostas geralmente por candidatos ou partidos políticos, mais da metade das ações refere-se a damos morais e a questões relacionadas ao direito eleitoral, "questionando matérias que teriam prejudicado a sua imagem (de candidato ou partidos) junto ao eleitorado", aponta a pesquisa.

Entre as principais motivações das ações estão difamação, violação à legislação eleitoral e violação à privacidade. Ainda de acordo com o estudo, a maior incidência de processos está no Estado do Rio de Janeiro, com o dobro da média nacional em casos por cem mil habitantes.

"Continuamos a discutir em como manter a garantia das liberdades, incluída aí a liberdade de expressão. O seminário é um espaço de não apenas divulgação da pesquisa, mas de observações, pensamentos e reflexões sobre esse importantíssimo tema", disse Cármen Lúcia, destacando que, apesar da "plena" democracia, o Brasil é muitas vezes lembrado como um dos países onde a profissão de jornalista é mais agredida.

Na mesa de abertura do evento, que ocorre até às 18h, também estavam presentes o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), jornalista, advogado e parlamentar constituinte, e a jornalista, escritora e acadêmica Rosiska Darcy.

"Acredito no Brasil em que cada cidadão possa exercer sua liberdade de forma crítica e bem informada", afirmou a ministra, apontando que a mídia tem um papel "fundamental" para este quadro.

Miro Teixeira fez um resgate histórico da promulgação da Constituição de 88 e as relações com a liberdade de imprensa, destacando também as transformações vividas nas últimas décadas e a necessidade de reinterpretação da Constituição. "Nós cidadãos devemos pensar na convocação de uma nova Assembleia Constituinte, diante dessa ideia de reinterpretação me senti estimulado", disse o parlamentar.

Miro ainda defendeu que a imprensa "não deve ficar ameaçada pelos processos de injúria e difamação". Para o parlamentar, os processos de indenização em crimes contra a honra, exceto a calúnia, contra jornalistas são um fator de autocensura. "Não cabe indenização contra meios de comunicação e não cabe contra os jornalistas", sugeriu Miro, baseando-se na garantia prevista para os advogados no Código Penal.

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