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Brasil acusa França de barrar acesso a comitê de clima da OCDE

"Veto francês teve motivações essencialmente políticas, a despeito das plenas condições técnicas do Brasil na área ambiental”, diz o Itamaraty

Macron e Bolsonaro: relação conflituosa (Frederico Mellado/ARG/Flickr)

João Pedro Caleiro

Publicado em 8 de outubro de 2019 às 16h42.

Última atualização em 8 de outubro de 2019 às 17h06.

O governo brasileiro acusa a França de bloquear sua entrada no comitê do clima da Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE ), semanas depois dos presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron trocaram ofensas publicamente em meio aos incêndios na Amazônia.

No mês passado, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) esteve na sede da OCDE, em Paris, para uma reunião com os 36 países integrantes do órgão para pleitear o ingresso como “participante” ao comitê ambiental, processo iniciado há dois anos.

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O status de participante supõe envolvimento ativo dentro do órgão nas discussões sobre o tema e é o último estágio antes do acesso pleno a este colegiado.

Após a apresentação, segundo relatos de dois participantes da reunião, Salles foi convidado a deixar a sala para que as delegações pudessem deliberar. Quando voltou, foi informado de que os representantes precisariam de mais tempo para analisar a candidatura do Brasil.

Dentro da sala, a França disse não se sentir confortável com a entrada do Brasil num momento em que há crescimento do desmatamento na Amazônia.

Como as decisões devem ser por consenso, o Brasil acabou barrado e foi marcada nova rodada de discussão em abril de 2020, segundo uma autoridade brasileira com conhecimento direto do assunto.

Uma das pessoas que estava na reunião afirmou que o pedido do Brasil não era convincente neste momento, o que levou a diretoria a concordar em retomar as discussões no próximo ano.

“A decisão de postergar a consideração de nosso pleito deveu-se ao veto de um único país: a França”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores, por meio de nota.

“A decisão de impedir o aprofundamento das relações do Brasil com a OCDE em nada contribui para a causa ambiental mundial. Muito pelo contrário. Deduz-se que o veto francês teve motivações essencialmente políticas, a despeito das plenas condições técnicas do Brasil na área ambiental, demonstradas pelo Ministro Ricardo Salles e amplamente reconhecidas pelos países presentes”, conclui o MRE.

O Ministério das Relações Exteriores da França foi procurado pela reportagem mas não respondeu a reiterados pedidos de comentário.

Em comunicado, um porta-voz da OCDE disse que o Comitê de Política Ambiental “está examinando uma solicitação do Brasil para se tornar um participante do comitê e aderir a certos instrumentos da OCDE no campo do meio ambiente, e continuará a se envolver com o Brasil nisso nos próximos semanas e meses”.

Desde 2017, o Brasil busca preencher uma série de requisitos para acessar a OCDE, em busca do status que a entidade garante junto a grandes investidores.

Embora o processo de afiliação plena ao órgão e a tentativa frustrada de ingressar ao comitê do clima sigam caminhos paralelos, consolidou-se um clima ruim entre Brasil e França com potencial de atrapalhar o processo de acesso brasileiro à OCDE, disse uma alta fonte do governo Bolsonaro a par das negociações.

O veto marca a mais recente crise nas relações entre o Brasil e o país europeu sobre as políticas ambientais do presidente Jair Bolsonaro. Emmanuel Macron ameaçou cancelar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia firmado em julho passado após imagens das queimadas na Amazônia rodarem o mundo.

Macron alegou que Bolsonaro mentiu a ele durante reunião bilateral no G-7 sobre os compromissos do Brasil com as mudanças climáticas.

Bolsonaro reagiu dizendo que Macron enfrenta dificuldades políticas na França e que tenta violar a soberania brasileira. A briga se tornou pessoal quando Bolsonaro retweetou críticas de um apoiador à aparência da primeira-dama francesa, Brigitte Macron.

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