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Caixa condiciona apoio a clubes a folha de pagamento

Por isso, as negociações incorporaram tanto parlamentares influentes em Brasília quanto prefeitos e governadores

Gol de futebol: os bancos disputam as folhas de pagamentos de servidores públicos pela atratividade de ofertar crédito consignado a uma clientela de bons pagadores (Stock.xchng)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2013 às 09h25.

Brasília - O artilheiro isolado da Série B do Campeonato Brasileiro, Bruno Rangel, só ostenta a marca da Caixa na camisa 9 do Chapecoense porque os quase 5 mil funcionários da prefeitura de Chapecó, no oeste catarinense, recebem os salários pelo banco estatal. Para patrocinar clubes que não estão na elite do futebol brasileiro, a Caixa usou como “moeda de troca” a folha de pagamento das administrações municipais ou estaduais.

É por isso que as negociações dos dirigentes dos clubes com os executivos da Caixa incorporaram tanto parlamentares influentes em Brasília quanto prefeitos e governadores dos Estados onde estão as sedes dos times. O papel deles era negociar a administração das folhas de pagamentos com o banco.

O prefeito de Chapecó, José Caramori (PSD), disse que um dos “requisitos básicos” impostos pela Caixa nas negociações com o Chapecoense era gerir a folha de pagamento do município, que gira em torno de R$ 12,6 milhões por mês. Segundo ele, foi firmado um “compromisso tácito” com o presidente da instituição, Jorge Hereda, de manter a parceria até julho de 2014, período de validade do patrocínio. O presidente do Chapecoense, Sandro Pallaoro, considera natural ser esse um dos critérios para escolher os clubes patrocinados. “A parceria é de via dupla”, resumiu.

Alagoas

O lobby do senador Fernando Collor (PTB) para o amparo do banco estatal à Agremiação Sportiva Arapiraquense (ASA), de Alagoas, seria infrutífero se a prefeita de Arapiraca (AL), Célia Rocha, correligionária do senador, não mantivesse a administração das contas dos servidores nas mãos do banco estatal.

Dois meses antes da liberação do patrocínio para o time da Série B, Célia assinou um “convênio pioneiro” com o banco, que na prática colocou dentro da prefeitura um funcionário da Caixa, responsável por “agilizar” programas e contratos. A folha de pagamento do Estado de Alagoas também é da Caixa.


O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), bem que tentou, assim como Collor, canalizar os “louros” da ação de marketing, pedindo publicamente, pelo Twitter, que a Caixa patrocinasse os dois principais times de Natal: ABC e América.

As negociações até chegaram a um “estágio avançado”, mas terminaram no zero a zero porque o prefeito da capital potiguar, Carlos Eduardo Alves (PDT), chegou a cogitar rescindir o contrato firmado pela administração anterior com o Banco do Brasil, mas não tinha dinheiro para pagar a multa. Sem a folha de pagamento dos servidores, o patrocínio não saiu para nenhum dos times que estão na lanterna da Série B.

Em Caxias do Sul (RS), a Caixa conseguiu tirar a folha de pagamentos da prefeitura do Banrisul. A condição imprescindível, segundo o prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT), foi Hereda ter assegurado o patrocínio aos dois times da cidade. O Caxias, que está na Série C, levaria R$ 600 mil, e o Juventude, da Série D, teria R$ 400 mil.

“A parte da prefeitura, eu já fiz. Só falta agora os clubes conseguirem apresentar as certidões negativas de débito”, orgulhou-se. Pela folha de 6 mil funcionários, que soma R$ 20 milhões por mês, o prefeito conseguiu ainda R$ 10 milhões extras, além dos R$ 5 milhões acertados para as próximas duas edições da Festa da Uva.

Baixa inadimplência

Os bancos disputam as folhas de pagamentos de servidores municipais e estaduais pela atratividade de ofertar crédito consignado a uma clientela de bons pagadores. Enquanto os atrasos de mais de 90 dias chegam a 7,2% de todo o crédito oferecido para o público geral, o nível de calote do crédito com desconto na folha é de 2,8% nos empréstimos a servidores públicos e de 5,1% nas operações com trabalhadores da iniciativa privada, de acordo com dados do Banco Central.


João Augusto Sales, analista de bancos da consultoria Lopes Filho & Associados, estimou que a inadimplência de servidores de prefeituras é somente um pouco superior à dos beneficiários do INSS (1,7%), a mais baixa entre todas as modalidades.

“É um bom começo os bancos terem a folha de pagamento também porque a possibilidade de reter essas contas, embora os funcionários tenham a opção de fazer a portabilidade, é muito grande”, explicou. De acordo com Sales, é razoável supor que a Caixa compense os patrocínios só pelo fato de ter conseguido esse “ativo”, que traz mais retornos do que os batimentos fiscais.

A Caixa confirmou, por meio de nota, que, “do ponto de vista negocial”, para avaliação e valoração das propostas foram considerados, dentre outros critérios, a existência da folha de pagamento do Estado ou município no banco.

O Banco Central (BC) informou, em nota, que patrocínios proporcionados por instituições financeiras não é tema regulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão do qual participa.

