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Carlos Bolsonaro completa 38 horas de ataques a Mourão no Twitter

O filho mais próximo do presidente Bolsonaro já fez mais de nove publicações críticas envolvendo declarações do vice-presidente

Carlos Bolsonaro e Hamilton Mourão: desde segunda-feira, o filho do presidente Bolsonaro ataca o vice-presidente do país (Montagem/Exame)

Carlos Bolsonaro e Hamilton Mourão: desde segunda-feira, o filho do presidente Bolsonaro ataca o vice-presidente do país (Montagem/Exame)

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Clara Cerioni

Publicado em 24 de abril de 2019 às 11h15.

Última atualização em 24 de abril de 2019 às 11h51.

São Paulo — Há cerca de 38 horas, o vereador carioca Carlos Bolsonaro dispara uma série de ataques ao vice-presidente, Hamilton Mourão, o que tem gerado uma crise interna no Planalto.

Desde a tarde de segunda-feira (22), o filho mais próximo do presidente da República usa seu Twitter para fazer diversas críticas a posicionamentos adotados pelo general, que, segundo ele, vão em desencontro com as ideias do presidente.

Até a manhã desta quarta-feira (24), já foram nove publicações sobre Mourão — a maioria envolvendo declarações do vice-presidente à imprensa.

Nem mesmo o pedido de seu pai, que teria dito que colocaria um "ponto final" naquilo que classificou como uma "pretensa discussão" entre os dois, foi suficiente para cessar os ataques.

O mais recente ataque, publicado nesta manhã, critica falas do vice-presidente sobre a saída de Jean Wyllys do Brasil, que desistiu de seu mandato de deputado federal após receber inúmeras ameaças. "Estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o Presidente", escreveu Carlos.

Logo em seguida, afirmou que as publicações não são ataques, mas "apenas informações" que ele gostaria de compartilhar com seus seguidores.

Início

A onda de ataques começou depois de Mourão ter respondido a críticas do escritor Olavo de Carvalho sobre os militares.

Durante o fim de semana, o escritor divulgou um vídeo, que foi distribuído nas redes sociais do presidente, manejadas por seu filho Carlos, dizendo que considera o presidente “um mártir” e disparando inúmeros ataques ao núcleo militar do governo.

“Qual a última contribuição das escolas militares à alta cultura nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então, foi só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada", disse Carvalho.

Logo depois, o vídeo foi apagado e repostado pelo vereador carioca em sua própria conta, que com a repercussão também excluiu a gravação.

Na segunda-feira (22), Mourão deu uma declaração à imprensa afirmando que o escritor deveria se limitar à função de "astrólogo". Carlos, que é seguidor assíduo de Carvalho, o defendeu no Twitter e começou a direcinar os ataques ao vice-presidente.

A primeira publicação crítica foi sobre uma postagem da jornalista Raquel Sherazade em que ela criticava Bolsonaro e elogiava Mourão. O vice-presidente curtiu o post.

“Tirem suas próprias conclusões. E tem muito mais… não se atente no que a pessoa diz, mas em quem curtiu”, escreveu Carlos.

Em seguida, um de seus seguidores chamou a atenção de Carlos para o convite de uma palestra que Mourão fez no instituto Wilson Center, um think thank de políticas públicas norte-americano.

O texto, uma apresentação da apresentação, diz que os primeiros 100 dias foram marcados pela paralisia do governo Bolsonaro devido a “sucessivas crises geradas pelo próprio círculo interno do presidente”. Acrescenta, ainda, que Mourão vem surgindo como uma “voz moderada” no governo.

“Se não visse não acreditaria que aceitou (o convite) com tais termos”, escreveu Carlos. “Ainda está muito mais. Este jogo está muito claro.”

Em um dos posts, quando um seguidor pergunta se Mourão está contra o presidente, Carlos responde: “será ou com certeza?”

Horas mais tarde, Carlos Bolsonaro usou as redes sociais para criticar uma fala de Mourão sobre a crise econômica e política vivida pela Venezuela.

