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Campanha tenta reduzir cáries entre os indígenas

Campanha tenta reduzir o número da doença entre os índios terenos, com um maior índice quando comparada a guaranis e caiovás


	Índio terena: tribo tem história de contato que acaba integrando de forma mais rápida com o nosso tipo de alimentação
 (Valter Campanato/Agência Brasil)

Índio terena: tribo tem história de contato que acaba integrando de forma mais rápida com o nosso tipo de alimentação (Valter Campanato/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2014 às 18h42.

Aquidauana (MS) - Jamile tem 9 anos e o sorriso escurecido por cáries. Os molares e pré-molares também estão esburacados. Jamile é uma índia terena da aldeia Limão Verde, em Aquidauana (MS). Nunca tinha ido ao dentista, apesar de uma profissional do Polo de Assistência Indígena atender ali três vezes por semana. Como os outros terenas, Jamile sofre com dores de dente desde cedo - a etnia, apesar de ter mais acesso aos cuidados com saúde bucal, tem maior índice de cáries quando comparada a guaranis e caiovás.

A constatação faz parte de pesquisa que a Fundação Oswaldo Cruz produz no Mato Grosso do Sul, segundo Estado do País em número de indígenas (são 73 mil, ante 178 mil no Amazonas), para traçar o perfil das doenças bucais entre índios. Por um ano, dentistas que já atuam com saúde indígena coletaram os dados de 1,7 mil integrantes das três etnias. O estudo pode ajudar a nortear os cuidados de que eles precisam.

“Há grande diversidade de perfis epidemiológicos dos indígenas em relação à cárie. O quadro é muito heterogêneo”, afirma o pesquisador Rui Arantes, da Fiocruz-MS, que lidera o estudo. “A saúde bucal acaba sendo um pouco mais negligenciada por ser agravo que não impacta na mortalidade infantil ou materna. Mas é um problema sério porque traz desconforto, a pessoa não consegue trabalhar, alimentar-se, tem qualidade de vida ruim. Eles perdem dentes ainda jovens, passam bom período da vida sem se alimentar direito.”

Arantes usou o índice Dentes Cariados, Perdidos e Obturados (CPO-D), parâmetro da Organização Mundial de Saúde (OMS). Levou-se em conta o índice encontrado em adolescentes de 12 anos, quando a dentição permanente está completa, mas não está há tanto tempo exposta à cárie. Os caiovás tinham menos de um dente afetado - 0,9. Entre os guaranis, a média ficou em 1,5. Já os terenas, alcançaram 2,2, índice acima da média encontrada na população brasileira não indígena (2,07).

“O que a gente observa é que os terenas têm história de contato que acaba integrando de forma mais rápida com o nosso tipo de alimentação. Eles têm nível de escolaridade e de renda um pouco maior que as demais etnias. Têm acesso maior à alimentação mais industrializadas, sem ter os mesmos benefícios que nós temos, como fluoretação na água de abastecimento público”, acredita Arantes. 

Um dos treinados pelos pesquisadores da Fiocruz para coletar os dados em campo, o dentista Edson Albuquerque Pontes, de 54 anos, que atua em aldeias há três, conta que mais de 70% das cáries são do tipo interproximal - provocadas por restos de comida entre os dentes, onde a escova não alcança.

Envergonhada, Jamile confirma que só escova os dentes quando acorda. Foi feita campanha preventiva sobre a importância do fio-dental, com distribuição do item de higiene. “Na nossa visita seguinte, descobrimos que as crianças estavam usando o fio-dental para soltar pipas”, afirma Pontes. “O desafio é transmitir noções de prevenção”, afirma.

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