Bolsonaro tenta impor troca na PF, e Moro pode deixar governo
É a segunda vez que o presidente ameaça trocar o comando da Polícia Federal, atualmente ocupado por Maurício Valeixo
Clara Cerioni
Publicado em 23 de abril de 2020 às 15h25.
Última atualização em 24 de abril de 2020 às 16h54.
O ministro da Justiça, Sergio Moro , avisou que pretende deixar o governo após o presidente Jair Bolsonaro comunicá-lo que trocará o comando da Polícia Federal, atualmente ocupado por Maurício Valeixo. É a segunda vez que o presidente ameaça impor um novo nome na cúpula da corporação.
A assessoria de imprensa do ministério, no entanto, diz que o titular da Justiça não pediu demissão do cargo.
Valeixo foi escolhido por Moro para o cargo no início do ano passado. O delegado comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) da PF e foi Superintendente da corporação no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado pelo ministro, ex-juiz da Operação, para assumir a diretoria-geral.
Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe.
Interlocutores de Valeixo dizem que essa nova tentativa de substituí-lo ocorre desde o início deste ano, mas não tem relação com acontecimentos de agosto do ano passado, quando Bolsonaro tentou pela primeira vez trocá-lo por outro nome.
Na ocasião, o presidente teve que recuar diante da repercussão negativa que a interferência no órgão de investigação poderia gerar.
Aliados de Moro afirmaram que o ministro não vai aceitar a troca de Valeixo nas condições que o presidente está colocando, de "cima para baixo".
Crise anterior
No ano passado, após Bolsonaro antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, Ricardo Saad, ministro e presidente travaram uma queda de braço pelo comando da PF.
Em agosto, o presidente antecipou o anúncio da saída de Saadi do cargo, justificando que seria uma mudança por "produtividade" e que haveria "problemas" na superintendência.
A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha "qualquer relação com desempenho".
Saadi era o coordenador de várias frentes de investigação de lavagem de dinheiro, como por exemplo, a que levou à prisão o ex-presidente Michel Temer.
Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que "quem manda é ele" e que, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.
A tensão voltou a se repetir no início deste ano, quando o presidente ameaçou separar a pasta da Segurança Pública, que comanda a PF, do Ministério da Justiça, o que abriu uma nova crise entre Bolsonaro e Moro, um dos ministros mais populares do governo.
No entanto, auxiliares do governo aconselharam o presidente a não tomar essa iniciativa, uma vez que isso poderia impactar profundamente sua popularidade.