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Brasil atrasou epidemia mas deve sofrer colapso como Itália, Espanha e EUA

São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Amazonas já preveem lotação máxima de hospitais: "as próximas semanas são de caos", diz diretor de hospital da UFRJ

Coronavírus: velocidade de propagação da doença traz futuro dramático para o sistema de saúde do país (Bruno Kelly/Reuters)
CC

Clara Cerioni

Publicado em 18 de abril de 2020 às 08h00.

Última atualização em 20 de abril de 2020 às 14h51.

As medidas de isolamento social impostas em boa parte dos estados brasileiros quando ainda havia poucos casos confirmados do novo coronavírus se mostraram eficientes para atrasar a propagação da infecção, mas o relaxamento da quarentena ameaça antecipar um colapso nos sistemas de saúde de diversas cidades do país.

O colapso se consolida quando a capacidade de internação hospitalar nos hospitais públicos chega ao limite. Estratégias como ampliar leitos de UTI, construir hospitais de campanha, transferir pacientes para outras cidades e assumir o controle de leitos de hospitais públicos têm sido feitas no país.

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Segundo Alberto Chebabo, diretor médico do hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos centros de referência para tratar a covid-19 no estado, na última semanao número de pacientes aumentou exponencialmente e a projeção é que as duas próximas semanas sejam de "caos completo".

O retrato, avalia, é bem parecido com o visto na Itália, na Espanha e também nos Estados Unidos, que tiveram o primeiro registro duas semanas antes do Brasil, em 15 de fevereiro. "A gente conseguiu atrasar o caos inicial, mas as medidas agora estão caindo por terra no momento em que seria de endurecer o isolamento", diz em entrevista à EXAME.

Cauteloso em comparar o número de casos confirmados entre países, Chebabo explica que há uma imensa subnotificação e falta de transparência nos testes realizados, o que impede a população brasileira de saber o verdadeiro cenário da doença.

Dos países mais afetados, o Brasil é um dos que menos estão testando a população. São 296 testes a cada um milhão de habitantes, ao passo que a Itália registra 20 mil testes a cada milhão, a Espanha, 19 mil testes a cada milhão e os EUA, 10 mil testes por milhão.

Uma projeção do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, avaliou que os registros oficiais da doença no Brasil representam apenas 8% do número real de casos. Segundo os dados coletados pelos pesquisadores,os índices verdadeiros seriam até 12 vezes superiores.

"Não precisa comparar número. A gente vê a velocidade da curva subindo cada vez mais rápido, não só nos números, que triplicam a cada dia, mas nos hospitais, que estão cada vez mais lotados", afirma Chebabo.

Essa lógica pode ser entendida em um gráfico comparando o acréscimo de casos dia a dia do Brasil, Itália e Espanha. Depois que os países passaram da marca dos dez mil casos confirmados, o crescimento passou a ser exponencial.

O Brasil, que tem duas semanas a menos de vírus circulando, desenha o mesmo caminho. Em menos de uma semana, o país duplicou o número de óbitos, de mil na última sexta-feira, 10, para 2 mil nesta sexta-feira, 17. Os Estados Unidos seguem na mesma lógica, mas não foram incluídos no gráfico a seguir para fins de visualização, uma vez que o país já registra 700 mil infectados.

Caos no sistema público

Com a curva ascendente, o principal desafio para o sistema de saúde é atender a necessidade de leitos de internação. Ao contrário de outras síndromes respiratórias, a covid-19 pode manter um paciente em estado grave durante 14 dias, com isso reduzindo a possibilidade de rotação das camas hospitalares.

O infectologista Alberto Chebabo está na linha de frente da operação que vai ampliar de 12 para 70 os leitos destinados a pacientes com covid-19 no hospital da UFRJ. Em sua avaliação, "esse número [de leitos] para o Rio de Janeiro é uma gota". O estado carioca, que tem mais de 4 mil infectados e 341 óbitos, já tem ao menos 74% dos leitos de UTI ocupados, segundo informações mais recentes.

Já São Paulo, que registra 12,8 mil casos confirmados e 928 mortes, tem pelo menos sete hospitais da capital operando com a capacidade de leitos de UTI acima dos 70%. Nesta sexta, um dos mais importantes para o tratamento, o hospital Emilio Ribas, chegou ao colapso ao completar o uso de todas as suas 30 vagas.

Essa, inclusive, foi a semana com o maior número de óbitos em SP: 320 novas mortes desde a segunda-feira, 13, o que representa uma morte a cada meia hora, em média.

A situação no Ceará é mais dramática. Com 2,6 mil casos confirmados e 149 mortes, nessa semana, o sistema inteiro de saúde colapsou atingindo 100% das vagas de UTI preenchidas.A explicação do governo para a falta de UTIs é que as pessoas estão chegando aos hospitais em situação muito grave, tendo de ser encaminhadas diretamente para UTIs.

No Amazonas, que tem 1,8 mil pacientes confirmados com a doença e 145 mortes, não háleitos de UTI, respiradores, nem recursos humanos. O governo está equipando as unidades hospitalares do estado, lotadas de infectados, com contêineres frigoríficos para acondicionamento de corpos das vítimas.

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