Bolsonaro é o presidente com mais vetos derrubados pelo Congresso
Desde que assumiu o governo, em janeiro do ano passado, Bolsonaro teve 24 decisões revertidas pelos parlamentares
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de agosto de 2020 às 13h26.
Última atualização em 14 de agosto de 2020 às 13h42.
Jair Bolsonaro se tornou, na quarta-feira, 13, o presidente da República com mais derrotas em votações de vetos no Congresso. Desde que assumiu o governo, em janeiro do ano passado, Bolsonaro teve 24 decisões revertidas pelos parlamentares, o que corresponde a um terço do total de projetos barrados pelo presidente e analisados pelo Legislativo no período.
O número é maior do que a soma de todos os reveses sofridos pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, que permaneceram oito anos na Presidência.
Na sessão da quarta, foram derrubados cinco vetos de Bolsonaro a projetos aprovados pelos parlamentares, como o que ampliou a isenção de impostos para a indústria cinematográfica e o que abriu crédito a produtores rurais.
Nas próximas semanas, os congressistas também preveem reverter as decisões do presidente de não prorrogar a desoneração da folha salarial de empresas e de barrar trechos do novo marco do saneamento básico. O governo já havia sofrido derrotas na Lei de Abuso de Autoridade e no aumento do fundo eleitoral.
O veto é a discordância do presidente da República a projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Na prática pode ter alguma justificativa jurídica, quando o texto é classificado como inconstitucional, ou política, sob a alegação de que a proposta fere o interesse público. Cabe ao Congresso dar a palavra final. Cada veto pode trazer a rejeição do presidente à íntegra ou apenas a algum trecho de um projeto.
"Na elaboração de leis, quem dá a última palavra sempre é o Congresso, 'derrubando' possíveis vetos. Não posso sempre dizer não ao Parlamento, pois estaria fechando as portas para qualquer entendimento", escreveu Bolsonaro no fim do ano passado, após sancionar a maior parte do projeto anticrime. Os itens barrados devem ser analisados na semana que vem pelos parlamentares.
Articulação
O número alto de vetos de Bolsonaro derrubados pelo Congresso levantado pelo Estadão/Broadcast evidencia a falta de articulação política por parte do Palácio do Planalto. Nos bastidores, congressistas acusam o governo federal de descumprir os acordos.
A comparação com governos anteriores mostra que a derrubada de um veto presidencial era algo raro. Na gestão Lula (PT), por exemplo, foram derrubados apenas dois dos 357 itens vetados (0,56%). Até então, Michel Temer (MDB), que ficou pouco mais de dois anos no cargo, era o presidente que mais registrava derrotas deste tipo, com 21 reveses (16,4% do total).
Nem mesmo presidentes que enfrentaram processos de impeachment foram tão contrariados. Dilma Rousseff (PT) teve sete vetos derrubados (2,64%) e Fernando Collor (hoje no Pros), seis (3,73%). Itamar Franco perdeu em apenas uma ocasião (1,03%).
A sessão de vetos realizada na quarta-feira foi a primeira após a aproximação entre Bolsonaro e líderes do Centrão, no início do ano.
Sem votos suficientes para manter todos os vetos, o governo fechou um acordo e abriu mão de cinco propostas recuperadas pelo Congresso na votação. Por outro lado, evitou um prejuízo maior e conseguiu barrar a ampliação do Benefício de Prestação Continuada (BPC) — o impacto fiscal com a derrubada desse veto seria de 20 bilhões de reais em 2021, segundo o Ministério da Economia.
Na avaliação de parlamentares, os acordos do governo com o Centrão não são suficientes, mas diminuem as derrotas. O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), admitiu falhas na articulação ao falar, na sessão de quarta, que os últimos vetos foram negociados sem a participação de todos os líderes, e minimizou as derrotas do Planalto.
"O governo se sente prestigiado, atendeu a oposição em uma votação em que todos aprenderam o exercício da convergência, mesmo que temporária", afirmou o senador.
Troca
Para tentar construir uma base aliada que evite novas derrotas, o governo decidiu substituir seu líder na Câmara, alvo de críticas desde o ano passado. Saiu Major Vitor Hugo (PSL-GO), deputado de primeiro mandato e considerado inábil por líderes partidários, para dar lugar ao experiente Ricardo Barros (Progressistas-PR), tratado nos bastidores como um "profissional da liderança".
Deputado desde 1995, Barros já ocupou a mesma função com Fernando Henrique Cardoso, foi vice-líder no governo Lula e ministro da Saúde do governo Michel Temer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.