Já o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) argumentou que só pode se manifestar sobre denúncias de práticas anticompetitivas em procedimentos administrativos oficialmente instaurados. Segundo o órgão, até o momento, não foi recebida nenhuma denúncia nesse sentido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Brasília - O artilheiro isolado da Série B do Campeonato Brasileiro, Bruno Rangel, só ostenta a marca da Caixa na camisa 9 do Chapecoense porque os quase 5 mil funcionários da prefeitura de Chapecó, no oeste catarinense, recebem os salários pelo banco estatal. Para patrocinar clubes que não estão na elite do futebol brasileiro, a Caixa usou como “moeda de troca” a folha de pagamento das administrações municipais ou estaduais.

É por isso que as negociações dos dirigentes dos clubes com os executivos da Caixa incorporaram tanto parlamentares influentes em Brasília quanto prefeitos e governadores dos Estados onde estão as sedes dos times. O papel deles era negociar a administração das folhas de pagamentos com o banco.

O prefeito de Chapecó, José Caramori (PSD), disse que um dos “requisitos básicos” impostos pela Caixa nas negociações com o Chapecoense era gerir a folha de pagamento do município, que gira em torno de R$ 12,6 milhões por mês. Segundo ele, foi firmado um “compromisso tácito” com o presidente da instituição, Jorge Hereda, de manter a parceria até julho de 2014, período de validade do patrocínio. O presidente do Chapecoense, Sandro Pallaoro, considera natural ser esse um dos critérios para escolher os clubes patrocinados. “A parceria é de via dupla”, resumiu.

Alagoas

O lobby do senador Fernando Collor (PTB) para o amparo do banco estatal à Agremiação Sportiva Arapiraquense (ASA), de Alagoas, seria infrutífero se a prefeita de Arapiraca (AL), Célia Rocha, correligionária do senador, não mantivesse a administração das contas dos servidores nas mãos do banco estatal.

Dois meses antes da liberação do patrocínio para o time da Série B, Célia assinou um “convênio pioneiro” com o banco, que na prática colocou dentro da prefeitura um funcionário da Caixa, responsável por “agilizar” programas e contratos. A folha de pagamento do Estado de Alagoas também é da Caixa.


O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), bem que tentou, assim como Collor, canalizar os “louros” da ação de marketing, pedindo publicamente, pelo Twitter, que a Caixa patrocinasse os dois principais times de Natal: ABC e América.

As negociações até chegaram a um “estágio avançado”, mas terminaram no zero a zero porque o prefeito da capital potiguar, Carlos Eduardo Alves (PDT), chegou a cogitar rescindir o contrato firmado pela administração anterior com o Banco do Brasil, mas não tinha dinheiro para pagar a multa. Sem a folha de pagamento dos servidores, o patrocínio não saiu para nenhum dos times que estão na lanterna da Série B.

Em Caxias do Sul (RS), a Caixa conseguiu tirar a folha de pagamentos da prefeitura do Banrisul. A condição imprescindível, segundo o prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT), foi Hereda ter assegurado o patrocínio aos dois times da cidade. O Caxias, que está na Série C, levaria R$ 600 mil, e o Juventude, da Série D, teria R$ 400 mil.

“A parte da prefeitura, eu já fiz. Só falta agora os clubes conseguirem apresentar as certidões negativas de débito”, orgulhou-se. Pela folha de 6 mil funcionários, que soma R$ 20 milhões por mês, o prefeito conseguiu ainda R$ 10 milhões extras, além dos R$ 5 milhões acertados para as próximas duas edições da Festa da Uva.

Baixa inadimplência

Os bancos disputam as folhas de pagamentos de servidores municipais e estaduais pela atratividade de ofertar crédito consignado a uma clientela de bons pagadores. Enquanto os atrasos de mais de 90 dias chegam a 7,2% de todo o crédito oferecido para o público geral, o nível de calote do crédito com desconto na folha é de 2,8% nos empréstimos a servidores públicos e de 5,1% nas operações com trabalhadores da iniciativa privada, de acordo com dados do Banco Central.


João Augusto Sales, analista de bancos da consultoria Lopes Filho & Associados, estimou que a inadimplência de servidores de prefeituras é somente um pouco superior à dos beneficiários do INSS (1,7%), a mais baixa entre todas as modalidades.

“É um bom começo os bancos terem a folha de pagamento também porque a possibilidade de reter essas contas, embora os funcionários tenham a opção de fazer a portabilidade, é muito grande”, explicou. De acordo com Sales, é razoável supor que a Caixa compense os patrocínios só pelo fato de ter conseguido esse “ativo”, que traz mais retornos do que os batimentos fiscais.

A Caixa confirmou, por meio de nota, que, “do ponto de vista negocial”, para avaliação e valoração das propostas foram considerados, dentre outros critérios, a existência da folha de pagamento do Estado ou município no banco.

O Banco Central (BC) informou, em nota, que patrocínios proporcionados por instituições financeiras não é tema regulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão do qual participa.

Já o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) argumentou que só pode se manifestar sobre denúncias de práticas anticompetitivas em procedimentos administrativos oficialmente instaurados. Segundo o órgão, até o momento, não foi recebida nenhuma denúncia nesse sentido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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