Brasil

Câmara analisa marco do saneamento. O avanço virá?

A abertura à iniciativa privada em saneamento, um serviço obrigatoriamente monopolista, é alvo de intenso debate mundo afora

Bairro União das Vilas, Uruguaina: A marca da desigualdade no saneamento básico é muito clara (Germano Lüders/Exame)

Bairro União das Vilas, Uruguaina: A marca da desigualdade no saneamento básico é muito clara (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2019 às 06h50.

Última atualização em 9 de dezembro de 2019 às 07h08.

São Paulo — A duas semanas do recesso parlamentar, a Câmara dos Deputados tenta intensificar o ritmo. Nesta segunda-feira, dia tradicionalmente esvaziado no Congresso, está na pauta um tema de essencial importância para o Brasil sair do século 19 em saneamento básico. Somente 83% da população brasileira tem abastecimento de água potável e 52,4% tem coleta de esgoto.

O projeto de lei que atualiza o marco legal do saneamento deve ser analisado pelo plenário da Câmara nesta segunda-feira, mais de um mês após ter sido aprovado em comissão especial. O texto atualiza o Projeto de Lei 3261/19, do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), aprovado em junho, e é um primeiro passo para a exploração privada dos serviços de saneamento.

O objetivo é estabelecer novos critérios de incentivem a atração da iniciativa privada para impulsionar a rede de cobertura no país, com definição de prazo para licitação obrigatória dos serviços, em competição entre empresas privadas e estatais. O texto estabelece que os contratos de saneamento garantam o atendimento de 99% da população com água potável e de 90% da população com coleta e tratamento de esgotos até 31 de dezembro de 2033, assim como metas de não intermitência do abastecimento.

Segundo o relator Geninho Zuliani (DEM-SP), o texto será aprovado esta semana e encaminhado para votação no Senado para sanção presidencial ainda em 2019. Em evento do BNDES na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que há “trilhões de dólares” no exterior aguardando a mudança regulatória no Brasil para investir em saneamento nos próximos anos.

Como costuma acontecer, entre o discurso grandiloquente do ministro e a prática há uma distância. Empresas públicas dominam 94% do segmento e atendem a 91% da população, num serviço reconhecidamente ineficiente e de baixa capacidade de investimento. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, o Brasil teria que investir 22 bilhões de reais ao ano se quiser atingir a meta de chegar a 92% do esgoto tratado até 2033.

Mas a abertura à iniciativa privada em saneamento, um serviço obrigatoriamente monopolista, é alvo de intenso debate mundo afora. Cidades menores tendem a ser esnobadas pelos investidores, e mesmo grandes metrópoles tendem a ter dificuldade de regular as companhias. Foi o que fez cidades como Berlim, Paris e Buenos Aires voltar atrás na privatização.

O Brasil precisa atrair investimentos nas mais variadas frentes para evoluir — e o governo precisa de investidores para sair do discurso à prática nas privatizações e concessões. Mas poucos setores são tão complexos — e tão refratários a promessas trilionárias — quando o saneamento básico.

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Brasil

Para Lula, Brasil saiu vencedor do tarifaço de Trump

Lula estabelece cota para exibição de filmes nacionais nos cinemas em 2026

Governo estuda tarifa zero no transporte público, diz ministro das Cidades

Bolsonaro é considerado apto e fará cirurgia de hérnia 9h na quinta