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Caderno de esposa de Queiroz tinha contato de Bolsonaro, Michelle e Flávio

Caderno era uma espécie de guia para Márcia caso o marido fosse preso. Agenda também tem contatos de pessoas envolvidas com a milícia e políticos do Rio

Agenda foi apreendida em 2019, quando o MP cumpriu mandados de busca em endereços ligados a Queiroz (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

Agenda foi apreendida em 2019, quando o MP cumpriu mandados de busca em endereços ligados a Queiroz (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de julho de 2020 às 12h36.

Última atualização em 3 de julho de 2020 às 12h51.

Ao pedir a prisão preventiva de Fabrício Queiroz, o Ministério Público do Rio citou três contatos que, anotados à mão numa caderneta, poderiam ajudar a família quando o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) fosse detido. O material apreendido com a mulher dele em dezembro do ano passado, no entanto, não se limita a isso.

Segundo imagens às quais o Estadão teve acesso, Márcia Oliveira de Aguiar tinha nessa agenda-guia números de celulares atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro, ao próprio Flávio, à primeira-dama, Michelle, e a diversas pessoas ligadas à família, além de contatos e anotações sobre policiais, pessoas envolvidas com a milícia e políticos do Rio.

Um desses contatos estaria guardando uma pistola Glock para Queiroz enquanto ele se escondia em São Paulo, segundo anotação de Márcia. A agenda foi apreendida em dezembro de 2019, quando o Ministério Público cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Queiroz. Segundo a investigação, o caderno era uma espécie de guia para Márcia caso o marido fosse preso e ela não estivesse entre os alvos.

Queiroz foi preso no dia 18 de junho em Atibaia, interior de São Paulo, na casa de Frederick Wassef, então advogado de Flávio no caso das "rachadinhas" - apropriação do salário de servidores - na Assembleia Legislativa do Rio. Também alvo de mandado de prisão, Márcia é considerada foragida desde então.

O nome de Queiroz veio à tona em dezembro de 2018, quando o Estadão revelou movimentações financeiras atípicas na conta do ex-assessor.

No pedido de prisão preventiva, a Promotoria mencionou apenas três nomes que poderiam favorecer Queiroz. Mas, no material bruto, há também contatos com comentários que também indicam orientações do marido enquanto estava escondido. Outros - como os telefones atribuídos a Bolsonaro, Flávio e Michelle - não vêm acompanhados de anotações.

A família presidencial compõe parte significativa dos papéis. Numa mesma folha, dois números de Jair e um de Michelle aparecem juntos; noutra, um celular de Flávio e um de sua mulher, Fernanda. Há ainda o contato de Max Guilherme Machado de Moura, ex-segurança e hoje assessor especial do presidente, além do sócio de Flávio na loja de chocolate investigada por suposta lavagem de dinheiro, Alexandre Santini.

Bolsonaro não é - e nem poderia ser, por causa do foro especial - investigado pelo Ministério Público do Rio. Também não há indícios, nas conversas de Márcia no período investigado, de que tenha havido alguma troca de mensagem entre a mulher de Queiroz e o presidente e seus parentes.

Não é possível saber a data exata das anotações, já que eram feitas à mão, mas algumas indicações deixam claro que foram escritas depois da eleição de 2018. Políticos em primeiro mandato na atual legislatura já apareciam ali identificados pelos seus respectivos cargos. É o caso dos deputados estaduais Rodrigo Amorim (PSL) e Marcelo do Seu Dino (PSL), o federal Lourival Gomes (PSL-RJ) e o segundo suplente de Flávio no Senado Léo Rodrigues, hoje secretário de Ciência e Tecnologia do governo Wilson Witzel (PSC).

Entre os contatos, há um coronel identificado como amigo de Queiroz e "braço direito do Bração (sic)", uma possível referência a Domingos Brazão, ex-deputado e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado por suspeitas de corrupção, ou um de seus irmãos - os deputados Pedro e Chiquinho.

O caderno também tem contatos de pessoas ligadas a Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano - que, segundo o MP, se beneficiava da "rachadinha" no gabinete de Flávio - morto em fevereiro. Raimunda, a mãe de Adriano que teve cargo no gabinete de Flávio e também é investigada, mantinha conversas com Márcia, de quem é amiga. Alguns trechos indicam que havia coordenação entre interlocutores de Adriano, então foragido da Justiça desde janeiro de 2019, e de Flávio e Queiroz.

Outra pessoa ligada a Adriano é uma mulher identificada como Andreia, que seria amiga de Raimunda e tem, sob seu nome, a seguinte anotação: "fazer deposto (sic) na conta do Queiroz". Segundo as investigações, "deposto" seria "depósito". Outro pequeno caderno apreendido traz anotações sobre o dinheiro em espécie usado para pagar o tratamento de Queiroz no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Márcia teria recebido R$ 174 mil para as despesas.

Defesa

O deputado Rodrigo Amorim, conhecido na eleição por quebrar a placa de Marielle Franco, afirmou que conheceu Queiroz em 2016, quando foi candidato a vice-prefeito na chapa de Flávio Bolsonaro. "Sempre o vi como um militante aguerrido, um cara que gostava de trabalhar na rua, de abordar o eleitor. Agora, se ele cometeu erros, que responda, dentro da lei e com a ampla defesa a que tem direito."

Léo Rodrigues afirmou que conhece Queiroz porque fizeram campanha juntos, mas que desconhece a existência da agenda de Márcia. "Até o momento ninguém fez contato comigo, mas não me oporia em ajudá-lo caso precisasse, sempre de forma lícita e republicana."

O senador Flávio Bolsonaro, o presidente e a primeira-dama foram procurados, mas até a conclusão desta reportagem não deram resposta. O Estadão não conseguiu contato com os deputados Marcelo do Seu Dino e Lourival Gomes; a família Brazão não respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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