Carlos Bolsonaro afirma que foi mal interpretado e não defendeu ditadura
Após dizer que mudanças no Brasil não podem ser feitas "por vias democráticas", filho do presidente nega ter defendido ditadura
Reuters
Publicado em 10 de setembro de 2019 às 17h05.
Última atualização em 10 de setembro de 2019 às 20h52.
Brasília — O vereador Carlos Bolsonaro , filho do presidente Jair Bolsonaro , voltou ao Twitter nesta terça-feira, 10, para tentar explicar sua declaração, feita na véspera — de que não é possível se conseguir por vias democráticas a transformação que o Brasil quer na velocidade desejada — e garantiu que sua fala foi apenas uma "justificativa aos que cobram mudanças urgentes".
"O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças urgentes. O que jornalistas espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. CANALHAS!", escreveu nesta terça.
O texto inicial de Carlos foi interpretado no meio político como uma defesa da ditadura ou de um golpe e recebeu críticas variadas.
"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!", escreveu o vereador na segunda-feira, 9.
Para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP),declarações como a de Carlos merecem "desprezo".
"O Parlamento brasileiro, a democracia, estão fortalecidos. As instituições estão pujantes, trabalhamos a favor do Brasil. Então uma manifestação ou outra em relação a este enfraquecimento tem, da minha parte, o meu desprezo", disse Alcolumbre no Twitter.
Também questionado sobre as declarações de Carlos, o vice-presidente Hamilton Mourão — que até quinta-feira está no exercício da Presidência — afirmou que a democracia é fundamental e "um dos pilares da civilização ocidental".
Mourão afirmou ainda que é possível sim fazer as mudanças que o governo quer pela via democrática, e por isso ele e Bolsonaro foram eleitos.
"Temos que negociar com a rapaziada do outro lado da Praça (referindo-se ao Congresso). É assim que funciona. Com clareza, determinação e muita paciência", defendeu.
O tuíte de Carlos foi feito com o pai internado em São Paulo depois de passar por uma cirurgia para corrigir uma hérnia que se formou na cicatriz dos procedimentos para tratar da facada que levou durante a campanha eleitoral. Apesar de já ter tuitado algumas vezes e ter feito vídeos do hospital, o presidente não se manifestou sobre a afirmação do filho.
Carlos pediu licença da Câmara de vereadores do Rio de Janeiro para tratar de assuntos particulares na última sexta-feira e tem acompanhado o pai no hospital. No sábado, durante o desfile do 7 de setembro, em Brasília, repetiu sua postura na posse e foi no carro com o presidente enquanto este desfilava na Esplanada dos Ministérios.
"Não tem nada demais"
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) saiu em defesa do seu irmão no plenário da Câmara. Sob protesto de alguns deputados de oposição, o parlamentar disse que a fala do vereador "não tem nada de mais". Para Eduardo, é a oposição que é "amante" de ditaduras.
"O que Carlos Bolsonaro falou não tem nada de mais. As coisas em uma democracia demoram porque exigem debate. Ele falou só isso. Não temos condições de mudar o Brasil na velocidade que gostaríamos. Por nós, teria outra velocidade, mas o tempo do Congresso não é o tempo da sociedade", disse.
Eduardo também acusou a oposição de isentar de críticas a situação da Venezuela e de apoiar países como Cuba. "São amantes de ditaduras. São incapazes de repudiar o governo de (Nicolás) Maduro e vêm aqui posar de amantes da democracia", disse.
Enquanto Eduardo discursava do centro do plenário, deputados pediam que ele "limpasse a boca" antes de criticar os partidos de oposição.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)