Na postagem do vereador, Mourão aparece dando uma entrevista na qual menciona o apoio dos militares venezuelanos ao presidente Nicolás Maduro e diz que a população do país vizinho "tem que estar desarmada porque senão nós iríamos para uma guerra civil na Venezuela, o que seria horrível para o hemisfério como um todo".

A fala de Mourão foi classificada por Carlos como "pérolas que mostram muito mais do que palavras ao vento, mas algo que já acontece há muito tempo".

Depois de tantas críticas, entre seus seguidores, cresce o número dos que acusam o vice-presidente de traidor. No entanto, Carlos também foi bastante criticado por fomentar crises no governo.

A situação preocupou a cúpula do governo. Na noite desta terça-feira (23), o porta-voz general Otávio do Rêgo Barros, tentou  debelar a crise mas, ao mesmo tempo que fez elogios a Mourão, defendeu Carlos, a quem atribui sua vitória nas eleições de 2018.

“De uma vez por todas o presidente gostaria de deixar claro o seguinte: quanto a seus filhos, em particular ao Carlos, o presidente enfatiza que ele sempre estará a seu lado. O filho foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas contra tudo e contra todos. ‘É sangue do meu sangue'”, disse o porta-voz, citando Bolsonaro.

Minutos após o pronunciamento do porta-voz, o vereador soltou mais um ataque. Ele acusou o vice, chamado por ele de "o tal de Mourão", de ter dito que a facada sofrida por Bolsonaro durante a campanha era uma "vitimização."

"Naquele fatídico dia em que meu pai foi esfaqueado por ex-integrante do PSOL e o tal de Mourão em uma de suas falas disse que aquilo tudo era vitimização. Enquanto um homem lutava pela vida e tentava impedir que o Brasil caísse nas garras do PT, queridinhos da imprensa opinavam", escreveu Carlos, reproduzindo um print de uma reportagem do G1.

A reportagem citada por Carlos, no entanto, não é do mesmo dia em que o presidente sofreu o atentado. Bolsonaro foi golpeado por Adélio Bispo dos Santos em 6 de setembro. A declaração de Mourão foi dada cinco dias depois, em 11 de setembro, em Brasília, ao defender que a campanha não explorasse o atentado.

"Esse troço já deu o que tinha que dar. É uma exposição que eu julgo que já cumpriu sua tarefa. Ele [Bolsonaro] vai gravar vídeo do hospital, mas não naquela situação, não propaganda. Vamos acabar com a vitimização, chega", afirmou Mourão.

Menos de uma hora depois, ele voltou a dizer que sua intenção não é "brigar", mas sim "pela verdade".

Declarações sobre Lula e PT

Outro tema que o vereador explorou durante seus ataques ao vice-presidente foi uma série de declarações envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. Essa é uma abordagem que costuma ser endossada por seus seguidores.

Primeiro, o vereador criticou mais uma fala do vice-presidente que não comentou uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça que, nesta terça-feira (23), decidiu reduzir a pena do ex-presidente petista, preso desde abril do ano passado no âmbito da Operação Lava Jato.

Em seguida, Carlos disparou mais uma vez, em relação a uma crítica de Mourão ao processo de "despetização" de Onyx na Casa Civil, que paralisou por semanas a atuação da pasta que ficou sem funcionários.

"Decisão se cumpre, mas também se comenta. Qualquer outra interpretação mais uma vez demonstra a paixão camuflada!".

A versão de Bolsonaro

Por conta dos inúmeros ataques, que desestabilizam o governo, alguns envolvidos começaram dizer que seria um sinal de que o próprio Bolsonaro estaria irritado com seu vice.

Uma fonte com conhecimento no assunto afirmou, no entanto, que essa avaliação não é verdadeira. “A questão do Carlos é outro problema. O presidente tem dificuldades de pôr um freio em determinadas atitudes. Como pai, eu entendo a situação. Mas claro que cria problemas.”

A fonte comentou ainda que Olavo de Carvalho resolveu pegar o vice-presidente “para Cristo”, mas a estratégia agora é não dar mais resposta ao escritor.

Já seguindo o combinado, ao chegar do almoço, o vice-presidente –que raramente recusa entrevistas– respondeu aos jornalistas apenas com um “sem comentários.”

(Com Reuters)

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