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Brasil divide-se sobre se Copa é maravilha ou desperdício

A maioria dos brasileiros é cética em relação aos benefícios finais

Mané Garrincha: 3 das 12 cidades-sede não têm equipes de 1ª ou 2ª divisão (Mateus Baeta/ Portal da Copa/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2014 às 14h17.

Brasília - Quando a Copa do Mundo começar hoje, as 12 cidades brasileiras que recebem partidas terão estádios novos ou reformados, centenas de quilômetros de cabos de fibra ótica, cinco terminais de aeroportos e uma dúzia de novos centros de controle para aumentar a vigilância e a segurança pública.

“Missão cumprida”, escreveu a Odebrecht SA, a maior construtora da América Latina, em um banner estampado com o logotipo da empresa, pendurado nas arquibancadas da Arena Corinthians, onde o Brasil enfrentará a Croácia no jogo de abertura.

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Uma semana antes do jogo, assentos temporários ainda estavam sendo colocados após custos extras e a morte de dois operários.

Francisca das Chagas, que passa quatro horas por dia em um ônibus lotado para ir limpar um escritório no centro de Brasília, diz que os US$ 11 bilhões gastos na Copa do Mundo foram desperdiçados.

A opinião dela, compartilhada pela maioria dos brasileiros em uma pesquisa da Pew Research Center, ilustra os sentimentos misturados que emergem no país louco por futebol com a aceleração da inflação, o crescimento lento e os serviços públicos ruins.

“Benefícios? Eu só vejo desperdício”, disse Chagas, 36, em uma entrevista.

A escola de sua filha fechou as portas quatro meses atrás porque não podia pagar os professores. Um centro de saúde comunitário atendeu seu filho só quando sua febre passou de 40 graus e só depois de um dia de espera.

Quando ela olha para o novo estádio da Copa do Mundo em Brasília -- que, a um gasto de US$ 763 milhões, é a segunda instalação de futebol mais cara do mundo por assento --, sua decepção se transforma em raiva.

“Como pode um estádio ser mais importante do que uma escola?”, disse Chagas.

Desde que mais de 1 milhão de brasileiros protestaram, um ano atrás, em parte contra os gastos da Copa do Mundo, o total gasto nas obras dos estádios da Copa do Mundo continuou crescendo e agora está em R$ 8 bilhões (US$ 3,6 bilhões), quase quatro vezes o orçamento inicial de 2007.

Três das 12 cidades-sede -- Brasília, Cuiabá e Manaus -- não têm equipes de primeira ou segunda divisão.

A maioria dos brasileiros é cética em relação aos benefícios finais. Receber a Copa é algo ruim porque tira dinheiro das escolas, da saúde e de outros serviços públicos, segundo 61 por cento dos consultados pelo Pew Research Center.

A consulta a 1.003 pessoas, entre 10 e 30 de abril, teve uma margem de erro de 3,8 pontos porcentuais para mais ou para menos.

A presidente Dilma Rousseff defendeu investimentos públicos na Copa do Mundo dizendo que o evento beneficiaria os brasileiros nos próximos anos e que os gastos com saúde e educação foram muito maiores do que os do evento esportivo.

Vale o esforço

“O resultado e a celebração final valem o esforço”, disse ela, nesta semana, em um pronunciamento televisionado à nação. “O Brasil venceu os principais obstáculos e está preparado para a Copa, dentro e fora do campo”.

As cidades que optaram por sistemas de transporte mais complexos e baseados em trens fizeram menos progresso do que aquelas que escolheram sistemas mais baratos e simples baseados em ônibus, disse Jaime Kuck, chefe do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Manaus, cidade onde a explosão de vendas de carros tornou o trânsito, que agora rasteja por suas principais avenidas, muito mais lento.

Os planos para um veículo leve sobre trilhos foram cancelados por causa da preocupação de dano a lugares históricos. Um sistema de transporte rápido de ônibus foi suspenso por causa da falta de recursos e de tempo.

O gabinete de Dilma e o do prefeito de Manaus não responderam aos e-mails com pedidos de comentário.

Alguns brasileiros deixarão para julgar os custos e benefícios de receber a Copa para depois dos jogos.

“Assim que o hino nacional brasileiro começar e a bola começar a rolar, todos no Brasil apoiarão a seleção”, disse Flávio Augusto Guimarães, um engraxate que trabalha em frente à Bolsa de Valores de São Paulo. “O futebol corre nas nossas veias”.

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