Bolsonaro diz lamentar aprovar Previdência e compara com bronca no filho
"Se não mexer, é igual de vez em quando ter de dar uma dura no moleque em casa. Mesmo dado dura, às vezes, sai coisa errada lá na frente”, disse
João Pedro Caleiro
Publicado em 2 de outubro de 2019 às 10h50.
Última atualização em 2 de outubro de 2019 às 11h18.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (02) que a aprovação da reforma da Previdência é necessária para evitar que o Brasil quebre em dois anos e sinaliza que o país está fazendo o dever de casa.
O Senado Federal aprovou o texto-base da proposta em primeiro turno, mas impondo uma derrota ao governo ao rejeitar mudanças no abono salarial.
"A reforma é necessária. Se não fizer, quebra o Brasil em dois anos. Lamento, você tem que aprovar, não tinha como. É uma maneira que nós temos de dar um sinal de que estamos fazendo o dever de casa", disse Bolsonaro a apoiadores ao sair do Palácio da Alvorada, de acordo com vídeo divulgado no Facebook do presidente.
A proposta foi enviada ao Congresso em fevereiro pela equipe econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, e é considerada a pauta prioritária para o governo neste ano.
"Não tem plano B nem para mim nem para ninguém que estivesse no meu lugar, os outros governos tentaram fazer, mas não conseguiram. É uma realidade, gostaria de não ter de mexer em muita coisa. Mas senão mexer, é igual de vez em quando ter de dar uma dura no moleque em casa. Mesmo dado dura, às vezes, sai coisa errada lá na frente”, disse.
Bolsonaro não comentou a derrota sofrida pelo governo com a aprovação pelo Senado de um destaque que derrubou novas regras mais rígidas sobre o abono salarial e diminuiu a economia prevista com a reforma em 76,4 bilhões de reais em 10 anos.
Os senadores adiaram a conclusão da votação em primeiro turno após a aprovação do destaque, e vão se reunir novamente nesta quarta-feira a partir das 11h para continuar a análise de destaques.
Além dos destaques ainda pendentes, também não há definição sobre a votação da reforma em segundo turno no Senado, depois de senadores reclamarem do fato de o governo não ter cumprido compromissos assumidos com os parlamentares.
Provocado por simpatizantes que disseram ter um canal de direita, Bolsonaro voltou a falar de adversários na esquerda:
"Grande parte são pessoas que foram doutrinadas. Não é nem má-fé, foram doutrinadas. Acham que aquilo está certo. E está com a cabeça poluída em certos conceitos”, disse.
Os encontros do presidente com pessoas que o esperam na porta do Alvorada têm se tornado rotina. Na semana passada, um apoiador disse que o amava, tirou uma foto com ele e pediu ajuda, mas sem especificar.
"Só pelo bafo, não vai ter emprego", comentou o presidente com seu segurança particular, e deu risada.
(Com Pedro Fonseca, da Reuters, no Rio de Janeiro)