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Brasil usa drones de Tel Aviv para prender traficante

Polícia rastreou o líder de gangue de traficantes durante quase um mês como parte da campanha do Brasil para erradicar a violência nas favelas antes da Copa

Drone: aviação permitiu monitoramento de traficante à noite, longe da vista (AFP)
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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2014 às 15h34.

São Paulo - O oficial de inteligência da Polícia Adriano Barbosa rastreou o líder da gangue de traficantes conhecido como “Menor P” durante quase um mês como parte da campanha do Brasil para erradicar a violência nas favelas do Rio de Janeiro antes do começo da Copa do Mundo hoje.

A inteligência em tempo real sobre o paradeiro de Menor P não vinha de informantes da polícia nem de oficiais secretos. Barbosa contava com uma ferramenta de tecnologia mais avançada para a busca que levou à detenção em 26 de março: um drone Heron com uma câmera com sensores de calor.

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O drone, fabricado pela Israel Aerospace Industries Ltd., permitiu a Barbosa monitorar Menor P de noite, longe da vista e do alcance da voz.

Com mais de 16.000 quilômetros de fronteiras para monitorar e um orçamento de defesa que cresceu quatro vezes mais rápido do que o dos EUA na década passada, o Brasil está se tornando um cliente crucial para Israel, a maior exportadora de drones do mundo. Empresas israelenses como a IAI e a Elbit Systems Ltd. superaram concorrentes globais para obterem contratos do governo compartilhando a tecnologia de drones com o Brasil, que está desenvolvendo sua própria indústria local, pois recorre a aviões não tripulados com vários propósitos, de monitorar a torcida em jogos da Copa a supervisionar cultivos.

“O Brasil quer construir sua própria base industrial de defesa, e em vez de fazer a totalidade da pesquisa e o desenvolvimento sozinho, eles preferem formar parcerias”, disse Michael Blades, analista da empresa de consultoria Frost Sullivan, em entrevista por telefone em 22 de abril de San Antonio. Nesses acordos, “Israel tem sido muito forte e, segundo eu entendo, mostrou-se mais disposto a transferir parte da tecnologia”.

US$72 bilhões

Israel vendeu US$ 4,62 bilhões de sistemas aéreos não tripulados entre 2005 e 2012, quase 10 por cento da indústria de exportação de defesa do país no período, conforme um relatório feito em março de 2013 pela Frost Sullivan. Globalmente, a indústria de drones alcançará US$ 72 bilhões até 2020, segundo Blades.

Há cerca de 50 drones legais em uso com fins civis no Brasil atualmente, e o Exército possui entre cinco e dez, segundo Antônio Castro, consultor no Rio de Janeiro e diretor do comitê de drones da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde).

O gasto das Forças Armadas do Brasil em drones será o 12° maior do mundo até 2020, segundo a Frost Sullivan. Um drone Heron da IAI custaria cerca de US$ 10 milhões, dependendo do tipo de sensor que tiver, disse Blades. A IAI, com sede em Tel Aviv, não quis comentar sobre o preço de um drone Heron.

A Elbit e a IAI, que é estatal, estão lucrando com a estratégia de defesa do Brasil, anunciada em 2008, de mudar capacidade militar da guerra convencional para a vigilância e a proteção de infraestrutura e recursos naturais, particularmente na Amazônia e nas regiões costeiras.

Para a Elbit, com sede em Haifa, Israel, tem sido uma oportunidade de compensar os negócios perdidos com ajustes no orçamento militar dos EUA e da Europa. A companhia está se focando em produtos de nicho e redobrando esforços na América Latina e na Ásia, disse Michael Klahr, analista do Citigroup Inc. em Tel Aviv.

Drones feitos no Brasil

A IAI está negociando seu segundo investimento em uma companhia brasileira para concorrer por mais contratos do governo, disse Henrique Gomes, CEO da unidade brasileira da IAI.

“A ideia é ter um drone feito no Brasil logo”, disse Gomes em resposta por e-mail a questões em 19 de maio.

Os funcionários brasileiros chamam a rede que prendeu Menor P antes da Copa de “pacificação” das favelas. O barão do tráfico virou alvo crucial da polícia à medida que expandiu seu controle da Maré, uma das maiores favelas da cidade.

“Em vez de ter que mandar a polícia à favela, você usa drones em um espaço aéreo controlado”, disse Barbosa. “Isso reduz os riscos”.

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